Um sonho de integração e solidariedade entre os povos é o que move o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no plano internacional. Com essa aposta, hoje, a organização mantém as chamadas brigadas internacionalistas em onze países. Um deles é a Venezuela, onde o movimento está presente há 12 anos com o objetivo de prestar apoio à Revolução Bolivariana.
Na nação sul-americana, o MST se somou a organizações locais, e juntos coordenam uma escola de formação política na Unidade de Produção Social Agroecológica (UPSA) Caquetios. O centro educacional fica no município de Barquisimeto, no estado de Lara, região central do país. As UPSAs são unidades de produção agrícola, criadas pelo governo da Venezuela, destinadas a pequenos agricultores.
Além da formação política, o MST desenvolve um projeto de produção de sementes crioulas e agroecológicas. A iniciativa é realizada em parceria com o Estado venezuelano e com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO, na sigla em inglês).
Para a coordenadora da escola de Caquetios, Luisa Araújo, o objetivo principal deste centro de formação é contribuir com a formação de lideranças locais. "Esse é um espaço de articulação dos movimentos, organizações sociais, conselhos comunais e expressões do poder popular que necessitam qualificar seus líderes e, assim, seguir fortalecendo o legado do comandante [e ex-presidente venezuelano] Hugo Chávez. Essa escola é muito importante também por sua vocação produtiva", explica.
Este ano, a escola realizou cinco cursos, sendo o último deles o de Formação de Formadores, que começou no dia 30 de outubro e vai até de 26 de novembro. Cerca de 20 representantes de movimentos populares participam da atividade de qualificação de lideranças sociais e, depois, vão reproduzir o conhecimento recebido em seus espaços organizativos.
Entre os participantes do curso estão representantes dos principais movimentos populares venezuelanos, como a Corrente Revolucionária Bolívar e Zamora, a Frente Francisco Miranda, o Movimento Ecologista da Venezuela, o Conselho Presidencial Campesino, o Movimento Agrourbano, além de líderes de comunas e do movimento estudantil.
História
Na Venezuela, a Brigada Internacionalista do MST tem o nome de Apolônio de Carvalho, em homenagem ao lutador e intelectual brasileiro falecido em 2005. Este também é o ano em que teve início o primeiro projeto no país, que foi a construção do Instituto Universitário Latino-americano de Agroecologia (IALA) Paulo Freire, no estado de Barinas, Centro do país.
"Nesse período, nós nos dedicamos a diferentes processos de formação, contribuição em processos produtivos e na integração entre os povos. Muita gente do Brasil veio conhecer as experiências políticas da Venezuela, assim como os venezuelanos também foram ao Brasil aprender e compartilhar", relata Edson Bagnara, coordenador da brigada sem-terra na Venezuela.
O projeto da UPSA ocorre em outras duas regiões do país: em Junquito, uma vila rural próxima à capital Caracas; e no estado de Mérida, na fronteira com a Colômbia. Juntos, os projetos de formação e produção compõem um conjunto de ações destinadas a camponeses, dirigentes de movimentos populares e líderes de comunas, para reforçar a atividade no campo, a organização social e a produção de alimentos na Venezuela.
Segundo Bagnara, o difícil momento que atravessa o país, de acirramento da crise política e da guerra econômica, criou a necessidade de maior apoio internacionalista e de fortalecimentos das relações entre os movimentos. Por isso, a presença do MST e de outras organizações populares da América Latina no país é um importante ponto de resistência contra os ataques de partidos e governos de direita.
Edição: Vivian Neves Fernandes