O dia 2 de outubro de 1992 é um marco na história brasileira. O “Massacre do Carandiru”, visto 25 anos depois, transcende o sistema prisional e oferece subsídios para um debate mais amplo sobre o genocídio reincidente provocado pelo Estado brasileiro contra as populações pobres.
Ao longo de todo o dia, o Brasil de Fato soltará conteúdos que contextualizam o ocorrido, tendo como base três minidocumentários que nos ajudam a compreender esta parte da história do nosso país. A construção da violência de classe e a normalização do genocídio de indígenas e negros é objeto do vídeo que inicia a série especial “25 anos do Massacre do Carandiru: Terra das Chacinas.”
“Eu olhei pela ventana e lá embaixo já tinham vários policiais atirando e, de fato, assassinando as pessoas”, afirma Sidney Salles, sobrevivente do massacre, que narra, no segundo vídeo, a saga dos presos que habitavam o Pavilhão 9 do Carandiru naquele 2 de outubro.
Mesmo com a péssima repercussão mundial do Massacre do Carandiru, o Estado brasileiro insiste na lógica do extermínio. O último vídeo mostra como o Brasil aceitou, vinte e cinco anos depois, a institucionalização da violência e a popularização do conceito de que “bandido bom é bandido morto”, que servem para massacrar as periferias. Mais de duas décadas depois, as chacinas avançaram e os chefes do Executivo perderam o receio de defender publicamente a letalidade policial.
A série “25 anos do Massacre do Carandiru: Terra das Chacinas” é uma produção da Pavio e do Brasil de Fato.
Terra das Chacinas - Exceção Permanente
O historiador Salloma Salomão debate o genocídio reincidente provocado pelo Estado brasileiro contra as populações pobres ao longo da história, a construção da violência de classe e a normalização do genocídio de indígenas e negros.
10:00
Os times Furacão 2000 e Burgo Paulista disputam partida de futebol do campeonato interno, no pátio do presídio do Carandiru. Enquanto isso, no Pavilhão 9, dois presos de grupos rivais: Barba, da zona sul da detenção, e Coelho, da zona norte, começam uma briga. O desentendimento gera confusão entre os dois grupos.
Terra das Chacinas - 2 de outubro
Sidney Salles, sobrevivente do massacre, narra a saga dos presos que habitavam o Pavilhão 9 do Carandiru naquele 2 de outubro.
14:00
Após a intervenção de agentes penitenciários, uma rebelião se instala no Pavilhão 9 do Carandiru. José Ismael Pedrosa, diretor da Casa de Detenção, pede a presença da Polícia Militar para controlar a crise. Carcereiros estão abandonando o prédio e há sinais de fumaça, por conta de fogo ateado em colchões de alas do prédio.
15:30
Cerca de 320 policiais chegam ao presídio do Carandiru e permanecem em frente ao Pavilhão 9 do presídio. Entre os policiais, estão homens de batalhões de elite como Rota, Gate, Batalhão de Choque e Cavalaria. Ismael Pedrosa, diretor do presídio, ainda tenta negociar o fim da rebelião. Presos afirmam que a situação está controlada.
16:30
Neste momento, cerca de 300 policiais, a maioria sem identificação em suas fardas, rompem a barricada que os presos haviam erguido para evitar a entrada dos oficiais. Segundo o comandante geral da operação, o coronel Ubiratan, apenas 86 homens participam da operação.
16:50
Antes de acessar o 1º andar do Pavilhão 9, policiais rompem nova barricada. Neste piso, foram executados 26 presos.
17:00
Presos que se encontram nos demais andares do Pavilhão relatam pavor ao ouvir os tiros de metralhadoras disparados pela Polícia Militar. Os presos se renderam e estão em suas celas. Policiais seguem atirando ainda assim. Um estudo da perícia aponta que 70% dos tiros foram dirigidos à cabeça e ao tórax.
18:00
Presos relatam ter escapado de morrer ao se misturarem aos colegas mortos. Os que permaneceram vivos, recebem ordem da polícia para tirarem a roupa e descerem para o pátio interno. Relatos afirmam que presos ainda foram executados durante essa operação.
20:00
Os corpos dos mortos no Massacre são carregados até o 1º andar por outros presos.
Inimigo Interno
"Inimigo Interno" debate a continuidade dos massacres protagonizados pelo Estado brasileiro 25 anos depois do episódio que deixou 111 mortos no maior sistema prisional da América Latina da época.