A Companhia Os Crespos foi fundada em 2005 por um grupo da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (USP), sob a compreensão de que o teatro negro não recebe o devido reconhecimento no Brasil e de que é necessário, portanto, trazer para o campo das artes dramáticas as questões de raça e negritude.
O grupo tem como eixo central de seus espetáculos o corpo negro como protagonista da cena. O trabalho começou quando um conjunto de estudantes negros se encontrou na universidade, como conta Lucélia Sergio, atriz e cofundadora da Companhia: "Quando a gente estava na Escola de Arte Dramática, a gente reparou que muitas das turmas tinham pouquíssimos alunos negros, até que entraram 5 alunos negros numa mesma turma, de 20 pessoas. Então a gente começou a estudar o que isso significava naquele momento histórico, de 12 anos atrás, e o que era a imagem do negro no teatro brasileiro, como isso se dava, quais os papéis tinham."
Após anos de trajetória, Os Crespos viram a necessidade de produzir uma publicação sobre a cena negra do teatro. Foi assim que nasceu a revista Legítima Defesa. A publicação, criada em 2014, terá seu segundo número lançado na próxima quarta-feira no Sesc Belenzinho, em São Paulo.
Lucélia explica que a publicação surge de uma demanda histórica do teatro negro: "Há muito tempo a gente queria fazer um trabalho, uma revista, um fanzine, um jornal, alguma coisa desse tipo que permitisse dar maior visibilidade para as produções de teatro negro e conseguisse também elaborar uma crítica sobre esse teatro".
Outro ponto destacado por ela é a falta de críticos de arte que avaliassem a produção negra e a demanda não suprida por divulgação das peças: "Então a gente faz parte desse cenário cultural mas, apesar disso, os críticos não vão assistir aos espetáculos. Então a gente pensou em construir uma crítica para os espetáculos, que a gente conseguisse discutir a nossa própria criação, e que a gente conseguisse também trocar informações entre os estados dos espetáculos que estavam sendo criados", conta a atriz.
Com o lançamento da revista Legítima Defesa, o grupo também vai levar ao público uma programação cultural que envolve mesa de debates sobre o percurso do Teatro Negro no Brasil, shows musicais com convidados e intervenção artística da Companhia Os Crespos.
Confira a programação completa:
Data: 30/08
Local: Sesc Belenzinho, Rua Padre Adelino, 1000 - 3º andar
Telefone para informações: 11 - 2076-9700
Das 15h às 17h
Mesa de debate: Memória e Ativismo - A história do Teatro Negro e a cena contemporânea.
A mesa propõe o aprofundamento dos temas discutidos na revista com relação ao percurso histórico e ao impacto social e artístico desse teatro durante sua existência, desde 1920. Abordando sua relação com o teatro tradicional e as estratégias de reconhecimento e inscrição artística. Expondo uma perspectiva histórica e contemporânea com a Cia Os Crespos e Leda Maria Martins.
Debatedora – Leda Maria Martins: Poeta, ensaísta, dramaturga e pesquisadora da cultura Negra brasileira. Professora na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG. Suas principais obras são: O Moderno teatro de Quorpo Santo, 1991; A Cena em Sombras, 1995; Afrografias da memória: O Reinado do rosário no Jatobá, 1997
Debatedora - Lucelia Sergio (Os Crespos): Atriz, diretora, pesquisadora de estética negra e arte-educadora especializada em relações étnico-raciais. Co-fundadora da Cia Os Crespos e co-criadora da Revista Legítima Defesa.
Mediador: Sidney Santiago Kuanza (Os Crespos): ator, pesquisador de Teatro Negro e produtor. Co-fundador da Cia Os Crespos e do Coletivo Homens de Cor e, também, co-criador da Revista Legítima Defesa.
19h00
Intervenção Os Crespos com cenas de sua última montagem "Alguma Coisa a Ver com uma Missão", inspirado no célebre texto "A Missão" de Heiner Müller.O texto convida o espectador para acompanhar a viagem mística de uma auxiliar de enfermagem e uma gari pelo passado. Elas visitam alguns episódios de revoluções negras no Brasil e na América Latina.
19h30
Abertura do evento e pocket show Dani Nega e Craca. O músico e a MC levam aos palcos seu manifesto musical poético, político e dançante. Craca e Dani Nega fazem a fusão do rap, como palavra falada, com o eletrônico multicultural e experimental. O encaixe surpreendente aconteceu por razões musicais, mas também pelas convicções em comum, o clamor por justiça e anseio por transformações sociais. O som vem acompanhado por projeções de imagens, que cuidadosamente completam a narrativa de denúncias, reflexões e provocações. Craca é incorporado por Felipe Julián, músico, produtor musical e artista visual.
20h10
Apresentação do segundo número da Legítima Defesa e distribuição dos exemplares
20h45
Pocket show Vitor da Trindade e banda. O artista está lançando seu primeiro disco solo, OSSÉ. Composto quase que integralmente, sobre a poesia de Solano Trindade, traz ritmos que refletem a experiência multi cultural do artista dentro da música. Cantor, compositor, percussionista e arte educador, Vitor atua há trinta e cinco anos profissionalmente na música brasileira.
21h30
Encerramento do evento
Edição: Vanessa Martina Silva