Dados divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontaram o crescimento de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país no terceiro trimestre deste ano, em relação ao segundo trimestre de 2017. O fato foi exaltado pela grande mídia como uma "recuperação econômica".
No entanto, para especialistas em economia e análise da mídia consultados pelo Brasil de Fato, a alteração de 0,1% não representa crescimento e está sendo usada como uma estratégia para aumentar a popularidade da Reforma da Previdência, que pode ser votada na próxima semana.
Adriana Marcolino, economista e pesquisadora do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), considera que a abordagem tem como objetivo “vender” a reforma da Previdência como positiva:
"Mas, na verdade, a reforma da Previdência tem a ver com a busca do mercado de querer se apropriar da aposentadoria das pessoas, o fato de o governo querer se desresponsabilizar com a aposentadoria, a questão de um estado mínimo e política neoliberal, então não tem relação com isso, é uma coisa que tentam vender, mas a reforma não tem relação com essa justificativa", diz.
A economista se refere às reportagens publicadas em veículos como Estadão, G1, Valor e Folha de S. Paulo ao longo da semana. Na Folha, a reportagem “Economia do Brasil cresce 0,1% e fica estável no 3º trimestre” traz abertamente a posição do jornal de que, para que o país mantenha a suposta "trajetória de recuperação”, é preciso que sejam adotadas medidas de contenção de despesas, sendo "a principal delas a reforma da Previdência".
De acordo com Renata Mielli, secretária-geral do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, essa é uma estratégia frequente de grandes empresas de comunicação: “Ainda no governo Dilma, quando você tinha um índice produtivo da economia, vinha tentativas de diminuir o resultado econômico. Quando houve o golpe, os pequenos resultados ou mesmo os resultados negativos eram divulgados como conquistas ou avanços".
Mielli considera que se trata de uma tentativa de manipulação: "E essa divulgação do 0,1% do PIB está dentro dessa narrativa de tentar vender para a sociedade que o governo está sendo responsável por uma recuperação econômica, e na verdade é cortina de fumaça".
A economista Marcolino ressalta que não é possível analisar a situação do país sem levar em consideração a questão trabalhista:
“Ao contrário, em outra pesquisa sobre o resultado do emprego, que saiu na semana passada, a PNAD contínua [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios], vemos que os empregos que estão sendo gerados são de pré-qualidade, sem carteira assinada e com rendimentos menores. Então, o que estamos vendo ser chamado de "recuperação econômica" é um cenário de ampliação das desigualdades", afirmou.
Para o Dieese, além de a redução do desemprego estar baseada em trabalho precário, a oscilação dos indicadores sobre a indústria e sobre a arrecadação do governo também é elemento que prova que o país não está em uma trajetória de recuperação.
Edição: Vanessa Martina Silva