Na Câmara Federal, as deputadas que combatem a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 181, que abre espaço para a criminalização do aborto em caso de estupro, travam também uma batalha contra a opressão praticada em diferentes níveis pelos deputados que dominam o colegiado. Formada por 35 membros, a comissão tem apenas seis mulheres. São 29 homens, a maioria deles branca e de tendência evangélica ou católica tradicional – grupos que patrocinam a PEC.
Durante as sessões do colegiado, a disputa ideológica é acirrada. "A gente vai à luta porque tem coragem pra enfrentar, mas é um esmagamento permanente porque eles não ouvem o que a gente fala. É uma posição dogmática, fechada. Eles não tentam nem ouvir os nossos argumentos", afirma Jandira Feghali (PcdoB-RJ).
Diante dos embates na comissão, a deputada Erika Kokay (PT-DF), que tem 40 anos de vida política – 15 deles dedicados ao parlamento –, considera o momento atual um dos mais espinhosos para a militância feminista na Câmara.
"Poucas vezes na minha vida eu tive a oportunidade de lidar com o fascismo, o machismo, a misoginia de forma tão crua, tão intensa. Eles não têm nenhuma modéstia em se apresentarem como são", diz.
Para a deputada, disputas como essa podem anunciar tempos ainda piores para as mulheres, exigindo um maior engajamento daquelas que lutam por igualdade de gênero nos espaços de poder, um tema nem sempre devidamente abordado pela mídia tradicional.
"A sociedade inteira deveria ver o que está acontecendo aqui pra ver o que a lógica fundamentalista, obscurantista, fascista está construindo nesta sociedade. Imagine se essa maioria e esse tipo de brutalidade se expandem pro conjunto da sociedade, se eles assumem a Presidência da República, se assumem mais cadeiras nesta Câmara, o que é que nós mulheres vamos enfrentar", projeta.
Sociedade civil
Além da situação enfrentada pelas deputadas que integram a comissão, mulheres de movimentos feministas que acompanham semanalmente as sessões do colegiado também se deparam com constantes objeções à sua participação no local.
Por ordem dos deputados conservadores que controlam a comissão, elas têm dificuldade não só para ingressar no espaço para assistir aos debates, mas também para se manifestar. Até mesmo os cartazes que protestam contra a PEC são por vezes proibidos de serem expostos.
"Eles não suportam o fato de que nós mulheres ganhamos a nossa autonomia e temos vários projetos de vida, e não só o tradicional de ficar em casa, parindo, procriando, enquanto eles ficam no cenário público, falando em nosso nome", aponta a militante Natália Mori, da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB).
Edição: Simone Freire