O ataque à universidade pública é uma obra que pode ser assinada em conjunto pelos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. O golpe parlamentar de 2016 derrubou a presidenta eleita Dilma Rousseff. O Legislativo tratou de aprovar cortes orçamentários e mudanças na Constituição, como a PEC 241, que congelou os investimentos em educação. Coube ao Poder Judiciário e à Polícia Federal continuar esse desmonte no segundo semestre deste ano.
Não é exagero dizer que as prisões de dois reitores de universidades federais, em Minas Gerais e Santa Catarina, seguem a cartilha da operação Lava Jato. Ambas foram abordagens cinematográficas, com ampla repercussão midiática e nenhum respeito pela chamada autonomia universitária.
No caso da operação Ouvidos Moucos, em Florianópolis, as coincidências vão além. A delegada Érika Marena, que mandou prender o então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier, trabalhou mais de um ano na Lava Jato e era muito próxima de Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa em Curitiba. Cancellier cometeu suicídio, tamanha humilhação que sofreu naqueles dias.
A expressão “lavajatismo” começa a se tornar sinônimo de um Estado autoritário e policialesco. Os alvos dessa cruzada estão cada vez mais claros, e também não é difícil entender quem sai ganhando.
O desmonte da universidade pública, assim como a maior parte das decisões tomadas no âmbito da Lava Jato, agrada o capital estrangeiro. Afinal, atende a uma orientação recente do Banco Mundial para os países em desenvolvimento – na semana passada, a instituição financeira publicou mais um relatório recomendando o fim da gratuidade no ensino superior.
Ou o país se propõe a frear o lavajatismo, ou o ensino público sofrerá uma trágica destruição, como aquela que acabou com parte significativa da produção industrial brasileira e deixou milhões de desempregados.
O Judiciário precisa olhar para dentro, e não para fora do Brasil. Acabar com a gratuidade nas universidades federais não é democratizar o ensino público, mas sim, devolvê-lo a quem sempre encarou o Estado e a educação como privilégio dos mais ricos. Tudo em nome do pretenso combate à corrupção, com as bênçãos da mídia corporativa e do capital financeiro.
Edição: Camila Maciel