Segundo os organizadores, 20 mil sem-teto aguardavam do lado de fora do Palácio dos Bandeirantes, no bairro do Morumbi, em São Paulo, depois de mais de dez horas de marcha. Uma comissão com nove militantes, entre eles, o coordenador do MTST, Guilherme Boulos, foi recebida pelo secretário-chefe da Casa Civil, Samuel Moreira, e pelo secretário da Habitação, Rodrigo Garcia.
Após três horas, ao fim da reunião, Boulos, em assembleia devolutiva, pontuou que houve avanços com o governo e foi aberto um processo de negociação com a gestão do tucano Geraldo Alckmin. "A negociação se abriu, queremos saber como ela vai fechar", afirmou o dirigente.
Como resultado positivo da reunião foram iniciados o cadastramento de todas as famílias da ocupação de São Bernardo do Campo (SBC) na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e a discussão de outras alternativas habitacionais. Além disso, o governo do estado se comprometeu a realizar um levantamento para conhecer as realidades e demandas das famílias daquele local.
Veja como foi a marcha:
A situação de outras ocupações também foi discutida durante a reunião em que o governo Alckmin se colocou à disposição para pensar alternativas em diálogo com o governo federal.
Uma nova reunião deve acontecer entre MTST e os governos estadual e federal no dia 10 de novembro. Na ocasião, serão analisadas as resoluções tiradas hoje.
O diálogo foi amplamente celebrado por militantes, principalmente porque o prefeito de SBC se mostra, segundo Boulos, "irresponsável, inconsequente e apostando no conflito".
Marcha percorreu 23 Km
A marcha começou às 7h, quando os sem-teto saíram do bairro do Planalto, do terreno ocupado por 6,5 mil famílias que correm risco de reintegração de posse, em SBC.
Por volta das 14h, a marcha vinda de SBC se encontrou com movimentos populares, sindicalistas e moradores de 22 ocupações do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) que esperavam em frente da estação Morumbi da CPTM.
Durante a marcha, a reportagem conversou com Michel Navarro, da coordenação estadual do movimento, que classificou o ato desta quarta como a maior da história do MTST:
"Hoje é um dia de grande vitória organizativa e de disposição de luta dos trabalhadores sem teto. É a maior marcha que o MTST já fez no Brasil e em São Paulo. Marchamos de vários lugares distintos de São Paulo. A pauta, referente à ocupação em São Bernardo, se tornou símbolo do problema grave que é a falta de habitação neste país. Mas também é uma reivindicação em que estão todas as ocupações envolvidas".
Muitas mulheres, crianças e idosos estavam entre os manifestantes, como a Mãe Ritinha, de 68 anos, que há quatro vive na Ocupação Palestina, no Jardim Ângela.
"Temos problema de rim, de coluna, mas estamos na luta. Nós pagamos aluguel, estamos correndo atrás da nossa casa", comenta.
Bruno Magalhães professor, que participa do movimento de moradia no Grajaú, zona sul, também acompanhou a marcha desde o início.
"A gente está aqui lutando pela vitória de São Bernardo e mais uma série de outras ocupações. O déficit de moradia na capital é gigantesco, já que o governo de São Paulo investe menos em moradia do que outros estados que são mais pobres", conta.
No final da noite desta quarta, os sem-teto voltaram para suas ocupações em diversas cidades e bairros de São Paulo e da capital paulista.
Edição: Vanessa Martina Silva