Sabem por que pão-duro é sinônimo de pessoa que tem amor exagerado ao dinheiro?
Gosto de estudar a origem de certas palavras, ou melhor do significado que algumas palavras adquirem por causa de alguém que fez uso delas, ou de acontecimentos especiais. Muitas delas surgiram no Rio de Janeiro e se espalharam pelo Brasil.
Por exemplo: favela. Esse nome vem do tempo da Guerra de Canudos. Ao lado do arraial de Belo Monte, tinha um morro cheio de uma árvore chamada favela porque dá fava. Lá, o exército se instalou para bombardear o arraial, com tiros de canhão. Uma covardia enorme.
Quando terminou a guerra, os soldados foram para o Rio de Janeiro achando que seriam muito bem recebidos, mas nem casas eles arrumaram para morar. Tiveram que ficar morando em barracos improvisados no Morro da Providência.
Para ironizar sua própria situação, eles compararam esse morro ao que ficava em Canudos e começaram a dizer que moravam no Morro da Favela. Daí a palavra favela passou a ser utilizada para conjuntos de moradias precárias em morros, depois para todos os tipos de moradias precárias.
E pão-duro. Sabem porque é sinônimo de pessoa que tem um amor exagerado ao dinheiro?
No Rio de Janeiro tinha um homem que se vestia miseravelmente e todos os dias pedia nas padarias uma coisa qualquer para comer, mesmo que fosse um pão duro. Um dia descobriram que ele era muito rico, tinha várias casas de aluguel. Pegou o apelido de Pão-duro, que virou sinônimo de sovina, mão-de-vaca...
Carrasco é quem executa as pessoas condenadas à pena de morte, como todos sabem. Mas por que é chamado assim? É por causa de um homem chamado Belchior Nunes Carrasco, que viveu em Lisboa há séculos, e tinha essa função.
Algumas palavras têm mais de uma versão sobre sua origem. Um exemplo é o pé-de-moleque, doce gostoso feito de amendoim e rapadura. Muita gente acha que o doce tem esse nome porque é da cor dos pés dos moleques que andavam descalços e não tinham o costume de lavar os pés.
Mas a cantora lírica Bidu Sayão, que viveu de 1904 a 1999, contava outra história. Segundo ela, no começo do século XX havia muitas baianas que vendiam doces em tabuleiros, no Rio de Janeiro.
Os meninos gostavam especialmente desse doce de amendoim, mas como não tinham dinheiro, furtavam das baianas e elas ralhavam com eles para não roubarem. Diziam para pedir, assim:
- Pede, moleque! Pede, moleque!
Edição: Camila Salmazio