“A proibição do show é absurda, é um ato de censura, é ilegal. Muita gente dentro do judiciário mostra que o preconceito fala mais alto do que a lei”. Essa foi a reação de Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) após a proibição do show que Caetano Veloso realizaria na noite desta segunda-feira (30) em apoio à Ocupação Povo sem Medo, em São Bernardo do Campo, em São Paulo.
Diante da proibição, Caetano Veloso, Sônia Braga, Criolo, Aline Moraes, Emicida, Letícia Sabatela e Marina Person participaram de uma manifestação em apoio à ocupação e à marcha de 23 quilômetros que as cerca de 6.500 famílias de sem-teto realizarão nesta terça-feira (31), em direção ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado. Eles pretendem encontrar o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e pressioná-lo a ceder o terreno para a construção de moradia.
“Manobras foram realizadas para que esse show não acontecesse, mas estamos aqui. Estamos juntos com vocês”, afirmou Caetano Veloso durante o ato. “Vocês são exemplos nesse momento que o país está passando por tudo isso. Vocês são a força da esperança”, disse Letícia Sabatella.
“Para mim não tem coisa mais bizarra na cultura brasileira do que sonhar em ter uma casa. Isso é o básico. Quando o sonho de uma pessoa é ter uma casa, a sociedade está errada, está com defeito. O que vocês fazem aqui é tentar endireitar essa sociedade. Entramos no século 21 repetindo a plenos pulmões: ‘se não for de tudo mundo, não vai ser de ninguém’”, falou Emicida no encerramento do ato.
Decisão
A juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara da Fazenda Pública de São Bernardo do Campo, decidiu pela proibição da atividade em resposta à ação civil pública apresentada pelo Ministério Público estadual.
O argumento da magistrada em sua decisão é que o “brilhantismo” do cantor Caetano Veloso atrairia “muitas pessoas para o local, o que certamente colocaria em risco estas mesmas”.
A juíza também determinou uma multa de R$ 500 mil caso a ordem fosse descumprida e o show, realizado. O evento estava marcado para as 19h e três horas antes do evento, policiais e guardas civis impediram a entrada de equipamentos de som na Ocupação.
No pedido, a promotora Regina Célia Damasceno alegou que a decisão está pautada na impossibilidade de segurança no local. "Ninguém é contra a luta por moradia. Pelo contrário, ela é urgente, mas tem de ser feita sem colocar em risco pessoas que já se encontram em situação de vulnerabilidade", disse a promotora sobre o caso.
Veja como foi o ato:
Edição: Vanessa Martina Silva