A imagem de uma explosão em Altamira, bairro nobre de Caracas, rodou o mundo no dia 30 de julho desse ano, quando 8 milhões de venezuelanos saiam de sua casas para votar na Assembleia Nacional Constituinte (ANC). Grupos políticos ligados à extrema direita e a partidos opositores ao governo de Nicolas Maduro realizaram um atentado com explosivos, que atingiu homens da Guarda Nacional Bolivariana e deixou mais de dez feridos. Essa foi a última imagens de protestos violentos realizados pelos opositores.
Na semana seguinte à Constituinte, os partidos opositores convocaram uma protesto, mas apenas 100 manifestantes compareceram ao local do ato. Desde então, acabaram as convocações, as barricadas, os piquetes, e as ruas de Caracas voltaram a ter paz.
O jornalista venezuelano Victor Hugo Majano afirma que o recuo da oposição está relacionado à importante participação da população no processo que elegeu 545 deputados constituintes. A oposição se recusou a participar da disputa.
“Foi uma derrota política muito contundente. O grande número de participação legitimou totalmente o processo eleitoral realizado pelo chavismo e o governo, apesar da propaganda maldosa que fizeram sobre a Constituindo no exterior. Também houve um certo desencantamento das pessoas devido ao uso da violência por parte da oposição durante os protestos”, apontou o jornalista.
Majano explica que, em quatro meses de enfrentamento de rua, boa parte dos protestos opositores tinha baixa adesão da população.
“A maior parte desses protestos que a gente via era algo fictício e fabricado. Os protestos massivos que eles conseguiram mobilizar ocorreram no início de abril. De meados de abril até o final julho, o que vimos eram basicamente protestos com o fechamento de ruas. Ao interromper o tráfego, gerava um tipo de confrontação com as forças públicas que resultou em mortes. Trancavam a cidade com três ou quatro pontos de fechamentos de ruas e isso dava a sensação de que era algo massivo”, relata o jornalista, que escreveu reportagens investigativas sobre o tema.
Duas semanas depois da eleição da Constituinte, dois dos partidos da oposição que protagonizaram os protestos contra Maduro acumularam outra derrota - dessa vez, no contexto das eleições prévias para governador realizada pela Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalisão que 18 partidos opositores.
As eleições internas da MUD são feitas para escolher um candidato único entre os postulantes opositores para, depois, concorrer com o candidato do Partido Socialista Unidos da Venezuela (PSUV), do presidente Nicolas Maduro. As primárias foram realizadas em função das eleições para governadores de 23 estados venezuelanos, convocadas para 15 de outubro.
O partido Primeira Justiça, liderado pelo atual presidente da Assembleia Nacional da Venezuela (ANV), Júlio Borges, ganhou em apenas três dos 19 estados onde houve disputa. Já o partido Vontade Popular, do político Leopoldo Lopez (que cumpre prisão domiciliar depois de ser acusado de liderar protestos violentos em 2014), não ganhou em nenhum estado. O processo foi liderado por um partido que representa a velha oligarquia venezuelana, o Ação Democrática, que se manteve afastado dos protestos violentos.
A derrota desses dois partidos é explicada pelo deputado da Assembleia Nacional, Juan Andres Mejias, do Vontade Popular, como um reflexo da frustração que abateu os militantes desses partidos.
“Como não alcançamos o resultado esperado, isso gerou uma frustração entre aqueles que nos apoiam. Enquanto isso, a Ação Democrática estava focada nas eleições regionais. Foi o que produziu esse resultado”, afirmou o deputado opositor.
Sobre o fim dos protestos opositores, Mejias atribui a desmobilização também à “frustração, que provocou uma tristeza emocional”.
O taxista Javier Barrios, ex-funcionário de uma concessionária de carro, sempre votou nas eleições internas da oposição e, dessa vez, decidiu não votar. “Nem minha família nem eu saímos para votar. Não sei te dizer ao certo porque. A verdade é que a MUD não ofereceu uma alternativa política para o país”, afirmou o jovem de 30 anos.
O Brasil de Fato entrou em contato com a assessoria de imprensa da MUD para solicitar entrevistas com seus dirigentes, mas não obteve resposta até o fechamento dessa reportagem.
Edição: Camila Rodrigues da Silva