A capital da Argentina, Buenos Aires, recebe a partir desse domingo (10) a 11ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), que contou com a fala de abertura do presidente do país, Maurício Macri, do partido Cambiemos, propagador de medidas neoliberais no continente. Antes do início da atividade, o governo argentino barrou a participação de membros da sociedade civil no evento e impediu a entrada no país de cerca de 60 estrangeiros, de acordo com informações da TeleSur.
As pessoas que foram impedidas de ingressar no país participariam da reunião ministerial ou de um evento paralelo ao da OMC, chamado Cúpula dos Povos. Entre as organizações vetadas na conferência ministerial estão a Via Campesina, a Confederação Sindical Internacional (CSI), a Amigos da Terra e a Rede de Justiça Global.
Já entre as pessoas deportadas estão a jornalista inglesa Sally Burch, especialista em direitos digitais, e Peter Titland, diretor da organização norueguesa Associação pela Taxação das Transações Financeiras e pela Ação Cidadã (ATTAC), ambos críticos das regras impostas pela OMC aos países e ao projeto econômico neoliberal representado pela organização.
As organizações barradas no evento expressaram que consideram as decisões de Maurício Macri como "um papelão internacional".
"Em mais de 20 anos da existência da OMC, nunca um governo anfitrião tomou decisões dessa natureza e amplitude. Muitas das organizações e pessoas cuja participação foi negada participaram ativamente nas Conferências Ministeriais e outros âmbitos institucionais da OMC desde a sua criação, assim como participaram de espaços de discussão e mobilização em diversos países de todo o mundo", declararam, em nota divulgada.
Evento popular
Em paralelo à reunião ministerial, integrantes de movimentos populares, entidades sociais e sindicatos de todo o mundo inauguraram a Cúpula dos Povos, uma forma de protesto ao evento econômico.
A inauguração da atividade popular crítica à OMC aconteceu na Praça do Congresso, na região central de Buenos Aires, com a realização de um festival musical chamado "Fora OMC, em defesa dos direitos e da vida".
Em nota, os movimentos e entidades presentes na Cúpula dos Povos expressaram a necessidade de lutar contra a OMC internacionalmente, porque a organização representa um ataque aos direitos dos povos em todo o mundo. "Entendemos que a luta contra a OMC é global e carrega uma história de mobilizações e articulações, já que esta instituição representa os interesses das empresas transnacionais e não os direitos ou as necessidades dos povos".
Também explicitaram que a realização da cúpula paralela ao evento da OMC é o momento de avançar na criação de "alternativas sociais, políticas, econômicas, feministas e ambientalistas para dar um fim à impunidade das empresas, respeitar os direitos humanos e garantir a preservação do meio ambiente".
Reunião
A conferência da OMC na Argentina, que acontece até a quarta-feira (13), é a primeira em um país da América do Sul e reúne 164 membros para debater e estabelecer regras para o comércio global, para a agricultura, para as pequenas empresas, para o comércio eletrônico, investimentos e pesca.
Na abertura da reunião estiveram presentes o presidente golpista do Brasil, Michel Temer, também os presidentes do Chile, Michele Bachelet, do Uruguai, Tabaré Vasquez, e do Paraguai, Horacio Cartes.
Além das regras relacionadas a essas áreas, paralelamente, os chefes de governo e ministros dos países presentes na reunião, entre eles o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes (PSDB), discutem um Acordo entre o Mercosul e a União Europeia. O setor ferroviário e a informática integram os principais itens da lista do acordo entre as duas regiões. Também estão em negociação itens da indústria agropecuária, como a soja e outros grãos, a carne e o biodiesel.
No entanto, os movimentos populares presentes na Argentina denunciam os impactos das regras da OMC à soberania alimentar dos países e também à economia digital, pois consideram que as decisões privilegiam as empresas transnacionais nas negociações.
"A OMC se reúne novamente para tentar impor o capital à custa da vida, do planeta terra e da democracia dos povos", afirma a Via Campesina, na convocatória para a Cúpula dos Povos.Para a organização camponesa, a atual situação política do Brasil e da Argentina, com governos de orientação neoliberal, privilegia a imposição da agenda da OMC nos países da região.
"Com Macri na Casa Rosada (Argentina), o golpista Temer no Palácio do Planalto (Brasil) e Roberto Azevedo como Diretor Geral, a OMC quer aproveitar o contexto regional para retomar o tema agrícola, colocar fim à pesca artesanal e avançar no Acordo Internacional de Comércio de Serviços (TISA), entre outros acordos multilaterais", declarou a organização.
Em artigo publicado em junho, a coordenadora da Rede Internacional "Nosso Mundo Não Está à Venda", Deborah James, alertava para os impactos das decisões da reunião para o comércio digital.
*Com informações da TeleSur, Marcha e Via Campesina.
Edição: Vivian Neves Fernandes | Tradução: Luiza Mançano