Desmonte

Contra privatização dos Correios, funcionários completam terceiro dia de greve

De acordo com o governo, empresa teve déficit de R$ 1,5 milhão; para sindicalista, recursos foram usados para garantir

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Trabalhadores têm realizado atos contra privatização dos Correios
Trabalhadores têm realizado atos contra privatização dos Correios - Guilherme Santos/Sul21

O desmonte do Estado brasileiro ganhou mais um capítulo esta semana com o anúncio de que os Correios podem ser os próximos a entrar na lista de privatizações do governo golpista de Michel Temer. Por esta e outras razões, como a restrição do ticket alimentação, mudanças no pagamento do plano de saúde e reajuste salarial, os funcionários da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) completaram, nesta sexta-feira (22/09), o terceiro dia da greve.

Como justificativa para a venda da estatal, o governo alega que a empresa registrou um déficit de R$ 1,5 bilhão no ano passado. Contrária à privatização, a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares (Fentect) diz que descapitalização da empresa ocorreu por conta da redução de investimentos para garantir o superávit primário. Segundo o secretário-geral da entidade, José Rivaldo da Silva, os Correios têm solução e basta vontade política para fazer a estatal voltar a lucrar.  

Segundo ele, o governo vem transferindo parte dos negócios para a iniciativa privada, fechando agências próprias, o banco postal e o serviços logísticos que atendem ao e-commerce. “Nós queremos fortalecer a empresa. Além da marca, que é muito grande, os nossos serviços sempre foram bons. A solução não é privatizar. Os Correios têm solução, tem muito serviço a prestar”, ressalta.  

Por meio da Assessoria de Imprensa, os Correios disseram que a privatização é uma “questão de Estado” e que, atualmente, a estatal passa por um “processo profundo de reestruturação para reerguer a empresa com a ajuda de todos os empregados”.

Para José Rivaldo, os Correios poderiam também atuar para garantir a presença do Estado nas pequenas cidades, prestando serviços à população, e, assim, cumprindo um papel social. “Os Correios são uma empresa de integração nacional, têm muitas cidades do país que só têm os Correios, nem a presença do governo federal têm. Poderia ser criado um modelo de negócio para os Correios oferecerem outros serviços, dando cidadania às pessoas, tirar o RG nos Correios, fazer a carteira de trabalho nos Correios”, afirma.

Segundo a Fentect, que reúne 31 sindicatos da categoria, antes da deflagração da greve, foram mais de 50 dias de negociação sem sucesso. A paralisação atinge 21 estados e o Distrito Federal e, apesar de parcial, o movimento vem ganhando adesão. Os Correios contam com mais de 6.500 agências próprias pelo país, fora as mil franqueadas, que não participam da greve. Os empregados lutam por um reajuste salarial de 8% mais a correção inflacionária e contestam a venda da empresa e a demissão de funcionários.

Em nota, a empresa “afirma que continua disposta a negociar e dialogar com as representações dos trabalhadores na busca de soluções” e considera o movimento “um ato unilateral e irresponsável que desqualifica o processo de negociação e prejudica todo o esforço realizado durante este ano para retomar a qualidade e os resultados financeiros da empresa”.

Os Correios informaram ainda que 91,3% do efetivo estão trabalhando e que neste fim de semana haverá um mutirão para colocar em dia a entrega de cartas e encomendas.

Edição: Vanessa Martina Silva