Atualizada em 26/08/2017 às 17h, para acréscimo de informação
A maior universidade pública do país, a Universidade de São Paulo (USP), passa por um desmonte na educação de qualidade. Foi aberto, recentemente, um processo seletivo para contratação de professores temporários que, em alguns institutos, como é o caso da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), receberão 25 reais por hora/aula, com carga semanal de oito horas.
O professor Rodrigo Ricupero, do Departamento de História e presidente da Adusp, a Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo, comenta que "o problema da contratação de professores deixa de ser um problema acadêmico e passa a ser gerido pela política de orçamento. Um professor temporário ganha 20% menos do que ganha um professor doutor, com dedicação exclusiva, no começo da carreira".
Ricupero considera que esse tipo de medida deve ser "emergencial" e diz que ela trará prejuízos à universidade caso seja adotada de forma corriqueira, não levando em conta que o professor também deve ser um pesquisador.
Os professores temporários contratados vão lecionar matérias obrigatórias em mais de 30 institutos da USP. Os candidatos — mestres e doutores — poderão dar aulas por um ano, renovável por mais um.
O estudante Pedro Freitas, doutorando do programa de Relações Internacionais da USP, comenta que a medida é parte de um contexto mais amplo: "Esse processo de contratação emergencial de professores deve ser entendido dentro de um contexto de sucateamento da universidade pública, seja em âmbito federal, com inúmeras medidas tomadas pelo governo golpista, seja no âmbito estadual".
Já o estudante de matemática do Instituto de Matemática e Estatística (IME) Uriel Engel Piffer, membro do Diretório Central dos Estudantes (DCE), critica o que, em sua visão, é uma forma de precarizar o serviço dos professores. Ele compara o concurso atual com a política do Governo do Estado de São Paulo, comandado por Geraldo Alckmin (PSDB), que tem a chamada "categoria O", de professores temporários.
"Vão subdividir as categorias de professores, nas quais vão continuar existindo aqueles professores catedráticos, que estão na USP há muito tempo, titulares que recebem bem e uma categoria periférica de professores, que não vão ser vistos pela sociedade como professores da USP, mas sim como quase uma subcategoria que recebe mal, que fica submissa à comissão de avaliação", comenta Piffer.
Em 2014, o reitor da Universidade de São Paulo, Marco Antônio Zago, admitiu que a universidade passava por grave crise econômica e suspendeu, desde então, concursos para docentes. Questionada, a reitoria da USP não retornou o contato da reportagem para esclarecer a situação.
Edição: Vanessa Martina Silva