As estações de metrô da cidade de São Paulo se encontram parcialmente fechadas ou esvaziadas desde a manhã desta quinta-feira (18), devido à greve dos metroviários, que lutam contra a concessão de duas linhas do Metrô à iniciativa privada. A paralisação parcial das linhas já afeta 4 milhões de usuários na cidade.
A assistente de atendimento Gabriele Rodrigues, que viajava nos trechos abertos da Linha 2-Verde, se atrasou para o trabalho, localizado próximo à estação Brigadeiro, na Avenida Paulista. No entanto, ela opina que mesmo com o trajeto prejudicado, apoia o movimento dos metroviários.
"Fiquei sabendo ontem da greve, mas só tenho esse caminho para fazer, então tivemos que dar uma volta. Estou aceitando, é um direito deles e nosso também, a gente dá um jeito", afirmou.
De acordo com o coordenador-geral do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Alex Fernandes, a paralisação está com adesão grande da categoria e sendo apoiada por grande parte da população.
"Estamos recebendo muito apoio, muita gente está preocupada com essa possibilidade do metrô ser de fato privatizado pelo governo do Estado. Nossa ideia é continuar a greve até o final da noite e pressionar para que não haja o leilão programado para a privatização do metrô porque entendemos que é parte dessa corrupção sobre trilhos no estado de São Paulo", afirmou.
Privatização
O leilão das linhas 5-Lilás e 17-Ouro do Metrô acontecerá nesta sexta-feira (19) e pretende passar para a iniciativa privada a administração e manutenção dos dois trechos pelos próximos 20 anos. A linha 5-Lilás (Capão Redondo-Chácara Klabin) está em operação e nove estações devem ser inauguradas neste ano. Já a linha 17-Ouro (monotrilho) ainda está em obras.
O Sindicato dos Metroviários fará também uma manifestação nesta sexta, em frente à Bolsa de Valores de são Paulo, região central, contra a concessão das linhas. De acordo com Fernandes, caso o processo continue, os metroviários seguirão com mais dias de greve.
De acordo com o coordenador, a privatização das linhas configura uma entrega de obras públicas para empresas parceiras do governo, uma forma de garantir apoio neste ano eleitoral.
Tarifa
"Se o Metrô for entregue para a iniciativa privada, com certeza o primeiro ataque vai ser no valor da tarifa, porque o empresário quer lucro. Na linha amarela, que é privatizada, o usuário paga a mesma tarifa, mas o estado subsidia 20 centavos. Então lá a tarifa custa R$4,20. Uma vez que todas as linhas forem privatizadas, com certeza a tarifa vai para mais de R$4,00. No Rio de Janeiro, onde o Metrô é privatizado, a tarifa total custa R$5,10 [Parte é subsidiada pelo Estado]", explicou.
Fernandes acrescenta ainda que o recente aumento de 20 centavos no valor da tarifa em São Paulo já faz parte desse projeto de privatização. Ele destaca que a entrega da Linha-5, construída com dinheiro estatal, será feita por um valor irrisório.
"Ela vale R$ 10 bilhões e vai ser entregue por R$ 189 milhões. Então fica nítido a promiscuidade que é esse processo de entrega", destacou.
A usuária do metrô e designer de produtos Kalinka Lemes, que esperava um carro pelo aplicativo Uber na saída da Estação Marechal Deodoro, parte da linha 3-Vermelha, conta que o alto valor da passagem está a prejudicando. Kalinka mora na Zona Leste e trabalha na última estação da Linha, a Palmeiras-Barra Funda, que se encontra fechada durante todo o dia.
"Eu entro às 7h30 no trabalho, estou três horas atrasada. Sei que estão parados por conta da privatização que o Alckmin quer fazer, acho que tem que fazer greve mesmo, e ver o que dá.Esse aumento da passagem está me prejudicando muito, porque eu não ganho vale transporte", disse.
Já a pensionista Nelice de Oliveira não estava preparada para a paralisação na manhã desta quinta-feira. Ela saiu de sua casa no Tatuapé, zona leste de São Paulo, para um compromisso na zona norte, onde todas as estações do Metrô permanecem fechadas. Mesmo assim, ela não estava incomodada.
"Não sabia da greve, fui deitar cedo, acordei na rotina, cheguei lá no Tatuapé e estava fechado. Daí vim de trem, pela Luz, depois Consolação. Ficou um caminho maior, mas deu pra chegar. Esse aumento é absurdo, eu não pago mais condução mas minha família toda paga, então está complicado", disse.
O Sindicato dos Metroviários denuncia também que o funcionamento parcial do Metrô nesta quinta-feira vem sendo realizado de forma precária, com supervisores que não operam trens há muito tempo, e sem treinamento adequado. Na opinião de Fernandes, isso pode colocar em risco os usuários do transporte.
Em nota, o Metrô de São Paulo chamou as acusações do Sindicato de "levianas", e esclareceu que a concessão será realizada apenas nas duas linhas já indicadas.
Serviço
Estão em operação no momento as seguintes linhas do Metrô:
Linha 1-Azul: Trecho entre Saúde e Luz;
Linha 2-Verde: Trecho entre Ana Rosa e Vila Madalena;
Linha 3-Vermelha: Trecho entre Tatuapé e Marechal Deodoro;
Linha 5-Lilás: Trecho entre Capão Redondo e Adofo Pinheiro;
Linha 15-Prata: Permanece paralisada.
Linha 4-Amarela e CPTM em operação normal.
Atualizado: 11h25
Edição: Simone Freire