Em 2013, o catarinense Jaime Spengler tornou-se o arcebispo mais jovem do país ao assumir, aos 53 anos, a Arquidiocese de Porto Alegre. Nos últimos quatro anos, Dom Jaime Spengler vem exercendo suas atividades religiosas como arcebispo sem deixar de se manifestar sobre a situação pela qual passa o Brasil. No último dia 25 de dezembro, Dom Jaime criticou as declarações feitas na noite anterior, na mensagem de Natal de Michel Temer, falando que a vida do povo estava mais barata. “Quem diz que a vida está mais barata não vive a realidade do nosso povo”, afirmou o arcebispo em entrevista à rádio Gaúcha.
No dia 12 de dezembro, Dom Jaime Spengler enviou uma mensagem ao Ato Em Defesa da Soberania e do Patrimônio Nacional, realizado na Assembleia Legislativa, criticando a “dilapidação do patrimônio nacional” e a “entrega das riquezas naturais à exploração desenfreada de empresas multinacionais, que olham para nossos bens naturais apenas com o olhar da ganância e da avareza”. E, no dia 26 de abril deste ano, divulgou nota apoiando as paralisações da greve geral convocada por centrais sindicais e movimentos sociais contras as reformas da Previdência e Trabalhista.
Em entrevista ao Sul21, o arcebispo de Porto Alegre fala sobre a conjuntura nacional e sobre os desafios colocados para a Igreja Católica no atual cenário. Para ele, há duas coisas centrais faltando no país: discernimento e um projeto de nação. “Há décadas ouvimos que o bolo precisa crescer para depois ser repartido. No entanto, há anos, acompanhamos a realidade da pobreza e da miséria que só crescem. A repartição do bolo sempre fica pra depois. Hoje, no Brasil, temos uma porcentagem muito pequena da população concentrando a maior parte da riqueza em suas mãos. Quando esse bolo será repartido? – questiona Dom Jaime Spengler.
Sul21: Nos últimos meses, o senhor fez várias declarações sobre questões relacionadas à conjuntura política e social do país. Na mais recente delas, o senhor criticou a mensagem de Natal de Michel Temer, onde este afirma que está mais barato viver no Brasil. Qual sua avaliação sobre a situação que o país está vivendo?
Dom Jaime Spengler: Creio que estamos vivendo um momento muito complexo da história do Brasil. Há sinais de uma crise muito forte que marca a vida das instituições e do nosso povo. O que vemos e testemunhamos no nosso cotidiano é a realidade dura e difícil do nosso povo, a realidade do desemprego, da violência e de serviços básicos que não satisfazem as reais necessidades da maioria da população.
Na tradição cristã existe um princípio que eu creio deva ser aplicado ao momento que estamos vivendo. É aquilo que normalmente se chama de discernimento. Segundo a tradição cristã, o discernimento pressupõe três coisas. Em primeiro lugar, a compreensão e o estudo das questões que estão em jogo. A segunda é rezar essa realidade. Essa dimensão para nós, cristãos, é fundamental. E a terceira é a disposição para o diálogo. Por meio do estudo pormenorizado do que está diante de nós, do saber rezar essa realidade e do diálogo podemos desenvolver a capacidade de discernimento. Talvez o que mais precisamos hoje, diante da situação nacional – e eu diria também eclesial – é esse caminho que o discernimento nos propõe.
Sul21: O senhor usou a expressão “rezar essa realidade”. A ideia da oração é normalmente associada a uma atividade voltada para o interior de cada pessoa. O que significa exatamente “rezar a realidade”?
Dom Jaime Spengler: A oração sempre expressa aquilo que vivemos, seja interiormente ou exteriormente. A fé não é algo simplesmente privativo. Ela toca, sim, a vida privada, mas ela também deve repercutir a realidade vivida na sociedade. Eu sou membro de uma sociedade e é nela que, cada um de nós, é chamado a testemunhar aquilo que acredita. É neste contexto social e histórico que vivemos, que cada batizado é chamado a ser sal da terra, luz do mundo, fermento na massa, isto é, agentes de transformação dessa realidade para melhor. A oração é um meio privilegiado para encontrarmos indicações para a superação de realidades que precisam ser superadas. Hoje nós vivemos uma crise grande também de vida espiritual. Nos tornamos pragmáticos demais, o que tem lá sua necessidade, mas não podemos jamais a dimensão contemplativa da vida.
Sul21: Nós últimos anos temos assistido no Brasil, e no mundo de forma geral, ao crescimento de uma cultura do ódio, da intolerância e da violência, que se manifesta muito hoje nas redes sociais e também na vida cotidiana. Como o senhor analisa esse fenômeno?
Dom Jaime Spengler: Essa polarização vem sendo construída há décadas. O discurso do nós e eles, nós e os outros. Isso foi fomentando aos poucos, no interior da sociedade, essa polarização que vemos diante de nós hoje e que dificulta qualquer possibilidade de diálogo entre os diversos setores que compõem essa sociedade. Somente a construção de espaços de diálogo entre pessoas verdadeiramente interessadas em cooperar para deixar a nossa realidade um pouco melhor para os que virão depois de nós pode trazer mais vida para a nossa gente. A polarização não ajuda e hoje isso está muito acirrado entre nós. Não é “culpa” do momento atual que estamos vivendo, mas a expressão de uma situação vem sendo alimentada há anos.
Como fazer para superar essa situação? Somente pessoas dispostas a se reunirem ao redor da mesa e dialogar a respeito de temas comuns, dispostas verdadeiramente a colaborar de alguma forma para construir a possibilidade de dias melhores para o nosso povo.
Sul21: Há quem ainda pense que a igreja não deveria se envolver com estes problemas sociais e políticos, limitando a sua atividade ao plano espiritual. Aqui na América Latina, a Igreja Católica tem uma tradição de atuação social muito forte. Como o senhor vê o papel da igreja diante dessa realidade conflituosa que estamos vivendo?
Dom Jaime Spengler: Creio que podemos partir daquela expressão no Evangelho, onde Jesus diz: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”. Onde a vida é ferida, desconsiderada e machucada nós não podemos permanecer indiferentes. Como testemunha de uma experiência de fé diante dessas realidades, a Igreja não pode não se posicionar. A Igreja jamais vai seguir uma linha partidária. Ela sempre procura acompanhar a realidade na sua complexidade. Não se trata de apoiar uma ideologia, um partido ou coisa que o valha.
Olhando para a realidade brasileira hoje, creio que é possível dizer que nos falta um projeto de nação. Temos mais de três dezenas de partidos políticos com projetos nem sempre claros e objetivos. A construção de um projeto de nação, no contexto desta complexidade, é um desafio enorme. Somente homens e mulheres – os jovens, em particular – guiados por princípios autenticamente republicanos, desejosos de cooperar para a transformação dessa realidade para melhor é que podem representar uma presença distinta no atual contexto.
Sul21: O Papa Francisco, desde o início de seu papado, vem provocando uma verdadeira revolução dentro e fora da Igreja Católica, com posições muito eloqüentes e críticas ao próprio sistema capitalista, como aparece exemplarmente na encíclica Laudato Si. Nos últimos dias, foram publicadas algumas reportagens na imprensa mundial tratando da resistência de setores mais conservadores que ele vem enfrentando dentro da própria Igreja por conta de suas ideias. Como avalia o impacto dessa atuação do Papa Francisco até aqui?
Dom Jaime Spengler: Primeiro, gostaria de fazer uma observação sobre a nossa realidade econômica. Há décadas ouvimos que o bolo precisa crescer para depois ser repartido. No entanto, há anos, acompanhamos a realidade da pobreza e da miséria que só crescem. A repartição do bolo sempre fica pra depois. Hoje, no Brasil, temos uma porcentagem muito pequena da população concentrando a maior parte da riqueza em suas mãos. Enquanto isso, a grande maioria do nosso povo luta e trabalha duro para garantir o pão de cada dia de forma honesta. Quando esse bolo será repartido? Estamos entre as dez maiores economia do mundo, mas a qualidade de vida e o nível de distribuição de renda no Brasil parece não avançar. Há anos ouvimos falar da necessidade de reformas que não avançam. Agora estamos vendo aí essas reformas trabalhista e da Previdência que, são necessárias mas precisam de um amplo espaço de debate com a sociedade, o que, me parece, não está acontecendo.
Quanto às notícias que aparecem sobre as resistências a ideias do Papa, queria observar primeiro que a Igreja é uma instituição com dois mil anos de história e tem um modo de proceder que nem sempre acompanha o nosso modo de pensar usual. Mudanças sempre são difíceis e isso é assim nas nossas vidas também. Elas sempre nos desafiam e isso acontece também na Igreja. A figura do Papa Francisco está nos desafiando a todos. Ele tem repetido com insistência o desejo de uma Igreja despojada, mas simples, pobre, cuidando e promovendo vida. Lembro aqui a expressão “hospitais de campanha” que faz parte da história. Nós precisamos de hospitais de campanha porque a situação de milhões de pessoas no mundo inteiro é preocupante.
Há alguns dias estávamos falando da realidade das migrações. A mensagem de Natal e a mensagem que o Papa escreveu para o dia 1o. de janeiro tocaram de novo nesta questão. São milhões de pessoas que estão girando o mundo procurando um lugar para viver dignamente. Só isto. Um local onde possam trabalhar e viver com dignidade. Não tenho bem presentes as cifras agora, mas se fala de 250 milhões de pessoas que vagam buscando uma terra melhor para viver. Temos conflitos na África, no Iêmen, Iraque, Oriente Médio, Ucrânia e outras regiões empurram milhões de pessoas a procurar outro espaço para viver em paz. Hoje, me parece que a voz do Papa e da Igreja é a única que tem uma posição muito clara e se manifesta publicamente.
Pouco ouvimos falar dessas situações, mesmo aqui no Brasil. Temos agora, por exemplo, a realidade dos venezuelanos que estão chegando ao país pelo Amazonas, Roraima e outras regiões. Temos grupos indígenas inteiros que estão abandonados nas periferias de Manaus, vivendo sabe lá Deus como. Pouco sabemos sobre isso.
A palavra do Papa é simples e direta. O texto da Laudato Si encanta pela simplicidade da linguagem, sem desconsiderar a cientificidade dos dados. A proposta que ele apresenta não é estranha à tradição cristã. Muito pelo contrário.
A obra do cuidado sempre se fez necessária. Se hoje a situação climática do mundo chegou ao ponto que chegou é porque, em algum momento da história, essa obra do cuidado diminuiu. Creio que existe hoje uma preocupação comum com o futuro do planeta. Que planeta as futuras gerações irão encontrar? Há quem diga que, se vier a acontecer um conflito mundial, a motivação desse conflito seja a questão da água. Alguns conflitos no Oriente Médio têm, sim, questões culturais e históricas muito fortes, mas também estão relacionados ao tema do acesso à água.
Sul21: Em que medida esses apelos do Papa Francisco por uma Igreja mais despojada e simples vem impactando o funcionamento cotidiano da instituição?
Dom Jaime Spengler: Creio que, nos últimos 50 anos, a Igreja no Brasil sempre tem se posicionado de uma forma muito clara e objetiva em defesa dos menos favorecidos. A Igreja tem sido uma voz dos que, muitas vezes, não têm voz na sociedade. Temos, por exemplo, uma realidade desafiadora relacionada à questão dos povos indígenas, mesmo aqui no Rio Grande do Sul, onde temos acampamentos ao longo das estradas. Não são poucos. A Igreja também sempre teve uma posição muito crítica a respeito de muitas decisões políticas e econômicas dos nossos governos. Ela sempre vai se colocar do lado dos mais fracos. No fundo, o que nos guia, como eu dizia no início dessa conversa, é que todos tenham vida e vida em abundância. Onde esta vida é afrontada e desconsiderada, a Igreja não pode se calar.
É claro que as posições do Papa Francisco têm nos impulsionado de uma forma ainda mais vigorosa a ir ao encontro destas situações. Existe uma passagem na história antiga da Igreja, onde um padre dos primeiros séculos dessa história foi preso. Quem o prendeu, pediu a ele onde estavam os tesouros da Igreja. Isso é fácil, respondeu. Ele chamou os pobres e disse: aqui está o tesouro da Igreja. E continua sendo assim. Não pode ser diferente.
Algumas atitudes do Papa tiveram uma grande impacto na imprensa laica. Um exemplo disso foi quando ele mandou construir no Vaticano uma lavanderia com secadoras para que os moradores de rua e pessoas mais pobres pudessem lavar e secar suas roupas. Do mesmo modo, mandou construir uma barbearia onde pudessem fazer a barba e cortar o cabelo. São gestos simples que impactam. O Evangelho sempre vai impactar, sempre vai ser pedra de tropeço no modo usual e comum de pensar. Ele tem uma conotação profética e o profetismo incomoda. Neste sentido, poderíamos dizer: ai de nós, se não incomodarmos!
Sul21: Em que medida as palavras e atos do Papa Francisco atualizam a agenda da Teologia da Libertação, movimento que surgiu com grande força na America Latina?
Dom Jaime Spengler: Ficou uma marca na história da America Latina, sem dúvida. O Evangelho não pode ser não libertador. Ele liberta. Talvez tenha ficado uma marca ideológica demais da Teologia da Libertação. Houve alguns exageros. Jamais podemos perder de vista aquilo que, a partir da dinâmica da fé, é fundamental para nós: o Evangelho de Jesus Cristo, a dimensão da oração e a realidade da vida do nosso povo. Precisamos trabalhar para aproximar sempre mais o Evangelho da vida do povo a fim de que possamos ter mais vida.
Neste empenho, as partes envolvidas não podem deixar de serem sustentadas pela oração, pela mística. Talvez aqui tenha havido um descuido de algumas expressões daquilo que usualmente se chama Teologia da Libertação. O grito de dor que vinha de tantas expressões do nosso povo pobre fez com que muitos esquecessem da dimensão da mística e da oração. A dinâmica da libertação não é simplesmente uma questão econômica. Ela envolve também a libertação do mal e o mal está presente no mundo. Nós só podemos afrontar o mal, segundo a expressão do Evangelho, com oração e jejum. Sem a dimensão da oração não se resiste neste trabalho contra o mal.
Sul21: Nas últimas décadas, houve um grande crescimento de igrejas evangélicas, pentecostais e de outras denominações, que estão espalhadas hoje por toda a América Latina, com uma forte presença nas periferias das grandes e médias cidades. A Igreja Católica perdeu muito espaço para essas igrejas. Na sua avaliação, a Igreja Católica tem conseguido recuperar um pouco desse espaço perdido?
Dom Jaime Spengler: Há diferentes níveis envolvidos neste tema. Temos a tradição protestante de um lado, com luteranos, anglicanos, etc. Depois, temos as igrejas pentecostais e as que se dizem igrejas neopetencostais. Aqui temos uma variedade e uma complexidade enormes. Eu não tenho dúvida de que muitos são orientados por um desejo real de levar uma palavra de fé, esperança e libertação ao povo. A dimensão religiosa é parte integrante da estrutura do ser humano. Todos nós sentimos necessidade de transcendência, que pode se manifestar de diferentes formas. Certamente, muitas dessas expressões religiosas buscam ir ao encontro dessa necessidade humana. Se todas elas são orientadas por princípios autenticamente evangélicos é éticos, é outra questão.
Creio que nós, católicos, somos desafiados hoje por duas situações que exigem de nós uma posição quanto ao modo de apresentar a mensagem. Muitas vezes, temos uma tendência muito forte de falar para nós mesmos. Temos dificuldade de dialogar com a sociedade em geral. Isso tem sido motivo de debates e estudos dentro da Igreja. Um segundo desafio que está latente é a transmissão da fé às novas gerações. O catecismo, como tal, tem sua razão de ser. Eu fui catequizado com aquele catecismo de perguntas e respostas, que atendeu à necessidade de uma época. Hoje, me parece que isso não satisfaz mais. A questão da fé repousa na experiência do encontro com a pessoa de Jesus Cristo. Quando sou encontrado, por assim dizer, e me deixo encontrar. É esta experiência que transforma a minha vida, o meu modo de viver e de conviver. Não se trata, simplesmente, de transmitir doutrina. A doutrina é importante, mas, sem uma experiência de fé autêntica, você pode ser adepto de um credo mas não é discípulo.
O Papa convocou um Sínodo em Roma, para 2018, reunindo bispos do mundo inteiro, outras expressões religiosas e, sobretudo, representantes da juventude para debater a situação dos jovens no momento histórico em que vivemos e a questão da fé entre a juventude.
Sul21: A Igreja Católica parece ter perdido espaço junto à juventude nas últimas décadas. O senhor não acha que uma das razões dessa perda de espaço é a permanência de posições muito conservadoras, por parte da Igreja, em temas que fazem parte da realidade cotidiana da juventude, como homossexualismo, drogas e outras questões? Há um diagnóstico interno de que é preciso atualizar as posições da Igreja sobre temas como estes?
Dom Jaime Spengler: Creio que não é uma questão de atualização, mas sim de responder aquilo que é a proposta do Evangelho. A Igreja não pode ir contra aquilo que é a sua referência maior, a sua razão de ser. Essas situações que você levanta certamente precisam, sim, de uma resposta. Mas não há respostas fáceis aqui. Essas questões exigem respostas que desafiam muito a todos nós. Existe uma grande polêmica, por exemplo, sobre os casais de segunda ou terceira união. O documento que o Papa lançou tem sido motivo de grande desavença e polêmica, internamente, no seio da Igreja.
Todos nós conhecemos casais que não deram certo pelas situações as mais variadas e buscaram um segundo relacionamento. Alguns, depois de longos anos de busca, vivem de uma forma harmoniosa e quase que exemplar. São casais que buscam viver de forma íntegra a relação a dois. Então, não basta dizer pode ou não pode. Essas situações exigem muito mais de nós. Aqui também é necessário misericórdia e disposição para entender cada uma destas situações. A Igreja está, sim, buscando respostas a estas questões que exigem aquilo que mencionei no início: discernimento. O nosso grande desafio interno é ter a disposição para dialogar e debater esses temas com, como dizia Descartes, ideias claras e distintas, com objetividade, transparência e franqueza.
Sul21: Tivemos um episódio recente aqui em Porto Alegre, que foi o fechamento da exposição Queermuseu no Santander Cultural. As pessoas que tiveram a iniciativa que levou ao fechamento da exposição alegaram, entre outras coisas, que ela feria o Evangelho e a palavra de Deus. O senhor acha que essa exposição era ofensiva ao Evangelho?
Dom Jaime Spengler: Não vou entrar na polêmica sobre se é ofensivo ou não. Nós fizemos uma nota a respeito desse episódio afirmando que, para a comunidade de fé, no nosso ponto de vista cristão e católico, ali existiam alguns elementos que não favorecem a arte como tal.
Sul21: No dia 24 de janeiro, Porto Alegre viverá um momento que promete ser bastante tenso, que é o julgamento em segunda instância do ex-presidente Lula no Tribunal Regional Federal da 4a. Região. Há uma grande mobilização nacional sobre esse dia e espera-se a vinda de milhares de pessoas para Porto Alegre. Como o senhor está acompanhando esse processo, diretamente relacionado às eleições de 2018 e à possibilidade de Lula poder ser candidato ou não?
Dom Jaime Spengler: É uma situação delicada. Certamente, a população pede justiça. O que está em jogo envolve um contexto que estamos acompanhando há anos e que tem a ver com corrupção. A corrupção, independente de partidos ou candidatos, é algo abominável. Ela tira da boca do pobre o pão de cada dia. O que assistimos nos últimos anos acabou nos impactando. Sempre existiu corrupção e certamente sempre haverá corrupção, mas, de modo geral, não tínhamos noção das dimensões desse problema no Brasil. Agora parece que uma mala de dinheiro não é mais nem problema como alguém que não lembro o nome agora andou dizendo…
Sul21: O novo diretor da Polícia Federal…
Dom Jaime Spengler: É. Uma mala não é mais é problema. A gente não sabe mais o que vale e o que não vale. Esse julgamento aqui em Porto Alegre será um pouco paradigmático. Há muita paixão em torno desse julgamento. No entanto, creio que não devemos nos deixar levar pelas paixões. Os fatos têm que ser esclarecidos e a justiça precisa ser feita. Li nos jornais que estão prevendo manifestações e um aparato de segurança extraordinário. Tudo isso é necessário, mas a verdade tem que aparecer neste contexto e também em outros contextos da realidade nacional. O nosso povo espera respostas e posições convincentes também do nosso Judiciário. As paixões políticas e partidárias precisam ser deixadas de lado e que a Justiça seja feita. Não podemos perder a esperança. Gosto de repetir uma expressão que o Papa Francisco usou no encontro da juventude, em 2013, no Rio de Janeiro: “Não podemos permitir que nos roubem a esperança”.
Edição: Sul 21