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Chico Buarque e o carnaval na visão das novas gerações

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Os sambas de Chico Buarque marcaram gerações.
Os sambas de Chico Buarque marcaram gerações. - Reprodução
Há anos, em todo Carnaval eu me lembro de Chico Buarque de Hollanda

Há anos, em todo Carnaval eu me lembro de Chico Buarque de Hollanda... 
Nunca conversei com ele, nem mesmo o entrevistei como jornalista. Mas fez parte da vida de toda a minha geração. Era um amigo íntimo de todos nós de esquerda, mesmo que nunca o tenhamos visto de perto.

Cada música que lançava, era uma resposta “nossa” à ditadura. A gente vibrava como se fosse nossa mesmo. Era um tapa na cara dos ditadores.

Para contar um episódio que se segue, é preciso lembrar que os vestibulares eram específicos para cada curso, não havia isso de primeira opção Medicina, segunda opção Economia e terceira Agronomia. 
Fazia-se vestibular para um determinado curso, e ponto final. E os vestibulares eram nos próprios prédios onde os que passavam iriam estudar.

Então, no prédio de Geografia e História da USP, fazia-se vestibulares para Geografia e História. E os veteranos iam lá dar apoio aos vestibulandos.
No início de 1969 ou 70, cheguei lá numa manhã de sábado, para participar dessa recepção aos vestibulandos, e vi um amontoado de gente em frente à biblioteca de História. Eram vestibulandos. Muitos.

Perguntei o que eles estavam fazendo ali, e me mostraram, através do vidro que separa a biblioteca do pátio, um monte de vestibulandos em mesas da biblioteca. O detalhe era o professor que tomava conta daqueles vestibulandos, Sérgio Buarque de Hollanda, autor de alguns clássicos dos livros de História do Brasil. Mas não estavam ali pra ver essa celebridade:

— É o pai do Chico — disse uma menina que olhava o homem com admiração estampada no rosto.
Saí rindo. Sérgio Buarque de Hollanda, um dos maiores pensadores brasileiros, havia virado “o pai do Chico”. 

Mas o que tem isso a ver com o Carnaval?

É que num Carnaval dos meados dos anos 1990 eu acompanhava pela televisão uns flashes da festa por todo o país. Quando entrou uma repórter direto de Salvador, ao vivo, ao lado de Chico Buarque, e parei pra ver e ouvir, mas ouvi só o início da fala dela:
— Estamos aqui com o sogro de Carlinhos Brown...

Tive que rir. Chico Buarque, um ídolo da minha geração, para aquela nova era apenas sogro do Carlinhos Brown... 

Edição: Camila Salmazio