Medicina

Livro mostra histórias de profissionais do "Mais Médicos" e pacientes pelo Brasil

"Branco Vivo" foi escrito por Antonio Lino e tem fotografias de Araquém Alcântara

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Médico cubano Sael Castelo Caballero em Serra da Guiam, sertão sergipano, com uma de suas pacientes
Médico cubano Sael Castelo Caballero em Serra da Guiam, sertão sergipano, com uma de suas pacientes - Araquém Alcântara

As relações humanas entre profissionais de saúde do programa federal "Mais Médicos" e pacientes de comunidades marginalizadas das cinco regiões do Brasil preenchem as páginas do livro "Branco Vivo". 

Antônio Lino, escritor da obra, faz uso das palavras, enquanto o reconhecido fotógrafo brasileiro Araquém Alcântara traz a narrativa através de imagens.  

Em conversa com o Brasil de Fato, Lino fala da experiência de retratar as diferentes histórias proporcionadas pelo programa federal, implementado pela ex-presidenta Dilma Rousseff em julho de 2013. 

"Eu conto essa história não só do trabalho dos médicos nas aldeias, mas - e acho que isso está presente no livro todo - tento construir também um contexto histórico, político e cultural sobre o que está acontecendo nessas regiões. Não deixa de ser, de certa forma, um elogio ao programa, porque são histórias que mostram a diferença que faz o provimento de médicos em localidades que antes não tinham acesso a serviços de saúde que eles oferecem", disse o escritor.

O próprio nome do livro da Editora Elefante faz referência àquilo que o escritor encontrou em suas viagens pelo Brasil: a medicina humanizada. "Branco Vivo" faz referência aos jalecos brancos usados pelos profissionais da medicina. 

Ao longo de nove capítulos, é possível saborear histórias que Lino descobriu ao adentrar aldeias indígenas, comunidades quilombolas, assentamentos rurais e periferias, ao lado dos médicos e médicas em visitas domiciliares.  

"No Vale do Jequitinhonha eu lembro a relação de uma médica, na zona rural de um pequeno município, atendendo dois irmãos que sofrem de paralisia cerebral fazendo uma visita domiciliar e essas coisas me tocavam muito. Sem aquele médico aqui, como é que podia ser o atendimento a essas crianças que têm demandas constantes de saúde, que têm que ir para o centro da cidade ou para outra cidade muitas vezes em busca de tratamento? Ver uma médica entrando no quarto deles e dando um atendimento personalizado, acompanhando o caso deles, não tem como passar batido", contou Lino.

O autor conta que essas experiências também transformaram sua própria visão do Brasil. "São muitos sentimentos misturados. Acho que em um momento de extremo desencanto com os rumos do país, com a política, foi uma viagem que me ajudou a me reconectar com o país e, especialmente, com pessoas, comunidades que, em momentos como esse que a gente está vivendo de crise econômica são os primeiros que sofrem as consequências." 

Ele completa: "Por outro lado também é um sentimento incômodo de ver várias políticas públicas desarticuladas, vários retrocessos na área social, ambiental, e como isso já tem impacto direto para quem depende da agricultura, da pesca. É uma mistura de sentimentos: de reencanto e desalento, que acho que escrever sobre isso, de alguma forma, me ajudou a digerir e transformar isso em alguma coisa que eu coloquei no Branco Vivo."

Essas histórias, ganharam cores e formatos com o registro fotográfico de Araquém Alcântara. Parte das fotos também estão no livro chamado "Mais Médicos", lançado por ele em 2015, com o apoio do governo federal. Araquém percorreu 38 cidades de 20 estados brasileiros capturando a dimensão humana do projeto. 

O fotógrafo diz que colocar suas fotos em Branco Vivo foi a forma encontrada para não deixar que esse material histórico se perdesse: "Eu fiz um livro que virou um best-seller e morreu por conta das mudanças do ministério. Mudou de ministro [da Saúde], mudou de política, entrou o Temer."

Edição: Camila Salmazio