As religiões de matrizes africanas no Brasil têm sido alvo de ataques, com destruição de templos no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Em entrevista ao Brasil de Fato, o estudante de filosofia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e integrante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) Pablo Silva Prado fala um pouco sobre o Candomblé e discute a diferença entre racismo religioso e intolerância.
Brasil de Fato - Como você enxerga o Candomblé?
Pablo Silva Prado - Dentro “da casa de santo sou um ‘Yawo” que é um recém-iniciado no Candomblé. O Candomblé para mim é principalmente um modo de enxergar a natureza e o cosmos à nossa volta. Nós cultuamos as forças da natureza, que são indispensáveis para a manutenção cíclica e energética do universo. O Candomblé não é uma religião homogênea, existem as chamadas nações, que são o Jeje, a Angola, o Ketu, o Fon, entre outras. Essas nações correspondem a diferentes áreas do continente africano de onde nossos ancestrais negros foram usurpados e escravizados. Quando os negros foram trazidos ao Brasil eles possuíam língua, ritualística e Deuses diferentes, e, estando aqui forçosamente juntos e misturados, houve uma mistura de diversas tradições, como alternativa de sobrevivência e manutenção de suas crenças.
Na sua opinião, o Candomblé é uma religião reconhecida pela sociedade?
Nós nunca fomos reconhecidos enquanto uma religião. Temos nossos templos, artefatos, práticas e cultura sob constante ataque de diferentes formas, seja física ou juridicamente. Por exemplo, não vemos uma grande preocupação por parte daqueles que teoricamente deveriam nos representar em atender a nossas demandas. Nossos irmãos e irmãs nem sequer têm o direito de se afirmarem enquanto candomblecistas, por medo de serem repreendidos em todo e qualquer lugar da sociedade brasileira, nas escolas, nas empresas e por aí vai.
Na universidade, você acha que o reconhecimento é diferente?
Na universidade não é diferente. O racismo religioso (cultural) incide sobre nossas práticas para apagar tudo aquilo que é tido como ‘de preto’ ou que vem ‘da África’, considerado ruim, primitivo e diabólico. Por isso há a diferenciação de racismo religioso para intolerância religiosa, porque o racismo agride mesmo naqueles que não são da religião. Basta serem negros para serem chamados de ‘macumbeiros’. O racismo religioso inferioriza e subalterniza nossa cultura, religião e qualquer manifestação de cunho ou matriz negra, e ataca também a nós, negros e negras, com o projeto de higienização e branqueamento da sociedade brasileira.
Edição: Joana Tavares