Por Daniel Giovanaz
A BR-230, conhecida como Rodovia Transamazônica, é um dos legados mais controversos da ditadura civil-militar brasileira. Inaugurada em agosto de 1972, ela tem 4.223 km de extensão e percorre sete estados: do porto de Cabedelo, no litoral da Paraíba, até Lábrea, na região sul do Amazonas. O material abaixo é um relato de viagem, baseado em pesquisa, observação e conversas com moradores.
Mais de um terço da rodovia está em território paraense. O estado, palco desta narrativa, sintetiza o fracasso do projeto de integração nacional imposto pela ditadura. Nos 1.840 km iniciais, até Brejo Grande do Araguaia, no Tocantins, a estrada é quase toda asfaltada. O pesadelo dos motoristas começa na divisa com o Pará: a ponte sobre o rio Araguaia é uma de porta de entrada para a poeira (no verão) ou para a lama (no inverno).
Destruição da floresta, violações de direitos, promessas não cumpridas. A história da Transamazônica no Pará se confunde com a dos homens e mulheres que construíram suas vidas à margem da rodovia ou nas comunidades vicinais, aqui chamadas de travessões. O passado e o futuro, de mãos dadas sobre a estrada de terra, compõem a metáfora de um Brasil de sonhos não pavimentados.