Lava Jato

Artigo | Por que José Dirceu resiste?

Tribunal Regional Federal da 4ª Região revisou sentença do ex-ministro para 41 anos, 4 meses e 15 dias de prisão

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Dirceu foi condenado a 20 anos, em primeira instância, pelo juiz Sergio Moro, no âmbito da Lava Jato
Dirceu foi condenado a 20 anos, em primeira instância, pelo juiz Sergio Moro, no âmbito da Lava Jato - Reprodução

Ele sabe que voltará à cadeia e que permanecerá preso até o derradeiro de seus dias, a não ser que o STJ ou o STF ponham fim ao caos jurídico instalado pela Operação Lava Jato. Ou que haja uma grande mudança política no país.

Também tem plena consciência que sua prisão perpétua, acompanhada pela de Lula, é o objetivo final da aliança entre setores da tecnocracia judicial, a mídia monopolista, os partidos de direita e o grande capital.

Quando esse processo draconiano se encerrar, por absolvição ou delação, por casuísmo, acordo ou cumprimento parcial de pena, provavelmente todos os demais réus e suspeitos estarão livres.

Talvez falte coragem para prender o ex-presidente. Mas José Dirceu é o troféu do qual as forças mais reacionárias não podem abrir mão.

Seu encarceramento indefinido, da forma mais brutal e indigna, tem o valor simbólico do encurralamento e destruição da esquerda brasileira, da geração resistente e do Partido dos Trabalhadores.

E exatamente porque tem plena consciência do que está em jogo, o ex-presidente nacional do PT resiste.

Não inventa mentiras e não trai.

Não capitula nem esmorece.

Não abandona a luta política, ocupando seu lugar do jeito que é possível, ainda que nas piores condições.

Como já ocorreu em outros momentos de sua geração, Dirceu sabe que seu sacrifício, por mais cruel e doloroso que seja, é uma obrigação ideológica e política para manter elevadas a moral e a esperança das fileiras que dirigiu por décadas.

Se vergasse ou quebrasse, rasgaria sua biografia e levaria milhares, muitos milhares de lutadores e lutadoras ao mais profundo desânimo.

Por isso resiste.

Por sua história pessoal, construída desde a luta revolucionária nos anos 1960, e a memória de tantos companheiros seus tombados em combate.

Por compromisso em derrotar moralmente seus algozes e os do povo brasileiro, que são os mesmos.

Por dever histórico de jamais decepcionar ou frustar a combativa militância que dá vida à esquerda brasileira.

Por sua esperança de que melhores dias virão, e por isso vale a pena lutar.

Por convicção de que seu comportamento frente à escalada repressiva faz parte dos esforços para a realização dessa esperança.

Não importa o quanto elevem sua pena ou quantas vezes mais o condenem, em um espetáculo de perseguição e injustiça, Dirceu irá resistir.

Seus companheiros sabem disso.

O povo brasileiro sabe disso.

Mais que todos, seus inimigos sabem disso e por essa razão exibem tanta fúria, esse sentimento tão próximo ao desespero dos que serão, mais cedo ou mais tarde, condenados pela história.

Edição: Opera Mundi