Estavam todos os representantes do governo venezuelano reunidos na República Dominicana, "prontos para assinar um acordo definitivo de convivência e paz com a oposição", conforme afirmou o ministro de Comunicação da Venezuela, Jorge Rodríguez, chefe da comitiva governamental. Porém, diferente do esperado, nenhum documento foi assinado esta semana.
Na última jornada de negociações, na sexta-feira (2), as duas delegações haviam definido que voltariam à República Dominicana somente para assinar o acordo final. Portanto, quando as partes anunciaram a viagem, a expectativa aumentou no país e na comunidade internacional. Foi nesse clima que o ministro venezuelano Jorge Rodrígues disse, na tarde de terça-feira, ao chegar na República Dominicana, que depois de estar "até altas horas da noite [de segunda] dialogando com a oposição, chegamos a 100% de acordo. Hoje teremos firma em prol da paz da Venezuela".
No entanto, pouco tempo depois, o líder da comitiva opositora, o deputado Julio Borges, do partido Primeiro Justiça, declarou que "não há acordo". "Ainda falta definir alguns pontos que ficaram em aberto na semana passada", disse o dirigente à imprensa, já na ilha caribenha.
A razão da contradição entre o ministro e o deputado foi revelada pelo presidente da República Dominicana, Danilo Medina, em uma entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (7), em seu país.
Medina disse que as partes haviam chegado a um acordo, ainda que em temas polêmicos. "Uma das principais críticas da oposição era sobre a data da eleições. O governo queria que fosse no dia 8 de março; a oposição 10 de julho. [As partes] foram cedendo e chegaram a um consenso de que seria no dia 22 de abril", relatou o presidente dominicano.
Mesmo depois de chegarem à definição, "a oposição não entendeu que era obrigada a assinar esse acordo ontem [terça] e pediu tempo para ver o documento que havia sido trabalhado entre as partes", disse Medina.
O governo venezuelano, contudo, entendeu que esse era o prazo limite para a assinatura do documento final. "A delegação do governo não pode ficar [na República Dominicana] para esperar a reunião da oposição, pois tinham eventos políticos a serem realizados na Venezuela. Se retiraram na noite de terça-feira”, contou o mandatário caribenho.
Rompimento
Depois disso, os opositores entregaram outro documento, uma nova proposta de acordo, ao presidente dominicano, que remeterá o texto para o governo da Venezuela. Porém, a notícia de um novo documento não foi bem recebida pela outra parte da negociação. "Em consulta ao governo venezuelano, o presidente Nicolás Maduro disse que só firmará o documento de ontem [original], que se havia trabalhado entre as partes. De qualquer maneira, nós enviaremos ao governo o documento que a oposição nos entregou. Mas não devemos esperar uma resposta".
Segundo o ex-presidente espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, também mediador da negociação, o acordo final original foi redigido por ele e Danilo Medina, em conjunto com os chanceleres dos países mediadores, entre eles Bolívia, Nicarágua, São Vicente e Granadinas, México e Chile.
Apesar da atitude da oposição e de sua mudança de postura, Danilo Medina disse que o presidente venezuelano está disposto a cumprir tudo o que foi discutido e acordado previamente com os opositores.
"O presidente Maduro expressou seu desejo de seguir dialogando, inclusive, me disse que está disposto a honrar todos os pontos acordados pelo governo até a terça-feira, ainda que sem a assinatura da oposição", revelou Medina.
Por sua parte, a oposição também teria manifestado desejo de seguir dialogando, conforme contou o mandatário da República Dominicana. Entretanto, a partir de agora, o diálogo entre a oposição e o governo venezuelano entra um “processo indefinido”, sugere Medina.
Em declarações feitas na tarde desta quarta, Maduro disse que continua acreditando na negociação. "O diálogo é o único caminho para a paz. Estou disposto a seguir conversando com a oposição, quando rompam as amarras com o império”, afirmou o mandatário venezuelano. O presidente confirmou que o governo venezuelano vai cumprir sua parte em todos os pontos acordados com a oposição. "Quero dizer que tenho aqui o acordo. Pedi ao ministro Jorge Rodríguez que o publique de forma imediata. Vou assinar e vamos cumprir os pontos estabelecidos", disse Maduro durante o evento de lançamento do novo partido Somos Venezuela
Matéria atualizada às 21h18 (hora de Brasília)
Edição: Vivian Fernandes