As delegações do governo da Venezuela e da Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalizão de partidos opositores, estão reunidas nessa sexta-feira (1) e neste sábado (2) na República Dominicana para dialogar e negociar o fim do conflito político e econômico que resultou em mais de cem mortos neste ano.
Os pontos da negociação foram previamente acordados entre as partes. O governo espera conseguir garantias de paz e que a oposição aceite os resultados eleitorais, independentemente do resultado, além de chegar a um acordo para estabilizar a economia, frear o boicote empresarial e o bloqueio internacional. Já a oposição leva para a mesa proposições como a realização de "eleições limpas e seguras", a liberação de presos em função de protestos violentos realizados pela oposição entre abril e julho, a devolução das faculdades legais da Assembleia Nacional (Congresso), que foram suspensas "por desacato" pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ), e abertura de instrumentos de ajuda humanitária devido à situação econômica do país.
A comunidade internacional também participa da mesa de negociação. Como convidados do governo venezuelano participam os ministros de Relações Exteriores da Nicarágua, da Bolívia e de São Vicente e Granadinas. Por parte dos partidos opositores estão os chanceleres do Chile e do México. O ministro do Paraguai, também convidado da oposição, cancelou sua participação.
O papel do ministros de outros países é o de observadores, mediadores e testemunhas oficiais de um possível acordo. O presidente da República Dominicana, Danilo Medina, anfitrião dos diálogos, igualmente participa da mesa negociação política.
Na Venezuela, a população espera com expectativa os resultados das negociações e tem a expectativa de que governo e oposição possam chegar a um acordo para alcançar a paz. "Os diálogos de paz são o melhor para o país. Para nos unir. Que ano que vem seja melhor que este ano e que o diferencial seja a paz", diz o aposentado Carlos Gallano, morador de Caracas.
Para as a engenheira Ileana Osório, seu país precisa reencontrar o caminho pacífico. "Creio que na Venezuela é necessário que a oposição e o governo sentem a dialogar, porque necessitamos que as coisas se resolvam de maneira pacífica. Nos últimos 20 anos, vivemos em um país democrático, onde se respeitam as decisões das maiorias e das minorias também. Agora, os diálogos são necessários porque os últimos meses foram de conflitos", defende.
Porta-vozes
Durante este ano, ocorreram diferentes tentativas de diálogo, mas alguns partidos da oposição faltaram aos encontros agendados na República Dominica nos meses de setembro e outubro. Esta é a primeira vez que todos os porta-vozes comparecem à mesa de negociação e aceitam dialogar com o governo.
Entre as delegações o clima prévio ao encontro era de otimismo. Nessa sexta (1), o presidente Nicolás Maduro comemorou o fato de a oposição aceitar o diálogo. "Consegui, estou conseguindo. Hoje, pela primeira, vez a MUD sentou na mesa de diálogo de maneira definitiva. Essa é uma conquista nacional", escreveu em sua conta na rede social Twitter.
O chefe da delegação do governo, o ministro de Comunicação, Jorge Rodríguez, fez declarações à imprensa direto da República Dominicana. "Viemos aqui já com uma agenda pré-acordada e temos como objetivo principal a proteção econômica do povo venezuelano. Escutaremos o que a oposição tem a dizer, mas também exigimos o cesse imediato das agressões econômicas contra a Venezuela. Outro ponto da negociação são as garantias políticas para as eleições. A Venezuela está em condições e capacidade de proporcionar todas as garantias dos processos eleitorais", destacou o ministro.
A Mesa da Unidade Democrática divulgou um comunicado no final da jornada de negociação de sexta. "Estamos trabalhando intensamente nesses dias com a equipe de negociação da MUD, com o mais sincero interesse no país e na possibilidade de construir soluções para melhorar a dramática situação nacional", dizia o comunicado.
O presidente da Assembleia Nacional, o deputado Julio Borges, líder do partido Primeiro Justiça, concedeu uma entrevista coletiva nesta semana antes de ir à República Dominicana. "Temos uma agenda nítida de luta, que iremos levar a esse processo de negociação, onde, pela primeira vez conseguimos que seis chanceleres sentassem à mesa, assim como o presidente da República Dominicana", disse o deputado opositor.
Até domingo (3), as duas delegações devem anunciar o resultado da negociação e se chegaram ou não a um acordo de paz.
Edição: Vivian Neves Fernandes