A Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalizão que reúne cerca de 20 partidos políticos opositores ao governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, vai mudar de nome, regulamento interno e composição. Portanto, vai desaparecer enquanto organização política, segundo o integrante do partido Ação Democrática, Negal Morales, um dos porta-vozes da oposição na mesa de negociação com o governo da Venezuela.
"A MUD pode mudar de nome e seu regulamento interno. Estamos nos articulando como novo espaço de encontro e confluência. Os partidos de oposição terão que continuar trabalhando juntos naquelas coisas que os unem e seguir moldando, deixando para trás as coisas que têm nos separado. Nos próximos meses veremos uma nova plataforma política, rearticulada", disse Morales, em entrevista ao Brasil de Fato.
Além disso, a nova organização opositora terá outra composição e deixará de ser exclusivamente partidária para agregar federações de empresários, ONGs e sindicatos de trabalhadores. "A ideia é ter uma coalizão que vá mais além dos partidos políticos, que pudesse se abrir também em relação à sociedade civil", disse o porta-voz do Ação Democrática.
Criada em 2011, a MUD tinha como objetivo lançar candidato único nas disputas eleitorais contra o ex-presidente Hugo Chávez, e depois contra o presidente Nicolás Maduro. No entanto, os problemas internos entre os líderes dos principais partidos criaram fissuras e divisões, sobretudo depois das duas últimas derrotas eleitorais sofridas pela oposição esse ano: a da Assembleia Nacional Constituinte, em julho, e as eleições regionais para governadores, em outubro.
Esse novo cenário político que começa a ser construído tem como horizonte as eleições presidenciais, previstas para o final de 2018. O candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) é o presidente Nicolás Maduro. O anúncio foi feito semana passada pelo vice-presidente da Venezuela, Tareck el Aissami, durante um congresso do partido.
Do lado opositor, os possíveis candidatos ainda são incertos, mas também já começam a surgir as primeiras declarações públicas sobre o tema. O deputado da Assembleia Nacional (Congresso), Edgar Zambrano, do Ação Democrática, um dos maiores partidos da oposição, disse que sua organização apresentará candidato nas eleições primárias da oposição, nas quais serão escolhidos um presidenciável único. "Nós temos um candidato, e esse candidato para as primárias é o companheiro Henry Ramos Allup", afirmou, em entrevista ao canal de televisão Globovisión.
De acordo com Negal Morales, o partido Primeiro Justiça ainda não definiu seu candidato. Isso porque uma das principais lideranças da agremiação Henrique Capriles está inabilidade politicamente, pois foi condenado pela Justiça, acusado de corrupção e improbidade administrativa. Ele foi o candidato da MUD contra o ex-presidente Hugo Chávez, em 2012, e o concorrente do presidente Nicolás Maduro, em 2013. Mas, em função de uma divergência com o Ação Democrática, ele abandonou a MUD após as eleições para governadores.
Portando, o candidato mais provável é o atual presidente do Congresso, Julio Borges. No entanto, essa não é a única alternativa de seu partido. "Existe a possibilidade de o candidato do Primeiro Justiça ser Juan Pablo Guanipa, governador eleito pelo estado de Zulia, mas que não assumiu o governo porque não aceitou juramentar diante da Assembleia Nacional Constituinte", aponta Morales.
Em relação ao terceiro mais importante partido do país, o Vontade Popular, como seu principal líder, Leopoldo López está em prisão domiciliar, acusado de convocar protestos violentos em 2014, é provável que essa organização não lance candidato próprio, de acordo com Negal Morales. "Creio que, talvez, eles optem por apoiar alguma candidatura de setores próximos. Para nós, do Ação Democrática, seria extraordinário poder montar uma plataforma única com eles para as eleições primárias", destacou.
Se para a oposição o desafio é manter a unidade, para o chavismo (força política liderada pelo PSUV, criado por Chávez), a grande tarefa é resolver os problemas econômicos do país e voltar a empolgar os eleitores de esquerda. Isso é o que avalia a deputada constituinte Maria Alejandra Dias (PSUV).
"O cenário econômico está marcando a volatilidade e a emotividade com que se define o voto. O governo deve ser muito certeiro com as medidas que vai tomar, para poder entusiasmar ao setor indeciso, que são os chamados 'nem, nem' [nem chavistas, nem opositores], que são os que decidirão as eleições", avalia a deputada constituinte.
Para Maria Alejandra, o cenário eleitoral não está definido e nenhuma das forças políticas tem vitória garantida. Ela acredita ainda que o chavismo precisa reconquistar sua base. "Existe um setor, nesse momento, que se sente órfão. E, nesse cenário, a situação econômica tem peso fundamental. A guerra econômica está afetando pessoa por pessoa, todos os dias. Isso está minando a credibilidade do governo", avalia. Por isso, as medidas econômica que serão anunciadas entre dezembro e fevereiro, de acordo com previsões do governo venezuelano, terão peso decisiva nas urnas.
Porém, a oposição chega às eleições presidenciais em desvantagem, segundo a deputada constituinte. Depois de sucessivas derrotas eleitorais, os partidos de direita vão às urnas fragilizados. "Chegam em piores condições, porque não têm projeto nem credibilidade, e destruíram sua organização. A bandeira deles, que era derrubar o governo, foi derrotada politicamente. Agora, estão tendo que reinventar-se. Então, chegam, mas chegam debilitados diante do cenário eleitoral", ressaltou a constituinte.
Se no chavismo não existe plano B, com o candidato já definido: o presidente Nicolás Maduro, considerado o sucessor de Hugo Chávez. Por outro lado, na oposição o único consenso é que haverá eleição interna para definir o candidato. "Mas, uma coisa é certa. Quem se eleger como candidato nas eleições primárias da mesa de unidade se converterá no líder político de toda a coalizão", garante o integrante do Ação Democrática, Negal Morales.
No país onde o cenário político muda em uma velocidade surpreendente, a imprevisibilidade passa a ser a regra. Portanto, até as eleições presidenciais venezuelanas é difícil prever qualquer resultado.
Edição: Vivian Neves Fernandes