"Acabou com tudo, só restaram páginas queimadas". São essas as palavras escolhidas por Isabella Gonçalves, das Brigadas Populares, para definir o que aconteceu com a Casa da Árvore na noite deste domingo (24).
O imóvel, que resistia há dois anos no bairro Jardim América, região oeste de Belo Horizonte, foi destruído por um incêndio - até então, de origem desconhecida. Na construção de dois andares erguida por pessoas em situação de rua, também funcionava uma biblioteca pública que nasceu a partir de livros que os moradores encontravam no lixo. Eram em média 1.000 publicações à disposição do público, que ficavam ao lado de um pé de mangueira que também não existe mais.
Recentemente, a casa começou a ser notificada extrajudicialmente para ser desocupada e demolida. De acordo com Isabella, ela também sofria com ataques da vizinhança e rondas policiais ostensivas. Diante do contexto, no domingo (24), foi realizado um ato com manifestações de apoio e solidariedade ao local. Foi depois das atividades que o fogo começou.
"A Gleici [uma das moradoras] estava em casa e saiu. Quando tudo estava vazio, começou a queimar. Isso foi por volta das 20h. Não tinha nada aceso lá e eles não têm fogão", afirma Isabella.
As Brigadas Populares, organização que acompanhava a ocupação, classificou o incêndio como um ato de fascismo e acredita na tese de crime. Na manhã de hoje (25), a Polícia Civil esteve no local para a primeira perícia e a ideia é que as câmeras de vigilância instaladas no bairro sejam usadas na investigação.
"A gente tem visto em todo o Brasil o crescimento do fascismo não só como manifestação de opinião, mas como ação direta. A diferença é tratada com ódio. E é importante lembrar que o incêndio se dá na mesma semana que o prefeito Kalil [PHS] anuncia um plano para remoção dos moradores de rua. Quando se tem um gestor público promovendo uma política que não entende que o 'buraco é mais embaixo', quem dirá o que faz a sua população... Ela se sente muito amparada e correta ao cometer violência contra a população de rua", ressalta Isabella.
Protesto e esperança
Também nesta segunda (25), será realizado um ato simbólico de abraço à Casa da Árvore, onde ela costumava ficar, às 17h. Apesar de abalados emocionalmente, os ex-moradores reivindicam a reconstrução do espaço e que ele seja legitimado enquanto ponto de cultura.
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Edição: Joana Tavares