Milhares de pessoas organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fizeram protesto na tarde desta terça-feira (19) em frente à sede do Ministério da Fazenda em São Paulo, na Luz, região central da cidade. A jornada nacional por teto e trabalho ocorre em dez capitais do país, reivindicando a retomada do Programa Minha Casa Minha Vida e denunciando a "política econômica nefasta de Temer", nas palavras do coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos.
O plano do MTST com o ato de hoje era ocupar o prédio do ministério na capital paulista, mas ao chegar lá as portas estavam fechadas. "O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é um banqueiro. Ele recebe os banqueiros lá em Brasília, mas aqui não quer conversar com 20 mil trabalhadores pobres", disse o coordenador do MTST.
Ao encontrar as portas do prédio fechadas, porém, os manifestantes não desanimaram. O local para onde se dirigem os manifestantes fica a 3,5 quilômetros de distância do Ministério da Fazenda.
Os sem teto formaram alas com diferentes referências ao governo Temer. Um grupo batia panelas vazias, outro carregava uma mala cheia de dinheiro – referente aos R$ 51 milhões encontrados no apartamento de Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Temer –, além dos "fantasmas": o ex-deputado Eduardo Cunha, o doleiro Funaro, e os irmãos e sócios da JBS Friboi, Wesley e Joesley Batista. "Fora Temer" era o coro repetido.
Problema que se agrava
"Ao gerar desemprego impressionante, o governo ilegítimo do (presidente) Michel Temer agrava o problema da moradia. As pessoas não conseguem pagar aluguel e isso piora o déficit habitacional. Ao mesmo tempo temos o programa Minha Casa, Minha Vida seco. O orçamento previa 35 mil moradias para este ano, mas nenhuma foi contratada", disse Boulos.
As mobilizações de hoje ocorrem no Rio de Janeiro, Maceió, Porto Alegre, Belo Horizonte, Distrito Federal, Goiânia, Aracajú, Recife, Fortaleza, além da capital paulista. O movimento espera reunir 50 mil pessoas nas ações em todo país. Os manifestantes saíram em marcha da estação da Luz e chegaram à sede do ministério sem violência.
Segundo o militante, após o acampamento do MTST na sede da presidência da República em São Paulo, durante 22 dias, em março deste ano, uma série de trâmites burocráticos foi realizada, mas a verba não foi liberada. "O governo alega falta de dinheiro, o que é irônico já que o Temer liberou cerca de R$ 4 bilhões em emendas parlamentares para se salvar da denúncia de corrupção", afirmou Boulos. "Só isso construía mais casas do que tem no orçamento", completou.
Há uma semana o MTST organizou uma ocupação gigante em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo. Cerca de seis mil famílias estão vivendo no local. No fim de semana, tiros foram disparados de prédios vizinhos contra os ocupantes. Um imenso ato de solidariedade ocorreu no dia seguinte, aumentando a força da ocupação.
Para o próximo ano, o orçamento da União não prevê a contratação de nenhuma obra para o Minha Casa, Minha Vida, na faixa de mais baixa renda, bem como na modalidade Entidades, que é gerida por movimentos sociais. O movimento exige, pelo menos, o mesmo número de moradias do orçamento atual. "Colocar zero moradias no orçamento em uma situação como estamos, é colocar gasolina no fogo", afirmou o coordenador do MTST.
"Ocupar terreno não é opção do movimento. É o resultado da política econômica equivocada e a única alternativa para milhares de famílias que chegam no fim do mês e não conseguem pagar o aluguel", destacou Boulos. "Isso vai se repetir muito se a situação não melhorar", completou.
Boulos ainda comentou a eleição presidencial de 2018, destacando que, ainda que não seja membro do PT, "é inadmissível que as eleições se decidam no tapetão". "A participação de Lula na eleição é fundamental para garantir a democracia no país", disse.
Ao final do ato, que segundo os organizadores tinha perto de 40 mil pessoas, os manifestantes colocaram fogo em bonecos que representavam o presidente Michel Temer e o seu "quadrilhão". Guilherme Boulos disse que se as coisas não se resolverem, os manifestantes "vão botar fogo no pavio nos quatro cantos da cidade; esperamos resultado, que a mensagem tenha sido compreendida e a resposta venha”, afirmou ainda.
Antes dele, a coordenadora estadual do MTST Maria das Graças disse para o presidente Temer pisar ligeiro “porque se tiver de voltar aqui o bicho vai pegar. Hoje demos um alerta, quando dizemos que fazemos, a gente cumpre”.
O ato foi encerrado em frente a secretaria geral da Presidência, na Avenida Paulista. Acompanhado pela reportagem da RBA, foi um ato tranquilo, sem ocorrências e com menor mobilização policial ao redor do que em eventos anteriores.
Edição: RBA