Coluna

Eleições 2018 e os ladrões de galinha

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Na primeira coluna do ano, Mouzar Benedito lembra que em 2018 tem eleição e que é preciso estar atento aos candidatos
Na primeira coluna do ano, Mouzar Benedito lembra que em 2018 tem eleição e que é preciso estar atento aos candidatos - Arquivo/ABr
Eleger ladrão de galinha? Bem melhor do que os ladrões de mala de R$ 500 mil

2018! Tomara que seja bom a ponto de a gente esquecer um pouco a porcaria que foi 2017.

E no final do ano tem eleição pra presidente, deputados, senadores, governadores.

Quem é que vamos eleger?

Na época da Constituinte, um bando de amigos quis que eu me candidatasse a deputado. Nós discutíamos muito sobre política, tínhamos muitas propostas para algum parlamentar do nosso lado que fosse participar da criação da nova Constituição do Brasil, e esses amigos acharam que eu é que devia levar essas propostas lá.

Não aceitei. Sabia que tinha pouca chance de ser eleito e também não tenho vocação para a coisa. 

Argumentei que não sabia o que seria pior: perder a eleição ou ganhar e ter que conviver com um pessoal que me dá nojo, no Congresso. Ser parlamentar exige isso, cordialidade no trato com essa turma para aprovar qualquer coisa. 

Insistiram e entrei com outro argumento: quando não é do agrado dos poderosos, o político sofre muitas perseguições. 

E brinquei:

— Já imaginou a imprensa vasculhando a minha vida? Iam descobrir que, quando era criança, eu roubava jabuticaba no quintal dos vizinhos, e já adolescente andei roubando frango para cozinhar num boteco.

Era hábito da juventude da minha terra roubar frangos e a gente mesmo cozinhar num bar, bebendo até de madrugada. Todo mundo sabia, até o promotor de Justiça participava de “ceias”, fingindo não saber a origem das aves.

E eu fiz isso também.

Pouco antes da meia-noite, depois de tomar umas cachaças para rebater o frio, a gente saía em duplas à procura de galinheiros ou quintais onde se criavam frangos. 

Num período de escassez, mudou-se para a cidade um roceiro que trouxe com ele um montão de frangos, e eles ficavam soltos num quintal muito grande. Tornou-se o alvo preferido da turma. 

Um dia ele saiu pela cidade avisando que tinha comprado uma espingarda e que mandaria bala em quem fosse roubar frango em sua horta.

Esperava desencorajar o pessoal. 

No dia seguinte, um vizinho lhe perguntou:

— E aí, seu Ângelo, suas ameaças deram certo?

Ele fez uma cara triste e respondeu:

— Nada... Esta noite levaram até o rei do terreiro.

Me contaram depois que deu um trabalho danado pra cozinhar o galo dele, quer dizer, “rei do terreiro”.

Pois é... Roubar frango, que crime!

Será que vão ser eleitos alguns ladrões de galinha? Bem melhor do que os que fazem mutreta em troca de malas com R$ 500 mil. E a Justiça... Bom, que Justiça?

Edição: Camila Maciel