“É nóis” é uma gíria empregada pelas camadas populares urbanas, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, para designar uma concordância, significa estamos juntos, somos nós. Me parece ser a síntese, o sentido profundo de unidade e o desafio político das organizações de esquerda no seio das massas populares urbanas e camponesas.
Apenas a formação de um núcleo popular unindo povos das vilas, morros, trabalhadores urbanos em geral, camponeses e setores médios ligados indústria, comércio e serviços em torno de reformas políticas e socioeconômicas poderá fazer frente aos sacrifícios humanos e naturais exigidos pela banca internacional.
O mercado financeiro, essa entidade que como diria Elias Canetti no seu livro Massa e Poder “se assemelha, ainda que apenas superficialmente, às religiões universais, à cata de todas as almas” é o verdadeiro espectro que ronda o mundo, fazendo sucumbir Estados-nacionais, governos, povos e territórios, e agora leva ao paulatino esgotamento da cereja política do capitalismo global, a saber, a democracia liberal.
A histeria do mercado financeiro é proporcional ao crescimento das intenções de voto em Lula 2018. Jovens analistas, serviçais do mercado, já alardeiam que “O Risco Lula 2018” pode afetar a volúpia dos investimentos financeiros, e que a eleição de um candidato populista levaria a “venezuelização” da economia brasileira.
Sites como Empiricus, é um dos porta vozes do mercado financeiro que, travestidos de “analistas independentes” em investimentos financeiros, cultivam o medo como forma do que fazer política oferecendo pílulas de conhecimento para quem quer se dar bem na vida sem o ônus de trabalhar ou, para os 1% abastados, arriscar-se em investimentos na indústria, agricultura, serviços entre outros. Um sonho bem típico da formação da lumpemburguesia brasileira, que se constituiu à base da escravidão, patrimonialismo, e às expensas da soberania nacional e da população em geral.
A crise econômica e a deterioração da democracia liberal pós 2008 são os substratos que elevam de nível a luta política em âmbito internacional. Toda sorte de intervenções golpistas, guerras e as disputas intestinais pela nova geopolítica do poder decorrem da crise de governança das finanças no plano global.
No Brasil, a profunda cisão de classes que se revela pós 2013 dificulta o sonho da reencarnação de um pacto nacional conciliador, levando a crer que para ambos os polos da luta não haverá saídas sem radicalização das soluções e confrontação de projetos.
A burguesia é quem melhor compreendeu essa passagem e, com mais rapidez adaptou-se à nova conjuntura. Ao tomar outras experiências históricas, o golpe em processo, combina variadas fases que passa pela desestabilização, o golpe parlamentar, as reformas antipopulares e a destruição da soberania nacional, e em 2018 procura consolidar-se através da ascensão conservadora pelo processo eleitoral, para conferir legitimidade, e desencadear o desfecho final de cerco e aniquilamento das forças sociais e políticas que lhe façam oposição institucional ou nas ruas.
Subordinada ao rentismo internacional, valendo-se do monopólio da mídia e do uso do judiciários como fiador, a burguesia tem um roteiro claro: impedir a candidatura de Lula, derrotar qualquer alinhamento de centro-esquerda ou mesmo impedir as eleições diretas abrindo uma crise institucional sem precedentes lançando o país rumo a convulsão social.
A despeito de nossas vontades e da emergência de lutas setoriais e resistência, mesmo que importantes, todas as forças parecem condensar suas energias para o desfecho do processo eleitoral de 2018. Tal movimento, me parece, não resulta de uma simples aposta na via institucional como solução, mas a possibilidade real da combinação de luta de massas com alteração da relações de força repercutindo na esfera de poder estatal.
É nesse quadro de rupturas e continuidades que reside a oportunidade das forças populares e da esquerda em revigorar-se, acumular forças, bloquear o processo golpista e reencontrar-se com seu projeto estratégico.
Para tanto a esquerda, e as candidaturas de esquerda, devem retomar sua radicalidade, demonstrando o núcleo, o denominador comum das mazelas que atingem o povo brasileiro, a saber, os bancos e o capital financeiro que sequer permite milimétricos avanços sociais.
Radicalizar no que tange a soberania popular, a democracia direta, reformando o capítulo do poder do Estado brasileiro, quebrando as travas para reformas econômicas de cunha popular.
Ou logramos êxito em tal luta, ou o capital financeiro, a banca, aqueles 1%, continuarão a exigir mais e mais sacrifícios humanos. Daí que em 2018 representa uma batalha decisiva contra os bancos e sua política de austeridade imposta ao mundo e ao Brasil.
“É nóis” também é empregado na celebração de vitórias. 2018 será o ano do “é nóis” contra os bancos.
O povo brasileiro sairá vitorioso!
Edição: Brasil de Fato