Manifestações de cultura devem sim estar presentes no dia-a-dia de nosso povo
As elites que sempre detiveram o poder no Brasil possuem uma dívida histórica com o seu povo. Um destes elementos é o direito à cultura. A bem da verdade, como sempre foi restrito ao povo o acesso a outros direitos básicos como saúde, educação, habitação, a cultura e o conhecimento parecem algumas vezes como um desejo de “luxo” ou algo distante da realidade concreta. Mas não é assim. Ou não deveria ser.
Sempre que me deparo com pensamentos sobre o acesso à cultura em nosso país, lembro das manchetes de reportagens que vez por outra vêm com um papo de que brasileiro “não gosta de ler” ou que “não sei quantos por centos da população brasileira nunca compraram um livro”. E isso sempre me deixou incomodado porque, de uma maneira em geral, são manchetes que parecem apontar o dedo como se houvesse uma culpa individualizada pela falta de acesso.
Mas eu me pergunto: como cobrar a busca por livros e leitura quando não se ofereceu educação numa perspectiva histórica? Como querer que brasileiros e brasileiras comprem livros se até hoje ainda temos dos livros mais caros do mundo? Ou até, como querer que o povo brasileiro frequente teatros e cinema quando são poucos os espaços com preço justo e adequado à maioria da população?
Estas questões me soam muito parecidas àquelas as quais nos referimos quando falamos sobre a qualidade da alimentação no Brasil. Me deparo cotidianamente nos meus atendimentos médicos com situações que retratam maus hábitos alimentares. Mas não é simples lidar com isto quando bebidas industrializadas e açucaradas são mais baratas que sucos saudáveis.
Querer que o brasileiro e a brasileira leiam mais é fundamental. Para tal, não podemos perder de vista que uma de nossas tarefas é batalhar pelo acesso à cultura como direito básico da população. Literatura, cinema, teatro, música, entre tantas outras formas e manifestações de cultura devem sim estar presentes no dia-a-dia de nosso povo. E é tarefa do estado brasileiro apoiar e contribuir com este acesso. As leis de incentivo à cultura são fundamentais, cabendo-nos sempre zelar e fiscalizar pelo seu uso correto. Mas culpar os indivíduos simplesmente pela falta de hábito na leitura, por exemplo, não resolve e até confunde a compreensão de que a cultura é sim direito nosso.
Edição: Monyse Ravena