Mais de quinhentas famílias foram despejadas de forma violenta pela polícia na manhã da última segunda-feira (04), na ocupação Cidade Bonita, em Vitória da Conquista, na Bahia. Cinco pessoas foram feridas pelas agressões e tiros de bala de borracha, entre elas uma idosa, que foi atingida na nuca, e uma criança de sete anos, agredida no peito.
Moradores e movimentos populares relatam o clima de terror vivido. Durante todo o dia, as famílias tentaram dialogar com a Polícia e funcionários da Prefeitura que operavam as máquinas para derrubar as casas. Segundo eles, o que se ouvia eram ameaças e deboche por parte dos policiais, que a todo o momento estavam de armas em punho.
Fotos e vídeos gravados pelos próprios moradores registram a violência policial e o estado em que ficou o local após a ação da Prefeitura. Nas imagens, uma moradora desabafa: “como o pobre vai viver? Não tem condição do pobre viver mais. Pobre vai ter que morrer à míngua, na miséria. Porque não tem saúde, não tem educação, não tem moradia, não tem trabalho, não tem expectativa de nada”.
Há registro da ocupação de famílias no terreno desde 2013. Desde janeiro deste ano, o Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) também passou a atuar na região e as ocupações se juntaram, reunindo hoje cerca de três mil pessoas.
Segundo moradores, a área, de propriedade da Prefeitura, servia antes de depósito de entulho de construtoras locais. A ação de despejo foi solicitada pelo prefeito, Herzem Gusmão (PMDB), que tem se negado a dialogar com as famílias e movimentos desde o inicio do seu mandato. “O governo não tem dado nenhuma resposta que não seja o desrespeito e a violência”, afirma Leia Odara, do MTD.
Solidariedade e mobilização popular
“A palavra de ordem é não recuar”, completa Leia. O Movimento, juntamente com outras organizações e entidades, está realizando uma campanha de solidariedade às famílias da ocupação Cidade Bonita, recolhendo materiais de higiene, roupas e colchões. Além disso, militantes do MTD, MST, Consulta Popular e Levante Popular da Juventude e outras organizações estão contribuindo no apoio às famílias e ajudando a reconstruir os barracos no terreno. Alexandre Garcia, advogado que está acompanhando o caso, afirma que “está sendo dada assistência às famílias e todas as irregularidades e os abusos serão denunciados nas esferas competentes”, pontua Garcia.
“Se o governo não supre as demandas do povo, nós fazemos por nós mesmos. Voltamos a ocupar o espaço e dizemos que daqui a gente não sai enquanto não nos derem uma resposta à altura das necessidades reais do nosso povo. Estaremos permanentemente vigilantes e vamos avançar e mobilizar toda a sociedade para dar um basta nessa arbitrariedade”, conclui Leia Odara.
Edição: Jamile Araújo