Opiniões afiadas e argumentos elaborados marcaram a passagem do senador Roberto Requião (PMDB-PR) como o entrevistado desta semana do programa EntreVistas, da TVT. Durante quase uma hora, o ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná abordou criticamente alguns temas importantes e polêmicos da atualidade do país: avanços e abusos da Operação Lava Jato, perseguição política ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desmonte do Estado social, ataque à soberania nacional, domínio do liberalismo econômico e influência dos Estados Unidos no Brasil, entre outros temas.
Requião iniciou a conversa afirmando ser “claro” que o ex-presidente Lula está sendo vítima de abusos de autoridade por parte do Judiciário e do Ministério Público desde a polêmica condução coercitiva, determinada pelo juiz Sergio Moro, em março de 2016. Como exemplo, citou a diferença da investigação “dura” a respeito dos “pedalinhos da Dona Marisa” e do apartamento no Guarujá, em contraposição ao silêncio diante da “entrega do pré-sal” e do projeto de lei que exime as petroleiras estrangeiras de pagar impostos até 2040.
“Só na comparação, na questão do equilíbrio destes dois processos, e tudo sem nenhuma preocupação do Ministério Público, do Judiciário e suas associações. Então, há um biombo colocado em cima desse processo para tirar o Lula da disputa eleitoral”, afirmou o senador. Para ele, o ex-presidente petista é o único candidato, dentro de um processo democrático, capaz de interromper a liquidação do Estado social e a liberalização sem regulações da economia, que fracassou na Europa e agora avança no Brasil.
“É um projeto neoliberal moribundo que pede asilo no Brasil, e encontra asilo por parte de um grupo de políticos envolvidos profundamente em processos de corrupção e que, para defenderem sua liberdade, estão entregando o país. É o liberalismo acabando com o Estado social brasileiro”, analisou Requião, ressalvando ser legítimo haver investigação tanto sobre Lula como qualquer outra pessoa.
Judiciário politizado
Lembrando conhecer Moro há bastante tempo, o senador disse que o juiz foi tomado por um ódio pessoal contra Lula, somado a um “amor desmedido” pelos Estados Unidos, combinado com a “captura pela vaidade”. “À medida que ele toma determinadas atitudes, ele é gratificado pela mídia, pelo poder econômico e, notadamente, pelos Estados Unidos.”
Requião vê o Judiciário, o Ministério Público e até mesmo a Polícia Federal, “cooptados ideologicamente” pelo capital financeiro nacional e internacional. Como exemplo, o senador citou a grande quantidade de cursos em universidades americanas e fundações alemãs realizados por membros destas instituições. “A 'cabeça foi feita' e passou a ser instrumento do sucesso a adesão às ideias liberais”, destaca.
Sem meias palavras, Roberto Requião define o procurador e coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, como um “religioso batista fanatizado” e “ideologicamente fanatizado”. “Como é possível que aqueles que enxergam tanto, não enxerguem que o Estado social está sendo destruído?”, questionou. Segundo o senador, os membros da Lava Jato fazem sucesso por não estarem conectados aos problemas do país. “Eles estão tão desligados dos problemas do Brasil e da vida cotidiana do povo quanto os ricos”, afirmou.
Durante a entrevista, o ex-governador paranaense disse haver, na Lava Jato, a predominância de uma narrativa que pretende transformar todo político nacionalista e progressista em bandido – destacando, entretanto, que sua opinião não exime a existência de políticos progressistas envolvidos em “ilícitos”, mas que a operação estabeleceu um alvo, ao mesmo tempo em que dava “cobertura ao processo de desnacionalização do país, o fim do Estado social”.
Capital financeiro
Ao analisar o avanço do liberalismo econômico no Brasil e no mundo, Requião define tal processo ancorado em um tripé: precarização do Estado, com a supervalorização do capital financeiro por meio do poder dos bancos centrais; precarização do Parlamento, com o financiamento privado de campanhas; e precarização do trabalho e fim da Previdência Social pública.
“O Estado vira um ‘gendarme’, um Estado policial para reprimir a insatisfação de populações oprimidas”, explicou. “O mundo está precisando de uma mudança, e a mudança não é essa da adoção do liberalismo econômico que fracassou na Europa de forma absoluta.”
Com participação do cientista político Pedro Fassoni, da vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE) Jessy Dayane, e do comentarista político José Lopez Feijóo, o senador Requião ainda abordou a crise nas universidades públicas, as “reformas” da Previdência e a trabalhista e a democratização da mídia, além de defender um referendo revogatório para a população decidir o futuro do país.
Assista à primeira parte do programa:
Edição: Rede Brasil Atual