Imagine deixar de visitar um amigo ou parente, deixar de ir a um parque ou mesmo a um show gratuito do seu artista preferido por não ter dinheiro para a tarifa do ônibus. Essa é a situação de 52% dos paulistanos, segundo pesquisa encomendada pela Rede Nossa São Paulo e a Cidade dos Sonhos e realizada pelo Ibope. Para eles, visitar pessoas ou ir a parques, cinemas e outras atividades de lazer torna-se algo deixado de lado por falta de dinheiro para pagar os R$ 3,80 da condução. “É inaceitável que pessoas deixem de fazer atividades de lazer por conta do preço da tarifa. A mobilidade é um drama para os paulistanos”, afirmou o coordenador do Cidade dos Sonhos, Flávio Siqueira.
“O transporte coletivo em São Paulo é ruim, cheio de falhas e muito caro. Mas, apesar de todos os problemas, mesmo as pessoas que hoje utilizam carro querem poder usar os ônibus, querem a expansão dos corredores”, destacou Siqueira. Os dados da pesquisa indicam piora em todos os aspectos analisados nos últimos dez anos: ônibus, ciclistas, pedestres, deslocamentos, segurança. “Esse é o pior resultado de toda a série de pesquisas”, afirmou.
A população da capital paulista se mostrou contrária à retirada dos cobradores dos ônibus, proposta defendida pelo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). Nada menos que 75% responderam ser contrários à medida. Assim como a privatização do sistema do Bilhete Único, cuja moeda de troca seriam os dados da população usuária. Foram 61% dos entrevistados que disseram não a essa proposta.
Um dos itens que apresentou piora foi a percepção da aplicação das leis do trânsito pelas autoridades responsáveis, que recebeu nota 3,6 este ano, contra nota 4,5 em 2016, em uma escala de zero a dez. O tempo de travessia para pedestres nos semáforos teve nota 5 ano passado e nota 4 em 2017. Mesma situação da sinalização para pedestres.
A situação do trânsito na cidade e a percepção sobre o transporte público de uma maneira geral, considerando ônibus, metrô e trens, tiveram as maiores pioras na nota dada pelos paulistanos. O primeiro, após melhora em 2016, caiu de nota 3,2 para 2,7, em 2017. Já os transportes receberam nota 3,8 este ano, contra nota 5,1 no ano passado.
“A pesquisa tem dez anos e mostra um panorama nítido de descontinuidade nas políticas de mobilidade. Ainda assim é a primeira vez que piora em todos os sentidos. Ao mesmo tempo, percebemos que permanece o desejo da população de utilizar mais o transporte público, sendo que hoje 66% da população já afirma utilizá-lo”, avaliou o coordenador da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão.
No caso do transporte por ônibus, a pior avaliação dos paulistanos é relativa à segurança contra o assédio sexual e assaltos. São 62% os que consideram péssima a segurança relativa ao risco de sofrer abusos no transporte coletivo, a ampla maioria mulheres. Outros 58% consideram péssima a segurança contra furtos ou roubos. O preço da tarifa e a lotação dos ônibus também é motivo de avaliação negativa para 58% dos paulistanos, sendo os principais problemas entre os pesquisados. Ainda sobre o serviço, 52% avaliam que a lotação aumentou em relação a 2016, enquanto 40% dizem que o tempo de espera está maior.
Em relação às ciclovias, o maior problema é a insegurança. 67% dos entrevistados que utilizam as ciclovias se sentem pouco ou nada seguros nas vias. Entre os que não utilizam, 58% sentem o mesmo e por isso não aderem à bicicleta. Furtos ou roubos e desrespeito dos motoristas e motociclistas são os principais problemas apontados.
Por outro lado, 71% querem a construção e ampliação das ciclovias e ciclofaixas na cidade. Construção e ampliação de corredores e faixas exclusivas de ônibus também tem amplo apoio, com 87% dos entrevistados favoráveis. Assim como a ampliação das rua de lazer aos domingos: 74% de apoiadores.
O levantamento foi realizado entre os dias 27 de agosto e 11 de setembro, com 1.603 moradores da capital paulista com 16 anos ou mais. Os dados completos da pesquisa podem ser acessados no site da Rede Nossa São Paulo.
Edição: RBA