De volta às urnas, políticos e eleitores dão início a um novo embate eleitoral na Venezuela. Começou nessa quinta-feira (23) a campanha para as eleições municipais, que serão realizadas no dia 10 de dezembro. Serão eleitos um total de 335 prefeitos, nos 23 estados venezuelanos. Essa é a terceira eleição do ano, depois da Assembleia Nacional Constituinte, em 30 de julho, e as eleições para governadores, em 15 de outubro.
Além do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), do presidente Nicolás Maduro, outras 16 organizações políticas nacionais e 55 regionais postularam candidatos. Entre elas, estão alguns partidos opositores como a Avançada Progressista, o Copei, Un Nuevo Tiempo e o Podemos.
Somente o Avançada Progressista inscreveu 256 candidatos. Este jovem partido, criado em 2012, é fruto da dissidência de partidos de direita e também de esquerda. Atualmente, a agremiação política tem três deputados eleitos para a Assembleia Nacional (Congresso venezuelano) e quatro prefeitos.
Por outro lado, oito partidos da oposição ao governo venezuelano afirmaram publicamente que não participariam desse processo, entre eles estão o Primero Justiça, o Voluntad Popular e o Ação Democrática (AD), que representam boa parte dos votos opositores. Seus líderes alegaram irregularidades nas últimas eleições e falta de garantias por parte do governo e do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Um dos porta-vozes da oposição, o deputado Henry Ramos Allup, do partido Ação Democrática, disse que não participar do pleito foi uma "decisão forçada", pois o governo do presidente Nicolás Maduro "não quer que a oposição participe de nenhum processo eleitoral". No entanto, muitos militantes do Ação Democrática estão concorrendo por meio de outras legendas.
Em um dos municípios mais importantes da Grande Caracas, Miranda, o candidato opositor, Dawin González, é um vereador filiado ao partido Primero Justiça, liderado pelo deputado Júlio Borges e pelo ex-governador do estado de Miranda Henrique Capriles, que perdeu as duas últimas eleições presidenciais.
O deputado da Assembleia Nacional, Edgar Zambrano, do Ação Democrática, admite que ainda que os maiores partidos da oposição não estejam participando formalmente do processo, as forças políticas opositoras "têm candidatos em todos os municípios do país". "Não saberia dizer quantos militantes da AD estão participando. Porém, posso dizer que é um número importante, sobretudo nos estados onde os governadores são do nosso partido e, também, naqueles municípios em que a prefeitura em que já temos prefeito e que, agora, tentam se eleger para um novo mandato", explica.
Críticas
Já a deputada da Assembleia Nacional Constituinte Tania Díaz, quadro importante do PSUV, diz que essa estratégia da oposição se deve ao "desprestígio" de seus partidos. "Fica em evidência o fracasso e o desprestígio da oposição por ter optado, nos meses de abril a julho, pela agenda da violência e do terrorismo. Tanto a eleição Constituinte quanto o triunfo do governo nas eleições regionais significam um voto de confiança ao chavismo, mas também um voto de castigo dos eleitores da oposição", avalia.
A deputada constituinte afirma ainda que o "duplo discurso" opositor reflete uma crise interna da Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalisão que reúne mais de 20 partidos opositores. "A oposição tem um duplo discurso. Diz que não vai participar das eleições, mas apresenta candidatos tutelados por seus partidos políticos tradicionais. No interior da MUD existe uma ruptura que é pública. Já não podem apresentar-se diante do eleitorado como uma unidade política. Por isso, se mascaram, se ocultam", critica Díaz.
Já o deputado opositor Edgar Zambrano justifica a decisão da oposição. "No momento em que a decisão de não participar foi tomada, os líderes avaliaram que esta opção oferecia maior possibilidade de êxito diante da postura do governo. Avaliaram as condições eleitorais, as diferentes reivindicações diante de abuso de poder, a falta de igualdade de condições. Tudo isso motivou a não participação nessas eleições", diz.
Ele ressalta ainda que os partidos não são obrigados a inscrever candidatos. "A participação nas eleições, assim como o voto, é um direito, mas não é obrigatória. Ou seja, essa escolha tem suas consequências", reconhece Zambrano.
O Brasil de Fato entrou em contato com a assessoria de imprensa da MUD, que confirmou que, apesar de os partidos não participarem formalmente, "vários dos militantes de seus partidos se postularam através dos partidos Copei, Avançada Progresista e Un Nuevo Tiempo". Um dos interlocutores dessa organização, em conversa com a reportagem, admitiu que trata-se de "um jogo político complexo que vai, inclusive, contra o discurso da MUD".
Além das municipais, também será realizada uma nova eleição para governador de Zulia, importante estado petroleiro, localizado na fronteira com a Colômbia. O governador eleito em outubro, Juan Pablo Guanipa, foi o único que não fez o juramento diante da Assembleia Nacional Constituinte, poder do Estado que convocou as eleições. Por essa razão, seu mandato não foi reconhecido e novas eleições foram convocadas.
Diálogo
Após a eleição da Assembleia Nacional Constituinte e o fim dos protestos violentos da oposição, o governo de Nicolás Maduro fez reiterados chamados públicos ao diálogo com os partidos opositores.
Depois de várias tentativas fracassadas, governo e oposição finalmente chegaram a um acordo sobre os pontos que estarão sobre a mesa nesse processo. As duas partes confirmaram que, nos dias 1 e 2 de dezembro, irão para a primeira rodada de negociação, na República Dominicana, onde serão debatidos temas como: eleições livres e transparentes, liberação de presos opositores que participaram de protestos violentos e um plano de emergia de ajuda humanitária.
Em um comunicado, a MUD classificou como positivo o acordo que define os pontos em debate. "Podemos considerar como positivo o balanço da reunião preliminar. Finalmente conseguimos que o governo aceitasse o acompanhamento dos chanceleres dos países mediadores, entre eles Chile, México, Paraguai, Bolívia e Nicarágua. Assim como a participação do presidente da República Dominicana, Danilo Medina", dizia o comunicado.
Para a deputada constituinte Tania Díaz, a expectativa é que o diálogo resulte em um cenário político novo no país. "É isso ou a guerra. Tem que surgir uma nova oposição. A extrema direita foi derrotada nos últimos processos eleitorais", afirma a deputada, que é uma das porta-vozes do chavismo (tendência política de esquerda associada ao projeto político defendido pelo ex-presidente Hugo Chávez).
O deputado Edgar Zambrano concorda que essa é a única maneira de evitar uma guerra civil na Venezuela. "Não existe outro canal, outra possibilidade mais eficiente, em uma situação de conflito, que o diálogo", destaca. Segundo o congressista, seu partido, o Ação Democrática, que se consolidou como o maior partido da oposição nas eleições para governadores, está apostando no diálogo com o governo.
"O Ação Democrática vai participar do diálogo nos dias 1 e 2 de dezembro, na República Dominicana. Somos pró-diálogo, porque entendemos que é o mecanismo para desativar a crise que vive o país, a outra opção é ir às armas. Isso seria totalmente ilógico que, em pleno século 21, as forças políticas de um país não possam se entender sem balas e mortes", acredita.
Portanto, pode-se resumir que, entre eleições e diálogos, a Venezuela busca saídas para superar as diferentes crises que afeta diretamente a vida e o cotidiano da população.
Edição: Vivian Neves Fernandes