Já são mais de 65% em aumento acumulados, um após o outro.
Eu me formei em medicina em Recife há quase oito anos. De lá para cá, apesar de exercer também outros ofícios, como o de professor, tenho exercido cotidianamente o meu papel como Médico de Família. E como tal, me agrada particularmente o contato direto com as pessoas dentro de suas realidades. Boa parte das vezes dentro das casas delas, correlacionando sempre as situações clínicas com as suas moradias, condições socioeconômicas, modos de ver a vida.
Fiz esta breve introdução para dizer que nestes quase oito anos de trabalho como médico, já atendi muita gente e vi muitas realidades. E nas visitas médicas, mesmo nas mais humildes habitações, me acostumei a encontrar um mínimo de condições de sobrevivência. Cito como exemplo a disponibilidade de energia elétrica para o dia-a-dia.
Citei a energia elétrica por sua significância e amplitude, mas o que me motivou a escrever esta coluna é a observância de um outro elemento até então visto com mais força apenas nos livros: falo do retorno aos fogões a lenha ou o uso de álcool e gasolina de posto para o preparo de alimentos. E não por gosto, como se diz, mas por conta do preço do gás de cozinha. Desde agosto de 2017, já são mais de 65% em aumento acumulados, um após o outro. E desta maneira, muitas famílias vão perdendo as condições de continuar usando o gás para cozinhar.
E junto a este hábito, aumentam os números de queimados e das doenças respiratórias nas grande emergências e unidades de saúde Brasil afora. É o que já mostram as manchetes, com respaldo na literatura científica.
Tais aumentos decorrem de uma mudança na política: desde 2003 o preço dos botijões menores era preservado, de modo a garantir maior acesso às famílias mais pobres. Porém agora não existe mais esta preocupação. Certamente não deve faltar gás para cozinhar na casa de Michel Temer ou na de Fernando Coelho Filho, Ministro de Minas e Energia do atual governo federal.
Até quando estes senhores seguirão acabando com os direitos e com a saúde do povo brasileiro? 2018 será um ano decisivo. Os ataques seguirão, mas o povo tem dado manifestações concretas que não deixará barato. O país pegará fogo, mas desta vez, como metáfora para o povo nas ruas brigando, resistindo e garantindo mais dignidade. Retrocessos jamais!
Edição: Monyse Ravena