Indígenas do Santuário dos Pajés, localizado em Brasília, estão somando forças com voluntários para reflorestar, neste final de semana, uma área desmatada há quinze dias durante uma ação da Novacap, empresa de obras do Governo do Distrito Federal (GDF). Um mutirão solidário pretende plantar, num quadrilátero de 1,5 hectare, 850 mudas doadas pelo Jardim Botânico de Brasília.
Segundo o voluntário Rodrigo Duarte, a ideia é não só contribuir para o equilíbrio do meio ambiente local, mas também fortalecer a luta da comunidade pela preservação da área e pelo reconhecimento do Santuário como terra indígena, uma disputa que se arrasta na Justiça desde 2003.
"Dar valor à cultura indígena é dar valor a esta terra. Essa aqui é uma luta primordial. Ela ensina muito a outras lutas", considera.
Rodrigo vive em Nitéroi, no Rio de Janeiro, mas está em Brasília desde o último dia 6, quando soube do desmatamento ocorrido no Santuário.
Ele se mudou temporariamente para contribuir com a proteção do território e tem dormido todos os dias em uma barraca de lona junto com os outros voluntários. A tenda tem servido como ponto de patrulhamento para que o grupo monitore, em parceria com membros da comunidade, possíveis novas ameaças ao Santuário. Para Rodrigo, a iniciativa está relacionada também às vantagens que a natureza tem a oferecer.
"É a forma que a gente tem de combater a prática do inimigo, que são as empreiteiras, e uma forma de se conectar com essa terra. É uma luta que abraça tudo, abraça todos, a terra e nós mesmos, porque nós somos a terra também", diz.
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O local reúne três etnias, com cerca de 150 pessoas, ao todo. Alvo constante da especulação imobiliária, o Santuário resiste à ação de construtoras que avançam sobre o território para expandir um bairro de alto padrão que tem o metro quadrado mais caro da cidade, avaliado em mais de R$ 9 mil. Para a representante do Santuário, Márcia Guajajara, a atuação dos voluntários no replantio de mudas não só colabora com o equilíbrio do meio ambiente local como contribui para o reconhecimento da área.
"Pra nós, é muito importante a parceria dos apoiadores. Eles estão aqui porque acreditam na nossa cultura e na nossa existência como povos indígenas", destaca.
O filho dela, Fêtxá Guajajara, de 18 anos, estava no local quando a área foi desmatada por funcionários do governo. Ele considera que o mutirão ecológico está em sintonia com os princípios indígenas, que têm a terra como bem soberano.
"É uma ancestralidade muito forte nossa com a natureza. No dia em que eu vi o trator passando, eu senti como se fosse em mim. Senti uma dor e fiquei com vontade chorar. Fiquei em pânico em ver, literalmente, a minha vida acabando", desabafa.
O estudante secundarista Marlon Augusto chegou a dormir no Santuário por 12 dias seguidos após o desmatamento para colaborar com a proteção da área. De volta esta semana para participar do mutirão, ele conta que o contato com a comunidade e com a natureza superam o desconforto causado pela barraca improvisada e pela chuva que tem caído diariamente.
"A causa é muito maior. E, desde quando eu cheguei aqui, tive um crescimento muito grande, tanto pessoal como espiritual", narra.
O mutirão teve início nessa sexta-feira (15) e se encerra neste sábado (16), no fim do dia.
Edição: Vanessa Martina Silva