Como se não bastasse o trauma, o grileiro Adriano Chafik Luedy voltou a ameaçar os sem-terra. Ele chegou a ser preso poucos dias após o ocorrido, mas foi liberado. Pelo crime, três processos de indenização corriam na Vara de Justiça de Jequitinhonha, cidade que fica a 69 km de Felisburgo. Um deles pediu que as vítimas fossem indenizadas pelos seus bens destruídos; outro, indenização aos feridos; ainda outro processo solicita indenizações aos familiares dos mortos. Apenas este último ainda não foi julgado. Os demais foram indeferidos, ou seja, negados pela Justiça.
“Ficaram traumas, sofrimentos nas famílias. Minhas filhas e esposa não saem sozinhas até hoje. Os pistoleiros mataram cinco, balearam 12 e nada de a Justiça tomar providências. Dizem que a Justiça é cega, mas cego é aquele que não quer ver. O que ficou para nós foi a desgraça. Para eles, a falta de compromisso com a sociedade”, aponta o agricultor Irineu Marques.
Um pistoleiro morreu sem pagar pelo crime. Um julgamento realizado em 2013 condenou o grileiro Adriano Chafik Luedy a 114 anos de cadeia e um de seus funcionários, Washington Agostinho da Silva, a 97 anos. Na ocasião, dezenas de agricultores ocuparam o Fórum Lafayete, em Belo Horizonte, onde aconteceu o júri. Condenados, Adriano e Geraldo saíram direto para a cadeia, mas uma liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ) os libertou. Em 2014, outro júri condenou Francisco de Assis Rodrigues de Oliveira e Milton Francisco de Souza (“Milton Pé de Foice”) a 102 anos e seis meses de prisão por tentativa de homicídio, homicídio qualificado e destruição do acampamento.
No entanto, todos os quatro condenados estão livres. Um primo de Chafik, o ex-policial Calixto Luedy Filho, é o único preso até agora. Em 2015, ele foi capturado em uma fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na BR-235, em Aracaju (SE). Calixto, assim como os outros envolvidos, ainda não foi julgado.
“Ele está preso, na verdade, porque fugiu e ficou foragido por quase dez anos. Apenas por isso ele está preso. Se estivesse empregado, atualmente estaria respondendo ao processo em liberdade, como os outros”, explica o jurista Alexandre Soares de Almeida. Ele atribui essa situação ao alinhamento entre o Judiciário e os interesses dos fazendeiros.
“O Judiciário faz vistas grossas, ainda mais quando é um crime dos latifundiários contra os pobres do campo. Os fazendeiros usam várias artimanhas e o Poder Judiciário se aproveita disso para poder julgar a favor, obviamente, do fazendeiro, para não ter nenhum condenado ou, se for condenado, não ser preso”, explica.
Após uma série de recursos da defesa do fazendeiro, a Procuradoria Geral do Estado de Minas Gerais (AGE) decretou a prisão de Adriano Chafik Luedy, acatada pelo juiz Jorge Mussi, do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), em maio de 2017. Desde então, ele é considerado foragido da Justiça.
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Edição: Joana Tavares