Pés no asfalto, palavras de ordem no ar: cem mil saem as ruas contra o regime militar no Brasil.
Punhos negros erguidos no alto: atletas olímpicos protestam por direitos civis e pelo fim da segregação racial nos Estados Unidos.
Paus, pedras, fogo e rebeldia: surgem as barricadas de estudantes e trabalhadores em Paris.
O que esses acontecimentos tem em comum? Todos foram em 1968. Do Japão ao México, de Paris ao Brasil, dos Estados Unidos ao leste europeu, eles e elas só queriam uma coisa: mudar o mundo! Numa escala global, em vários países surgiram movimentos de contestação a ordem vigente.
O ano rebelde irrompeu num mundo autoritário e conservador. O contexto era a Guerra Fria (1945-1991), os blocos capitalista e socialista disputavam a hegemonia mundial sob forte ameaça de um confronto nuclear.
Nesse cenário a juventude ocupava ruas, praças e universidades, enfrentando a violência policial com paus, pedras e utopias. Cresciam as reivindicações contra o patriarcado, machismo, racismo, perseguição a população LGBT, contra a guerra imperialista e regimes estatais repressores.
Ao mesmo tempo, apareciam comportamentos transgressores, roupas e sons irreverentes. Frente ao conservadorismo, a juventude clamava por liberdade, negando valores submetidos a lógica do capital.
No Brasil, a efervescência desse ano se expressou na luta contra a ditadura militar, vigente desde 1964. Mesmo sob forte repressão, o movimento estudantil e parte dos trabalhadores urbanos conseguiram se reorganizar e protagonizar embates importantes como a Passeata dos Cem Mil, o 30º Congresso da UNE e as surpreendentes greves de Contagem e Osasco.
Não é à toa que passados 50 anos, ressurge a importância de se revisitar o legado desse ano incendiário. Por um lado, pela atualidade de suas reivindicações num mundo que ainda está careta demais, por outro, o muito que ainda se tem por fazer.
Chegamos em 2018 com o motor neoliberal do capitalismo reduzindo ideais a mercadorias coloridas e descoladas. É preciso continuar a luta, desvelando as estruturas que mantém e reproduzem esse sistema opressor e ilusório. A resistência permanece combativa. No porão de alguma fábrica, numa redação de jornal, nas ruas e caravanas continuam se traçando planos de revolta.
Dora é Professora de História na rede municipal de João Pessoa e militante da Consulta Popular.
Edição: Monyse Ravena