Despreparo de profissionais da saúde é uma das causas da oferta de fórmulas para bebês, diz especialista
O período de amamentação é determinante para saúde dos bebês. Além dos componentes nutricionais do leite materno, o ato de amamentar é um momento de troca afetiva entre a mãe e a criança, essencial para o fortalecimento do vínculo entre eles, após o parto.
Este ano, o governo federal instituiu o Agosto Dourado, como mês do aleitamento materno, para reafirmar todos os benefícios que essa prática traz, tanto para a mãe quanto para a criança. A Organização Mundial da Saúde recomenda a amamentação de forma exclusiva nos seis primeiros meses de vida do bebê e combinada com outros alimentos até os dois anos.
No entanto, há um obstáculo para que esse exercício tenha cada vez mais adesão: é o leite artificial.
De acordo com o pediatra Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá, o despreparo de profissionais da saúde com relação a amamentação é uma das causas da oferta de fórmulas para bebês. "Não é porque o profissional trabalha com mães e bebês que ele é habilitado em ajudar com problemas de aleitamento materno. Eu acho que a grande questão é essa, falta gente com capacidade técnica de ajudar as mulheres nas dificuldades de amamentação. E aí prescrições de fórmulas ficam muito frequentes né, quando tem alguma dificuldade em ganho do peso das crianças ou dificuldade mesmo em relação à amamentação", afirmou o especialista.
Os pediatras, muitas vezes, são patrocinados pelas indústrias do leite artificial e o recomendam arbitrariamente a suas pacientes.
Cacá afirma que, apesar dos esforços dessa indústria, a fórmula sintética nunca vai se comparar ao leite materno. "O aleitamento materno é incomparavelmente melhor. Não vai ter nenhuma fórmula, nenhuma marca, que vai chegar perto do leite materno como qualidade de alimento e como qualidade de proteção imunológica. Como diz uma pediatra amiga minha, é padrão ouro de alimentação, o que não for padrão ouro de alimentação, em se tratando de bebês menores de 6 meses, não vale a pena".
O pediatra afirmou ainda que o surgimento de alergias, que aparecem com cada vez mais frequência nas crianças, principalmente nas populações urbanas, podem estar associadas à introdução precoce de outros alimentos que não sejam o leite materno.
Outro malefício do consumo do leite artificial é a maior propensão a doenças, uma vez que a imunidade da criança não será contemplada da maneira que seria com a ingestão do leite materno. Além de gastroenterite aguda, otite, infecção respiratória baixa, anemias e má-oclusão dentária, a ausência do leite materno na dieta dos bebês pode acarretar na mortalidade.
O Brasil tem realizado diversas campanhas de saúde pública visando defender e difundir a prática da amamentação exclusiva, para crianças até 6 meses de idade. Os resultados já começam a aparecer. De acordo com um estudo publicado em 2016 pela revista inglesa The Lancet, especializada em assuntos da área de saúde, o Brasil é referência mundial em aleitamento materno: 50% das crianças brasileiras são amamentadas até o primeiro ano de idade. O levantamento analisou 153 países, e o Brasil aparece à frente da China, dos Estados Unidos e o Reino Unido. Apenas 38% das crianças do mundo são amamentadas exclusivamente, conforme recomenda a Organização Mundial da Saúde.
Edição: Camila Salmazio