Negociação

Oposição venezuelana não quer adiantar eleições presidenciais, diz Maduro

Durante os diálogos de paz, o governo da Venezuela propôs adiantar eleições para resolver impasse político no país

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
A oposição e o governo venezuelano voltaram a sentar na mesa de negociações na República Dominicana na última semana
A oposição e o governo venezuelano voltaram a sentar na mesa de negociações na República Dominicana na última semana - Divulgação

Depois de meses de protestos realizados pelos partidos de oposição ao governo venezuelano, no último ano, líderes opositores mudam de ideia e recusam a proposta de adiantar as eleições presidenciais. A afirmação foi feita pelo presidente do país, Nicolás Maduro, que alegou que tal decisão poderia gerar um clima de instabilidade política na Venezuela. "Não queremos que a oposição se retire do cenário eleitoral. Faço um chamado à Venezuela e à comunidade internacional, pois tenho informações, de uma fonte segura, de que a oposição está tramando para se retirar das eleições de 2018", declarou.

Segundo o calendário oficial, o pleito seria realizado em dezembro. No entanto, a proposta do governo é adiantar as eleições para o primeiro semestre de 2018, com o objetivo de resolver nas urnas o impasse político.

Desde dezembro de 2017, o calendário eleitoral é um dos pontos de negociação entre governo e oposição durante o processo de diálogos de paz, que acontece na República Dominicana. Foram realizadas três rodadas, sendo a última delas nos dias 11 e 12 de janeiro deste ano.

Nessa segunda-feira (15), Maduro falou sobre os diálogos de paz durante a prestação de contas de seu governo diante da Assembleia Nacional Constituinte. "Já existe um acordo sobre os sete pontos que estão sobre a mesa de negociação. Os sete pontos já estavam redigidos, mas a oposição, que havia dito 'sim' para o acordo, recebeu ligações, na sexta-feira à noite, de Washington, Bogotá e Madri [cidades que representam a oposição em seus países ao governo de Maduro] e voltaram atrás. Definam-se. Vão participar ou não das eleições presidenciais?", cobrou o presidente venezuelano.

Maduro declarou também que está empenhado em zelar pelas garantias democráticas do processo eleitoral. "Vamos trabalhar para que haja uma eleição participativa, exemplar e extremamente limpa", ressaltou.

Além disso, ele convocou a oposição a participar do processo. "Quero que este ano tenha eleições presidenciais, como terá, e que a oposição e todas as forças políticas participem do processo eleitoral. Quero medir força nas urnas e que o povo venezuelano possa escolher qual é o projeto de país que ele quer. Mas, como vocês sabem, a oposição saiu correndo depois da derrota eleitoral de 15 de outubro de 2017 para governadores", afirmou.

Oposição se reorganiza

O Brasil de Fato entrou em  contato com a assessoria de imprensa da Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalizão que reúne os partidos opositores, sobre as declarações de Maduro. Em resposta, a MUD disse que não há uma posição definida sobre o adiantamento das eleições e que, agora, as eleições primárias internas são a prioridade, já que elas vão escolher o candidato único da oposição para a disputa presidencial.

A MUD informou ainda que os partidos já estão inscrevendo seus candidatos e que entre eles está Henry Ramos Allup (presidente do partido Ação Democrática), que já havia anunciado publicamente sua candidatura. Além disso, segundo a assessoria da MUD, existe uma mobilização política para que o empresário Lorenzo Mendoza também se candidate à Presidência da República. Mendoza é um dos homens mais ricos da Venezuela, proprietário da cervejaria Polar e da maior distribuidora privada de alimentos do país.

Sobre os diálogos de paz, a MUD divulgou um comunicado no qual informa que vai seguir dialogando com o governo venezuelano até encontrar uma solução pacífica. "Estamos trabalhando para construir o melhor acordo, que não defina vencidos e vencedores, mas que seja capaz de construir um lastro para tirar o país da crise".

O comunicado também respondeu às críticas internas de partidos radicais de direita e da comunidade internacional que não apoiam o fato de os líderes opositores terem aceitado dialogar e encontrar uma saída negociada. "Aqueles que pensam que sabem quais são os melhores caminhos para resolver os problemas da Venezuela, que não se detenham por nossa causa. Desenvolvam suas políticas e conquistem suas adesões", sentenciou o informe enviado à imprensa.

Na próxima quinta-feira (18), oposição e governo vão sentar uma vez mais na mesa de diálogo, mas, dessa vez, para tentar chegar a um acordo final sobre os sete pontos que foram previamente definidos entre as partes.

Entre os pontos reivindicados pelo governo estão o reconhecimento da Assembleia Nacional Constituinte, o fim do bloqueio econômico contra a Venezuela e a aceitação dos resultados eleitorais. Já a oposição pede a liberação de militantes partidários que foram presos em protestos violentos contra o governo, a realização de eleições presidenciais transparentes e seguras com observadores internacionais, abertura de um canal humanitário e o fim da medida jurídica contra a Assembleia Nacional.

Edição: Vivian Fernandes