“Comer é um ato político!” Esta é a ideia central do livro “O negócio da comida: quem controla a nossa alimentação?” (livro do mês da Editora Expressão Popular), da jornalista, socióloga e ativista Esther Vivas Esteve. O objetivo da autora é armar os leitores com informações fundamentais para a reflexão e reação diante da evidência de que a fome é um problema político.
Ao longo dos capítulos do livro, Esteves explica que a agricultura camponesa representa a alternativa diante da mercantilização da comida. Essa transformação do alimento em produto tem como consequência um mundo de obesos e famintos, defende a autora. Ela também destaca o papel fundamental das mulheres na construção da soberania alimentar.
A autora falou com o Brasil de Fato, confira:
Brasil de Fato: Em seu livro, você diz que comer é um ato político, como se interessou por esse assunto?
Esther Vivas Esteve: Percebi que a mesma lógica que o capital utiliza para mercantilizar nossas vidas e os nossos direitos também se dava com a alimentação, com o que comemos. E a partir daí comecei a trabalhar com esses temas até o dia de hoje. Além de um ato político, comer é um negócio lucrativo. Cada vez mais a comida tem menos qualidade.
Retomando o que você traz no livro, pode falar um pouco mais sobre as alternativas para combater o agronegócio?
Por um lado, a alternativa que mostro no livro é a mesma que reivindicamos há anos por meio dos movimentos sociais ao redor do planeta, inclusive por meio da Via Campesina como alternativa política de soberania alimentar. São as alternativas cotidianas a partir das quais podemos construir essa soberania alimentar e, por tanto, precisamos avançar numa agricultura ecológica, uma agricultura campesina.
E qual o papel das mulheres nesse cenário?
Esse atual modelo agroalimentar e essa perspectiva de gênero é imprescindível, tanto para fazer um bom diagnóstico da situação como para implantar uma alternativa real, porque hoje vemos que os interesses do capital impactam de uma maneira direta no modelo agroalimentar, mas também na lógica do patriarcado.
As mulheres são as que mais trabalham no campo, em escala global, mas ao mesmo tempo, são as que mais morrem de fome. Cerca de 60% da fome crônica do mundo é feminina. Por isso, qualquer alternativa que se implemente deve ter em vista isso. Uma soberania alimentar sem uma perspectiva feminista não pode ser uma alternativa real.
Sobre o tema central do livro, como você vê a mercantilização dos alimentos?
Eu acredito que a questão da fome é uma questão em que há uma consciência importante, mas muitas vezes não estamos conscientes dessa situação de fome, de desnutrição em uma escala mais local em nosso território. Eu acredito que viver como vivemos em um mundo de obesos e famintos é fruto dessa lógica de transformar alimentos em um negócio.
Tem algum ponto importante que acha que devemos comentar?
Bem, um tópico que não mostrei ao longo da entrevista e acho interessante, é como parte do livro o que também suscita o papel que os supermercados desempenham nesta cadeia de produção de alimentos e como os supermercados acabam determinando muitas vezes que comemos e como comemos e, portanto, é uma peça central do agronegócio. De fato, a agroindústria também é caracterizada por subordinar seu modelo de agricultura aos interesses ao serviço dos grandes supermercados de, portanto, o papel dos supermercados é um papel essencial nessa lógica privatizadora e mercantilizadora de alimentos.
Edição: Vanessa Martina Silva