Já se foram quinze longos anos de acampamento, sem energia elétrica - que só chegou no fim de outubro deste ano - sob ameaça de fazendeiros e com inúmeras outras dificuldades para morar e produzir no local. Mesmo assim, pode-se dizer que, desde o começo, o acampamento transforma o panorama da produção local.
Felisburgo tem quase 7 mil habitantes. A coordenadora Eni Gomes (MST) diz que, em 2002, a produção agrícola era precária e só havia uma feira na cidade, com poucos produtos e quase nenhuma variedade. Os sem-terra foram para a feira e, em seu primeiro ano acampados, responderam por 80% da produção de Felisburgo. Além do crescimento da feira, outro efeito imediato foi a queda nos preços dos alimentos.
“A fazenda, quando ocupamos, era criação de boi, mais nada. Agora fazemos farinha, bejú, derivados do leite, produtos orgânicos, tudo sem veneno, hortaliças, numa produção variada. As famílias estavam na cidade todo dia batendo na porta da Prefeitura, pedindo cesta básica. Hoje, temos produção para dar, distribuir. Na primeira produção de Terra Prometida, só de feijão foram 800 sacos. Tudo sem veneno”, ressalta Kelly Gomes.
Antes mesmo do massacre, os trabalhadores sem-terra construíram no braço três quilômetros de estrada. “Abrimos no enxadão. Os homens cavando e as mulheres tirando a terra na pá, jogando para o lado”, recorda Eni Gomes. As casas, que eram de lona, agora são de alvenaria. Com a mesma disposição para o trabalho e a luta, toda vez que o poder público negou alguma coisa, o movimento conquistou o direito na raça.
Foi assim que, fazendo ocupações na sede da Prefeitura e em outros órgãos públicos, garantiram uma escola de primeira a quinta-série no acampamento, um ônibus para transportar os estudantes para outras escolas, um posto de saúde que atende duas vezes por mês. Agora, negociam a construção de barragens para captação de água, em uma região que tem enfrentado seríssimos problemas com a seca. “Tudo veio sempre com muita dificuldade, mas o bacana é que foi conseguido por nós”, conclui, orgulhosa, a coordenadora.
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Edição: Joana Tavares