A União Nacional dos Estudantes (UNE) transferiu, pela segunda vez na história, sua sede para a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, nesta segunda-feira (22). A ação temporária é uma demonstração de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que será julgado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), nesta quarta-feira (24).
Legalidade
A defesa da democracia também foi o motivo da primeira transferência da sede da organização, em 1961. Na época, foi construída a Campanha da Legalidade contra a pressão política que ameaçava a posse do presidente João Goulart, o Jango, após a renúncia do presidente Jânio Quadros. Liderado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, a campanha foi um movimento pelo direito da posse de Jango, considerado uma “ameaça esquerdista” por parte da elite brasileira.
Jango foi deposto pelos militares três anos depois, com o golpe que deu início à ditadura no país. De acordo com a atual presidenta da UNE, Marianna Dias, a semelhança entre os dois episódios motivou a ação da organização estudantil na tarde de hoje.
“Assim como no início da década de 1960, nós estamos defendendo a democracia, a legalidade, e permitindo que tenhamos a Constituição respeitada. Porque em 1961 disseram que Jango não deveria assumir a Presidência, perante uma Constituição que garantia que isso deveria acontecer. Agora a Constituição diz que nenhum brasileiro pode ser condenado sem provas. Então tem muitas semelhanças, mas o central para nós é a defesa da democracia e das eleições diretas para o país”, afirmou.
Movimento estudantil
Além da UNE, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas também transferiu sua sede para Porto Alegre. Um ato realizado na sede do DCE, o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, marcou o início do movimento em defesa de Lula. O evento contou com a presença de ex-presidentes da UNE, como Aldo Arantes, que estava à frente da entidade em 1961, e parabenizou os estudantes pela decisão.
"A UNE tem que se caracterizar por um papel de combatividade e coragem. O simbolismo representa que não vamos aceitar que impeçam a candidatura do Lula, porque isso seria mais um golpe. Esse julgamento marcará a história brasileira. Se Lula for condenado, vai ter luta. Se Lula for absolvido, vai ter luta. A juventude é o fermento de mobilização da sociedade”, disse.
O simbolismo da ação da organização estudantil também foi lembrado pelo senador Lindbergh Farias (PT), que participou da grande marcha da Via Campesina em Porto Alegre na manhã desta segunda-feira.
"As mesmas elites que queriam impedir um presidente com um projeto popular de assumir a presidência agora fazem o mesmo. É uma nova Campanha da Legalidade, daqui de Porto Alegre vamos incendiar esse país”, reiterou.
A Campanha da Legalidade, em 1961, resistiu por 14 dias, por meio do auxílio de uma Brigada Militar, armada por Brizola. Na época, foram distribuídas armas para a população resistir, enquanto o ex-governador, exilado nos porões do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, falava ao povo por meio da Rádio Guaíba, em um movimento chamado de Rede da Legalidade. Brizola convocou a população e milhares de pessoas foram às ruas pela posse de Jango.
De volta à 2018, dezenas de milhares de pessoas já se manifestam em Porto Alegre em defesa da possibilidade de Lula se candidatar às eleições presidenciais deste ano. Confira a cobertura minuto-a-minuto completa realizada pelos correspondentes do Brasil de Fato.
Edição: Vanessa Martina Silva