Não é recente conflito entre a família dona da empresa italiana Benetton e a comunidade mapuche, na região patagônica da Argentina. Historicamente, os mapuches foram vítimas do genocídio causado pela colonização espanhola e agora sofrem com a falta de reconhecimento, a violência do Estado e a expropriação de terras.
No começo da década de 1990, a família Benetton comprou a Companhia Terras do Sul da Argentina (CTSA), o que gerou uma alteração sem precedentes na vida da população rural que vivia e trabalhava na região, entre as províncias de Chubut, Río Negro e Neuquén. Atualmente, a Benetton é a maior latifundiária da Argentina e domina praticamente todo o território da região patagônica, através do controle das terras e da mineração.
Na seguinte crônica, através de histórias de três mulheres da comunidade mapuche, são revelados os conflitos e os danos causados pelo império Benetton na região e, sobretudo, a história de resistência dos mapuches em defesa dos territórios e da vida.
Nação Mapuche: nascer, estudar e morrer nas terras da Benetton
Em um mundo de proprietários, quando a violência eclode nos territórios, ela também atinge o corpo de seus habitantes, principalmente o das mulheres. Guillermina, Helena e Mónica são três mulheres que não se conhecem, mas suas histórias de vida estão entrelaçadas, atravessadas pela crueldade, pelo medo e pela desigualdade que habitam a província de Chubut, um território indígena apropriado pelo magnata italiano Benetton, dono de 900.000 hectares na Patagônia.
Benetton possui 356 mil hectares em Chubut. Por esses hectares, não paga nada ao governo da província. Desde 2004, através de diferentes instrumentos administrativos, a empresa foi isentada de pagar o imposto imobiliário rural, alegando prioridades ambientais e climáticas. Desde 2016, essa isenção existe por uma decisão política do governo da província, já que não existe lei ou decreto que a justifique.
Aos 12 anos, Guillermina Meli Ramírez escutava seus vizinhos da comunidade El Mirador, em Cushamen, na província de Chubut, um território formado por comunidades de povos originários, repetirem: “Perón fez com que nos tornássemos gente”. Naquele momento, ao final da década de 1940, Guillermina não sabia quem era Perón, nem porque ele era importante. Para ela, que trabalhava de sol a sol desde os 9 anos, não existia folga, nem local de trabalho digno, alimentação saudável ou uniforme de trabalho, assistência médica ou férias remuneradas. O Estatuto do Peão, sancionado pelo Secretário de Trabalho e Assistência Social do governo peronista, não tinha chegado nem para ela nem para os seus nove irmãos.
Seu primeiro emprego foi na Escola número 9, hoje número 137, onde lavava, em pleno inverno, a roupa da família do diretor da escola e de toda a família no rio Chubut.
Em 1960, Guillermina passou a trabalhar como doméstica em uma das fazendas de grande extensão. Essa fazenda tinha um dono: a Companhia Terras do Sul Argentino (CTSA). Os territórios apropriados pelo Estado durante a chamada “Conquista do Deserto”, encabeçada por Julio Argentino Roca entre 1878 e 1855 foram entregues gratuitamente a onze “funcionários laranja” da companhia de capitais ingleses The Argentine Southern Land Company Limited. Cada um pediu 80 mil hectares de terras ao Escritório de Terras e Colônias e a concessão foi realizada de acordo com a Lei Avellaneda [como é conhecida a Lei de Imigração e Colonização Nº 817, de 1876, que oferecia terras do país para atrair a imigração], sob a condição de subdividir a empresa e entregá-la a diferentes colonos. A empresa britânica nunca cumpriu essas obrigações, como detalha o historiador Ramón Minieri no seu livro “Ajeno Sur” [Esse alheio Sul].
Em 1974, as terras da Companhia foram compradas por Menéndez Hume, Ochoa y Paz Repetto e, em 1982, durante a Guerra das Malvinas, a empresa mudou seu nome para Companhia Terras do Sul Argentino.
Guillermina: as tristes histórias de uma mãe
Guillermina estava na mãos dos ingleses. Trabalhava como empregada doméstica na fazenda El Maitén, uma das propriedades da CTSA. Era quase uma escrava. Não podia tirar nunca o uniforme, não tinha horário de entrada nem de saída. Todos os meses recebia seu salário em mãos e nunca teve nenhum tipo de contribuição para aposentadoria ou previdência social.
Além dos sofrimentos no trabalho, Guillermina convivia com problemas familiares. Vários entre os seus nove seus irmãos tinham sido assassinados. A morte mais dolorosa foi a do seu irmão gêmeo. A família nunca soube quem o matou nem porquê.
Guillermina conheceu seu marido, Luis Millán, que fazia bicos no campo, com quem se casou e teve quatro filhos, e passou a viver com o marido na fazenda. Ele tinha conseguido trabalho como ferroviário do trem La Trochita e eles puderam se estabelecer ali e começaram a se estabelecer financeiramente. Em 1970, nasceram os filhos do casal, os gêmeos Moira e Mauro. Os pequenos que perambulavam pela fazenda, mais tarde se tornaram símbolos da luta do povo mapuche. Nem nos seus melhores sonhos, Guillermina poderia imaginar que seus filhos se transformariam em lutadores contra os opressores que pertenciam à mesma linhagem daqueles que foram seus patrões.
Durante o início da juventude, Mauro e Moira fundaram a Organização Mapuche Tehuelche 11 de Outubro, em referência à data de resistência dos povos originários, que antecede a colonização espanhola. Nessa organização, os irmãos militaram durante vários anos.
Guillermina acompanhou os filhos durante a primeira recuperação de território que Mauro e Moira organizaram contra a Benetton. Ela sempre lhes contava sua experiência de ter trabalhado para a Companhia e sabia o que significava ter a Benetton e seu gigantesco latifúndio como um vizinho indesejado. Guillermina contava os governadores e comissários costumavam frequentar a Companhia, onde participavam de grandes festas, enquanto ela estava sempre na posição de servidão.
Nessa época, ela já notava o nível de envolvimento entre o poder político, a polícia e os latifundiários.
"Na época em que minha mãe trabalhou para a Companhia, os habitantes locais ainda podiam usufruir de alguns direitos básicos. Por exemplo, podiam ter cavalos para ir de um lugar a outro. Um trabalhador rural podia ter alguns animais no curral, galinhas e uma horta. Agora, com a Benetton na região, isso é impossível", descreve Mauro Millán à LATFEM (jornal feminista argentino).
Guillermina faleceu em 2002, aos 67 anos de idade. Sofria de osteoporose e reumatismo. Seu filho Mauro não tem dúvidas de que a doença da sua mãe foi uma consequência daquilo que sofreu na infância e na juventude. Guilhermina não morreu triste, morreu orgulhosa da luta de seus filhos, que foi também a sua luta e de seus antepassados. Os restos mortais de Guillermina descansam hoje no território que a Organização Mapuche Tehuelche recuperou na comunidade de Corcovado, na província de Chubut.
Helena: o temido senhor Cáceres
Helena nasceu em uma casa de barro e ervas, rodeada de batatas, cebolas, trigo, alfafa e algumas poucas ovelhas e bois. Não tinha hospital. Ela, uma das filhas mais velhas, cresceu junto com os seus nove irmãos no pequeno campo de Paraje de la Blancura, em Cushamen, também em Chubut, escutando histórias do seu pai sobre um árabe que era chamado de "Senhor El Khazen" [Heikel El Khazen, imigrante árabe, comerciante e proprietário de terras da região].
No silêncio rodeado por montanhas, Helena imagina aquele homem poderoso como o próprio diabo. Como os relatos eram transmitidos oralmente, "El Khazen" se transformou, por aproximação fonética, em "Cáceres” e assim era chamado o homem que tinha sido dono do único comércio de alimentos que existia naquela região, mais precisamente na comunidade de Leleque, em Cushamen, a 180 km de Bariloche. "Cáceres" era um personagem temido, conhecido por enganar y tirar proveito da população vulnerável e analfabeta de sangue mapuche, que se apropriava das suas casas e terras.
Seu pai não cansava de contar quais eram as artimanhas do senhor Cáceres. Dizia que ele oferecia trabalho durante a época da tosquia e pagava com "vícios", como eram chamadosos produtos básicos para a vida diária, como o mate, o açúcar, o sal, o vinho. Para isso, era preciso buscar as mercadorias durante a madrugada, cruzando o rio por três horas, até chegar esgotado no comércio monopólico de Cáceres.
Tudo isso se passou anos 1960, e os trabalhadores, a cada final de ano, os trabalhadores estavam no vermelho, enquanto El Khazen sempre estava com um saldo positivo. Ele fazia os trabalhadores, muitos analfabetos e ingênuos, assinarem uns papéis, decretava "embargos" e se apropriava de suas casas e terras. Essas terras, anos depois, terminariam nas mãos da família Benetton.
No entanto, a história de Helena sofreu uma surpreendente reviravolta. O Senhor "Cáceres" não tinha conseguido roubar nem a casa nem as terras do seu pai José, que sabia ler e era bastante desconfiado (ele se gabava disso em seus relatos), tinha conseguido salvar o que era seu.
Então a pequena Helena cresceu com um único objetivo: tinha que aprender a ler e escrever e, sobretudo, a desconfiar.
Quando Helena completou dez anos, teve que começar a trabalhar. Fazia a limpeza e ajudava nas tarefas de cozinha nas fazendas de Leleque. A vida era muito difícil, ela levantava todos os dias às quatro e meia da manhã e seguia trabalhando até meio dia e meia. Depois, ia para a casa, onde ajudava no cultivo e cuidava dos animais.
Todas as noites, quando sua casa era invadida pelo silêncio e tinha que dormir, Helena repetia, como um mantra, que tinha que aprender a ler e escrever, ainda que para isso lhe faltasse muito tempo. Quando fez 19 anos, ela deixou de ser analfabeta graças aos ensinamentos dos integrantes da Igreja Evangélica de Esquel, igreja que ainda frequenta.
Quando adolescente, Helena foi testemunha de algo que se repetiria muitas vezes alguns anos depois. A polícia local expulsou seu tio à força do lugar no qual vivia. E ela não entendia o porquê.
Das histórias como a do seu tio, escutou muitas outras diariamente. Há pouco aconteceu o mesmo com o seu primo, que trabalhava como peão para a Benetton. Uma noite, às três da manhã, um grupo de encapuzados o atacou, o amarrou e amarrou toda a sua família. Ele nunca soube quem foi. Mas aconteceu mais uma coisa que Helena não consegue tirar da cabeça. Segundo o seu primo, os trabalhadores das fazendas devem ir trabalhar armados e recebem ordens para atirar contra todos aqueles que ultrapassem a cerca, que queiram entrar ou se aproximem. Seu primo não aguentou a situação e foi embora do povoado assustado, sem nenhum dinheiro, sem nada.
Os anos noventa representaram uma ruptura no mapa de propriedade de terras do país quando a família Benetton comprou a Companhia de Terras do Sul da Argentina (CTSA), um marco na acumulação do território e de riquezas, sem precedentes na história. O voraz empreendimento da família italiana começou como um estabelecimento agropecuário e passou a expandir seus horizontes rapidamente, com o florestamento e, posteriormente, avançou na exploração de ouro e prata, somando-se à empresa mineira Sud Argentina SA, em 2003.
Hoje, Helena tem quase 50 anos e trabalha como empregada doméstica para uma família de Esque [cidade do noroeste de Chubut]. Ela sempre volta ao seu local de nascimento. Até alguns meses atrás, com a ajuda do seu filho, foi até o local e conseguiu terminar de colocar as cercas que delimitam seu território. Helena ficou esgotada, mas com a sensação de missão cumprida. Sua família é uma das poucas que têm título de propriedade e assim ela acredita ter conseguido proteger aquilo que futuramente pertencerá aos seus filhos.
Todas as vezes que volta ao terreno, ela se depara com uma situação muito diferente do que a de sua infância. Agora praticamente tudo pertence à Benetton. Ela ainda se lembra de quando os habitantes mapuches tinham fácil acesso à área, os animais cruzavam a cordilheira e tudo era um campo aberto. Hoje, os donos das grandes extensões de terra fecharam tudo com cadeados e não há passagens. Ficou apenas um beco pelo qual passa Helena quando vai até lá. As poucas famílias que ainda vivem ali, umas dez apenas, vivem encerradas.
Muitos continuam trabalhando para Benetton porque não têm outra opção. Helena sabe muito bem disso. Eles têm que trabalhar como peões porque é o único que sabem fazer. É como se para eles o tempo não tivesse passado. Seus outro primos, como seu pai outrora, seguem trabalhando para Companhia, veem pouco suas famílias, batalham como podem pela própria sobrevivência, acostumados a obedecer as normas dos poderosos. Mas um medo eterno acompanha-os, um medo profundo, quase ontológico, que Helena começa a romper lentamente: o medo de falar.
Hoje em dia, a Benetton continua se beneficiando do perdão do imposto imobiliário adquirido em 2004, renovado ano após ano, por meio de uma norma cuja documentação que indique os motivos ou os fundamentos concretos de tamanho benefício seja conhecida.
Mónica: a escola em Benetton
Na comunidade de Leleque, há mais de 60 anos, está a Escola 90. Fundada em 1956, está localizada no interior da Fazenda Leleque, atual propriedade da família Benetton. Para chegar à escola a partir de Esquel, é preciso atravessar 90 quilômetros ao norte pela rodovia nacional e entrar à direita por um caminho de pedras e percorrer mais uns 10 quilômetros no interior da fazenda. Nas laterais do caminho, ovelhas pastam em um pasto verde que é interrompido somente por árvores altíssimas que cumprem a função de frear os fortes ventos da Patagônia. Primeiro é preciso cruzar as vias do trem La Trochita, para depois chegar ao museu Leleque, que conta com peças arqueológicas do povo tehuelche. Posteriormente, encontra-se um conjunto de casarões, onde está localizada a administração da Companhia de Terras do Sul Argentino, propriedade dos irmãos Benetton.
No final do caminho, está a escola, uma casa baixa de paredes grossas que ainda conserva sua fachada original. Por trás do caminho, o governo da província construiu um salão para diferentes usos, no qual são realizados os eventos escolares. Na parte de dentro, as janelas parecem quadros pintados: é possível ver ao longe as montanhas nevadas da pré-cordilheira, a paisagem verde e as árvores agitadas pelo vento.
Ali Mónica, a cozinheira da escola, trabalhou durante mais de 15 anos. Ela conhece cada canto desse imenso território porque viveu durante 42 anos na fazenda, já que seu pai trabalhou para a Companhia.
A escola possui um hectare de terreno, que pertence ao governo da província. Foi instalada ali para os filhos dos trabalhadores da ferrovia, pois a uns 100 metros da escola estava instalada a Estação Leleque. Para chegar à escola é preciso atravessar o conjunto de propriedades da principal fazenda dos Benetton: a fazenda Leleque. "Os terrenos da escola são próprios", conta Maria, com certo orgulho, vislumbrando a necessidade que esse hectare não pertence à Companhia. Ela foi diretora da escola durante os primeiros anos de 2000.
A escola estava organizada em duas divisões: primeiro, segundo, terceiro e quarto ano na mesma classe com um professor; quinto, sexto e sétimo em outra classe, com o diretor da escola. Na verdade, as duas classes eram uma só, mas os professores fizeram uma adaptação para dividi-la com tapumes de madeira e, assim, poder dar aula para as duas turmas no mesmo dia.
A jornada de trabalho começava às 8 da manhã. A primeira coisa que Mónica e a porteira faziam era cortar lenha para acender os aquecedores e os fogões. Depois, começavam a preparar o café da manhã, que era servido às 10 da manhã. Por último, preparavam e serviam o almoço. Depois de almoçar, ao meio-dia, os alunos voltavam para suas as casas.
Nessa época, ainda não havia fiação na escola, nem tampouco gás, por isso o governo da província fornecia lenha para aquecer as salas de aula e o fogão. "Fazíamos de tudo na cozinha: torta de batatas, almôndegas, até enrolado de carne! Tudo com a carne que fornecia a Companhia", conta.
Atualmente, a Companhia de Terras do Sul Argentino possui um viveiro com 94 mil ovelhas distribuídas em quatro comunidades da região patagônica: Leleque, Maitén e Montoso, na província de Chubut, e Pilcaniyeu, na província de Rio Negro. As quatro fazendas abrangem 356.000 hectares, dos 924.000 que a Benetton possui em todo o país.
Isso representa 1,58% da superfície total da provincia de Chubut. Ainda que inicialmente a Benetton fosse um estabelecimento agropecuário, em 1992, a empresa ampliou os seus horizontes, passou a atuar na área de florestamento e, quatro anos depois, passou a explorar jazidas de ouro e prata, através da empresa Sud Argentina S.A.
A relação da escola N° 90 com a Companhia teve seus altos e baixos. Inicialmente, havia uma relação de cordialidade, principalmente com o gerente geral e o encarregado, que administravam as fazendas. O cenário mudou com a venda da Companhia à Benetton e a chegada do novo gerente geral, Ronald Mc Donald. Ainda que seja tentador associá-lo à rede de hambúrgueres, é necessário esclarecer que, segundo suas próprias declarações, ele é argentino, neto de escoceses. Assim como os gerentes anteriores, Mackinnon e Weaver, Ronald Mc Donald enviou seus filhos à escola.
A primeira coisa que a nova administração da fazenda tentou fazer foi fechar o caminho de entrada da escola, com o argumento de que não permitiriam a entrada pessoas alheias à propriedade. O problema é que a rodovia estadual N°15 é o único acesso que a escola tem e, por isso, a diretora teve que negociar com o governo da província para impedir que o caminho fosse fechado. Diante do fracasso da tentativa, a empresa abandonou o caminho.
"O caminho entre a entrada da fazenda e a escola era muito feio, cheio de barro, quando chovia, não passava carro nem nada. Pedimos à empresa que tapasse os buracos com as suas máquinas, que nós pagaríamos a gasolina, tudo. Mas eles nunca quiseram", conta Mónica. No final das contas, o governo da província melhorou o caminho.
A Companhia definiu historicamente o traçado de rotas, caminhos e vias-férreas através da conivência de um Estado nacional débil com a sua inicial burocracia administrativa do final do século XIX, com fontes de informação escassas e precários instrumentos de medição na época. Diante desse cenário, a Companhia soube aproveitar a superioridade tecnológica e informativa que trazia da Europa, para se beneficiar das melhores terras da Patagônia e do transporte ferroviário até o porto, traçado de um modo que passasse por cada uma das suas fazendas. Esse contexto histórico ajuda a entender a solicitação da escola rural para que a empresa colaborasse com a melhora do caminho.
Atualmente, a relação da escola com a Companhia é de interdependência e a escola se transformou no local de encontro de toda a comunidade de Leleque. Diariamente, passam por ali estudantes da comunidade, que vivem nas casas da velha estação de trem, que trabalham na fazenda, e também os habitantes da comunidade de Vuelta del Río, formada por famílias indígenas assentadas a 20 quilômetros da escola.
Todos os alunos atualmente tem origem tehuelche-mapuche. Os 23 alunos estão divididos entre a educação básica e o ensino fundamental. A atual diretora lamenta que, com o conflito de terras, 4 alunos deixaram de frequentar a escola. Apesar disso, afirma que a escola que segue cumprindo a sua tarefa de formar os estudantes como sempre.
Após 128 anos desde a sua criação, a Companhia faz parte da memória dos habitantes locais. Todos conviveram com ela, alguns internamente, através dos primeiros empregos na empresa, convivendo com familiares com empregos na fazenda ou dando aulas para os filhos dos trabalhadores na única instituição estadual que existe em Leleque: a escola 90. Outros conviveram com ela indiretamente, suportando a imposição violenta dos limites da propriedade dos Benetton, questionável em sua própria história, através da aquisição das terras da Companhia, ainda em disputa com os povos originários destes territórios.
*Ana Belén Marrello, Flavia Frejman y María Laura Da Silva são formadas em Jornalismo investigativo da Universidade Metropolitana para a Educação e o Trabalho (UMET).
Edição: Simone Freire | Tradução: Luiza Mançano