"Descobrimos, depois de uma investigação, laços diretos entre a Embaixada dos Estados Unidos na Venezuela e um plano para provocar retardo na indústria petroleira. Queriam desencadear o que eu chamo de 'uma paralisação silenciosa' da indústria petroleira", afirmou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, durante o evento de posse do novo presidente da empresa Petróleo da Venezuela S.A (PDVSA), o general Manuel Quevedo, na última terça-feira (28).
Desde agosto, o novo procurador-geral da República, Tarek William Saab, designado pela Assembleia Nacional Constituinte, vem coordenando uma série de investigações na PDVSA. Altos executivos da empresa e da sua sucursal nos Estados Unidos foram presos nas últimas semanas, acusados de participar de um esquema de corrupção e de sabotar a companhia.
Segundo Maduro, o esquema ia muito além dos interesses pessoais dos funcionários da PDVSA, tudo fazia parte de um plano para "diminuir a produção e paralisar as refinarias".
O presidente revelou ainda que navios estrangeiros atracavam em portos venezuelanos para roubar o petróleo extraído pela PDVSA. "Estavam roubando o petróleo. Traziam navios internacionais e os enchiam de petróleo cru ou produtos derivados e pagavam em contas pessoais. Uma verdadeira máfia", disse.
Se os Estados Unidos continuarem "sabotando e impondo bloqueios econômicos contra o governo venezuelano e a PDVSA", a Venezuela pode deixar de vender petróleo para o mercado norte-americano, sentenciou Nicolás Maduro.
"Senhor presidente Donald Trump, o senhor decide, se quiser que continuemos a vender petróleo, vendemos petróleo. Se um dia o senhor se deixar convencer pelos loucos extremistas da direita, a Venezuela agarra seus barquinhos e leva seu petróleo para vender ao mundo", anunciou. Segundo o mandatário, a Ásia poderia ser um mercado alternativo para a Venezuela. "No dia em que os Estados Unidos não quiserem nosso petróleo, venderemos à Ásia, não temos problema", disse Maduro.
Atualmente, cerca de 40% do petróleo produzido pela Venezuela é vendido aos EUA. Isso representa 15% do total importado pelos norte-americanos.
Sabotagem
Em setembro, nove pessoas foram presas, acusadas de sabotar a Petrozamora, uma empresa mista fundada pela PDVSA e a companhia russa Gazprom. A investigação foi realizada por uma agência de inteligência venezuelana, a Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM), após uma denúncia de funcionários russos.
Na denúncia, os funcionários da Gazprom apontaram irregularidades na aquisição de insumos químicos para processar o petróleo e, também, corte de gás na planta industrial, com objetivo de desqualificar o desempenho dos sócios russos e provocar um rompimento das relações comerciais entre a Venezuela e a Rússia.
"As recorrentes e agressivas ações de sabotagem na produção de petróleo na empresa mista Petrozamora tinham como intenção romper relações com a Rússia e desestabilizar a economia venezuelana, por meio de uma eventual ruptura do convênio com o governo russo", essa foi a conclusão preliminar da investigação realizada pela DGCIM, divulgada pela imprensa venezuelana.
Espionagem industrial
A terceira maior petroleira dos Estados Unidos, a Conoco Phillips, com sede no estado do Texas, teria comprado informações confidenciais das operações da mais importante empresa subsidiária da PDVSA em solo estadunidense, a Citgo.
O canal internacional de TV Telesur informou que o ex-presidente da Citgo José Ángel Pereira Ruimwyk foi mencionado, em fevereiro de 2014, pelo WikiLeaks como informante da Embaixada dos Estados Unidos. De acordo com as informações divulgadas pelo WikiLeaks, Pereira teria informado ainda qual seria a estratégia da PDVSA em uma disputa judicial contra as transnacionais Exxon Mobil e a Conoco Phillips. O Ministério Público da Venezuela está investigando este caso de espionagem industrial.
A presidenta da Assembleia Nacional Constituinte, Delcy Rodriguez, criticou a ação de espionagem em sua conta no Twitter. "Graves irregularidades na Citgo fazem parte da guerra econômica planejada desde Washington contra o povo da Venezuela", escreveu.
Desde 2006, a Conoco Phillips trava uma briga judicial contra o governo venezuelano. Isso porque o ex-presidente Hugo Chávez desapropriou projetos de exploração de petróleo dessa multinacional da Faixa do Orinoco, região da Venezuela onde está localizada a maior reserva de petróleo do mundo.
O governo venezuelano pagou pelo bens desapropriados, tanto no caso da Conoco Phillips quanto da Exxon, outra petroleira norte-americana. No entanto, as duas empresas brigam, há anos, por uma indenização milionária sob a alegação de terem seus interesses comerciais afetados pelo governo da Venezuela.
Em janeiro deste ano, a Conoco Phillips entrou com outra ação judicial contra a PDVSA, depois que esta empresa transferiu 49% de suas ações da subsidiária Citgo Holding para a empresa de petróleo russa Rosneft. Na ocasiãol, a Conoco Phillips disputava na Justiça o direito pelo controle das ações da Citgo, como forma de pagamento pela indenização reivindicada.
Edição: Vivian Neves Fernandes