O preconceito sentido na pele pelas crianças e adolescentes que vivem em acampamentos e assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi um dos temas mais expressivos do Encontro Estadual dos Sem-terrinhas realizado no Pará.
Valéria da Silva Lopes integra a frente de educação e formação do MST e conta que muitas crianças e jovens são discriminados ao relatarem que pertencem a assentamentos rurais.
“Por mais que eles sejam crianças, eles sentem e percebem o preconceito, a discriminação e a divisão social que eles vivem, seja nas escolas, nas ruas quando eles fazem mobilizações, seja em qualquer espaço quando dizem que eles são de acampamento e de assentamentos, então não é nada novo para eles. Eles precisam formular isso e dizer que eles não estão errados”, relata.
Vinicius Cardoso tem 13 anos e mora no assentamento João Batista 2, localizado em Castanhal, a 68 quilômetros da capital Belém. Ele diz que já foi vítima de preconceito.
“Bom eu já passei por eu ser do interior, de assentamento. Eu já sofri algumas vezes sim, mas sempre na escola a gente debate esse assunto, como combater esse mal, esse bullying, hoje em dia eu não me importo mais”, diz
O encontro começou esta semana e tem encerramento nesta quinta-feira (19). De acordo com a organização, o objetivo é trazer a vivência das crianças camponesas e preparar os cerca de 350 participantes para o "I Encontro Nacional das Crianças Sem Terrinhas".
Além da discriminação, a violência é outro fator que faz parte da realidade de muitas crianças e adolescentes. A situação dos acampamentos Frei Henri, localizado em Curionópolis, no Pará e do acampamento Hugo Chaves, em Marabá, região sudeste do estado foi discutida.
Em ambos são recorrentes os ataques de fazendeiros contra os assentados. Para conversar sobre assuntos como esse, a educadora do MST explica que são utilizadas técnicas lúdicas:
“Teremos a perspectiva que estamos construindo novos sujeitos, novos militantes e há 17 anos o MST Pará trabalha com a infância sem-terra. É um trabalho com o lúdico, é apresentar a desigualdade social da ludicidade e essa é a maior função”, conta.
A programação do encontro também contou com brincadeiras populares, contação de histórias, apresentação de lendas amazônicas, cinema e oficinas de audiovisual, teatro e artesanato.
Edição: Camila Salmazio