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A atuação das Forças Armadas na Rocinha resolve o problema?

No quadro Fala Aí, ouvinte questiona a intervenção do exército na comunidade em confronto da última semana

Ouça o áudio:

Militares realizam operação na favela da Rocinha, após guerra entre quadrilhas rivais de traficantes pelo controle da área
Militares realizam operação na favela da Rocinha, após guerra entre quadrilhas rivais de traficantes pelo controle da área - Fernando Frazão/Agência Brasil
No quadro Fala Aí, ouvinte questiona a intervenção do exército na comunidade em confronto da última semana

A pergunta desta semana no quadro Fala Aí é sobre os recentes acontecimentos na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.

No último dia 22, as Forças Armadas entraram na comunidade para tentar conter um confronto ligado ao tráfico que teve início no dia 17 de setembro. O conflito é referente a disputas entre líderes de facções que dominam o tráfico na região. De acordo com informações da imprensa local, o traficante Nem da Rocinha, preso desde 2011, teria dado ordem para a retomada do território. 

O bando de Rogério 157, outro traficante da região, revidou e instaurou-se o confronto. As Forças Armadas foram acionadas a pedido do governador Luiz Fernando Pezão, com o objetivo de dar auxilio à Polícia Militar.

A ouvinte Márcia questiona a efetividade da ação. Quem responde é o professor Lênin Pires, da Universidade Federal Fluminense, especialista em segurança pública. 

Confira: 

"Eu sou a Márcia, tenho 45 anos e gostaria de fazer uma pergunta: É realmente necessário a intervenção das Forças Armadas na Rocinha, no Rio de Janeiro? Resolve?"

"Olá, Márcia, eu sou Lênin Pires, sou professor do Departamento de Segurança Pública da UFF. Eu entendo as razões de sua pergunta, mas eu quero dizer o seguinte: no momento o Rio de Janeiro atravessa uma grave crise, uma crise política, econômica, como todo o país, mas aqui tem contornos muito particulares.

Eu diria que em decorrência da crise de credibilidade do governo estadual que leva, entre outras coisas, ao recrudescimento dessa criminalidade violenta, inclusive, com a suspeição de que há grupos das agências policiais envolvidas nesses processos, que nós estamos agora observando, de retorno de grupos fortemente armados para favelas, nas zonas mais nobres da cidade. Acaba que a participação das Forças Armadas pra tentar resolver esse problema pontualmente se coloca como alternativa para aqueles segmentos que acreditam que resolver o problema da criminalidade violenta se coloca com forte repressão, repressão armada, e de forma militarizada.

O fato, porém, e nós acreditamos nisso na nossa Universidade Federal Fluminense, de que o problema da segurança pública se resolve de uma outra maneira. Com políticas públicas de inclusão, com um forte investimento na produção de educação, de saúde, de emprego e dessa maneira, as atividades policiais deverão ser de cunho preventivo e ostensivo apenas para que complemente o trabalho que a sociedade faz no sentido que é administrar seus conflitos."

Edição: Camila Salmazio