Quinta maior organização sindical do país, a APP-Sindicato representa professores e servidores de escolas estaduais do Paraná. Na última sexta-feira (22), foi homologado o resultado oficial da votação que reelegeu o professor e pedagogo Hermes Silva Leão à presidência da entidade.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Leão comenta os desafios da categoria num contexto político de ataque aos trabalhadores em todo o país.
Brasil de Fato: Quais os principais desafios da categoria e da APP-Sindicato para os próximos anos?
Hermes Silva Leão: Os desafios começam pela defesa da educação pública, num período em que sofremos ataques desde o Governo Federal, com as reformas, até a gestão no Paraná. Também temos que atender a mais de 200 municípios que têm representação na APP junto às redes municipais – a maioria dos prefeitos vem seguindo a linha da redução de direitos. É preciso fazer uma luta muito intensa nesse momento.
Também é muito importante a luta contra o assédio moral e o adoecimento – a categoria dos professores sempre esteve entre as que mais adoece por conta do estresse no trabalho. Nesse período, diante dos ataques, da cultura do denuncismo, da lei da mordaça, temos percebido um nível de insegurança e de incerteza coletiva que também faz com que as pessoas fique doentes.
Atravessamos hoje um período de resistência. Os ataques se aprofundaram e é necessária a organização contra essas ameaças e medidas, que sempre incidem nos direitos dos trabalhadores de modo geral.
BdF: Como você avalia que a reforma trabalhista por impactar na luta sindical nos próximos anos, considerando o aumento da fragilização das relações de trabalho?
Leão: Através da Central Única dos Trabalhadores, estamos num movimento de organiar um projeto de lei de iniciativa popular para desfazer toda essa tramitação do processo da reforma trabalhista e das terceirizações. São medidas completamente autoritárias, que não combinam com o estado democrático de direito e que precisam ser revertidas. É preciso dialogar fortemente com a categoria e a APP já está fazendo esse trabalho. Temos que intensificar essa luta para que seja possível impedir, de fato, a aplicação desse tipo de lei no nosso país. As reformas se refletem também no aumento extremado da violência, não só no Rio de Janeiro, mas em diversos locais do Brasil.
BdF: A greve tem se mostrado um instrumento de luta desafiador, pelas represálias importas pelo governo e pelo medo que gera na categoria. Nesse cenário, a APP pretende propor outras táticas de luta?
Leão: Estamos num período de dificuldades com o instrumento de greve devido à criminalização que tem sido feita. Na iniciativa privada e no serviço público, a lei nacional de greve é desrespeitada justamente para que haja desmobilização das categorias. No governo Richa, toda mobilização que fazemos, mesmo que dentro da legalidade, tem sido respondida com o autoritarismo das faltas e outras penalizações de grande prejuízo, não apenas financeiro, mas também estrutural e de carreira. A greve é o instrumento central, mas existem outras mobilizações, como abaixo-assinado, projetos de lei de iniciativa popular, diálogo e manifestações sem paralisar. Todas essas são ações importantes. Estamos num momento em que é preciso organizar muitos atos públicos, atos de rua. Temos que combinar todos esses instrumentos e, se eles se esgotam, retomar a greve como ferramenta de luta.
BdF: Como o cidadão pode contribuir na luta dos professores por melhores condições de trabalho e pela educação de qualidade?
Leão: É importante que, primeiro, os pais, mães e responsáveis pelos estudantes compreendam o contexto de ataque à educação pública. A partir dessa compreensão, a comunidade escolar e a sociedade em geral pode sair conosco na defesa do ensino público, um centro importantíssimo para o desenvolvimento das condições econômicas e sociais que levam a um mundo melhor.
Edição: Ednubia Ghisi