Nem a repressão da polícia, nem os movimentos contrários à livre manifestação, impediram os alunos do Colégio Estadual do Paraná de celebrar, nesta sexta-feira (20), o aniversário de um ano da Primavera Secundarista. Além da ocupação simbólica da instituição de ensino, os estudantes prepararam uma agenda cultural para reforçar à comunidade que também se aprende e se ensina muitas lições fora da sala de aula.
“Logo na entrada, dei de cara com a Polícia Militar. Perguntei se vieram fazer minha segurança”, ri o multiartista João Bello, que se apresentou nesta manhã com poesia, música e seus bonecos de marionete. Desde o início do dia, a PM bloqueou a porta que dá acesso ao local onde o palco foi instalado, e permaneceu no colégio durante as horas seguintes restringindo entradas e saídas. Depois de quebrar o gelo e despertar risadas no ambiente, João Bello passa à frente do pelotão. “Ninguém segura a arte e suas variantes. Com a galera, aqui, foi só alegria”, conta.
O seletor musical Caê Traven diz que aceitou o convite para participar da programação em apoio ao movimento dos estudantes. “É importante estarmos alinhados nessa luta. Eles chegaram com o pé na porta, mostrando que, se a gente não gritar, ninguém vai ouvir. E vim para engrossar o coro”, diz Caê, que preparou, para os alunos, uma seleção com músicas do estilo sound system – uma variante da cultura musical jamaicana.
Aniversário de luta
Há um ano, no dia 3 de outubro de 2016, cerca de 200 estudantes secundaristas decidiam ocupar o Colégio Estadual Padre Arnaldo Jansen, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. A iniciativa desencadeou um processo massivo de ocupações que paralisou as atividades em mais de 800 colégios do Paraná, no que ficou conhecido como primavera secundarista. Naquele momento, quem deu a aula foram os alunos, nas disciplinas de resistência e de luta pela democracia.
O Arnaldo Jansen se tornou referência para milhares de alunos contrários à reforma do Ensino Médio, proposta, na época, por meio da Medida Provisória (MP) 746. Essa MP, junto a outras políticas do presidente golpista Michel Temer (PMDB) – como a Proposta de Emenda à Constituição 55, que congela investimentos públicos e gastos sociais pelos próximos 20 anos – centralizou uma ação coletiva de estudantes, que seguem organizados para novas estratégias.
*Colaborou Thiago Moreira
Edição: Ednubia Ghisi