Um processo eleitoral que viu milhões de hondurenhas e hondurenhos sair pacificamente para votar para eleger suas autoridades nos próximos quatro anos está se tornando rapidamente uma farsa eleitoral, que em breve pode se virar uma crise política perigosa.
Os magistrados do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) se recusam a anunciar os resultados das eleições de 26 de novembro. O único relatório, da madrugada da segunda-feira (27) — conseguido pela pressão dos observadores internacionais — com o resultado de 58% das atas, apontou que o candidato da Aliança da Oposição, Salvador Nasralla, teve uma vantagem superior a 100 mil votos com relação ao seu oponente principal, o atual presidente Juan Orlando Hernández.
Ambos os candidatos se declararam vencedores, os temperamentos estão se aquecendo e o TSE, de maneira suspeita, está em silêncio. Somente o magistrado substituto Marco Ramiro Lobo admitiu que a vitória de Nasralla "é irreversível".
De acordo com o presidente do TSE, David Matamoros, o tribunal dará resultados finais quando contar todas as atas. Ainda haveria cerca de 7.500 atas que, supostamente, não poderiam ser transmitidas eletronicamente dos centros de votação e que, neste momento, estão sendo entregues fisicamente. Estas atas representam aproximadamente 2 milhões de votos. Os resultados serão anunciados até quinta-feira (30).
No entanto, tanto a Aliança da Oposição quanto o Partido Liberal afirmam ter em suas mãos uma quantidade muito maior de atas. Segundo os dados da contagem paralela da Aliança da Oposição, com 71,4% das atas físicas processadas, Nasralla (45,6%) manteria uma vantagem de 5 pontos em relação a Hernández (40,6%). Muito atrás, o candidato liberal Luis Zelaya teria 13,9%. A diferença é quase 118 mil votos. Os liberais dizem ter mais do que 90% das atas em suas mãos.
"O Tribunal tem os mesmos dados. Os observadores também. A tendência é irreversível e eu sou o novo presidente. Então, por que eles estão em silencio?", se perguntou Nasralla diante uma multidão novamente reunida em frente do prédio do TSE para exigir que ele deixe de atrasar la publicação de resultados.
A incerteza criada pelas autoridades eleitorais está sendo explorada pelo partido no poder e pelo atual mandatário e candidato para a reeleição, que se proclamou vencedor, ainda que a contagem apresentada por ele faça sempre referência a pesquisas internas. Ativistas do Partido Nacional tomaram as ruas em diferentes partes do país.
Juan Orlando Hernández está ficando sozinho, já que o candidato do Partido Liberal, Luis Zelaya, reconheceu a vitoria de Nasralla e concordou em trabalhar com ele e a Aliança durante o próximo mandato.
"Juan Orlando (Hernández) e seu partido não se atrevem a reconhecer sua derrota generalizada. Por favor, façam agora, não podem reverter isso. O povo decidiu e deve ser respeitado. Espero que o tribunal nas próximas horas tome a decisão de dizer a verdade", disse Nasralla diante a multidão.
Edição: Nicarágua y Más | Tradução: Pilar Troya