No amanhecer do dia 8 de março de 2017, mulheres sem-terra lideraram cerca de 600 famílias na ocupação da fazenda Santa Terezinha, propriedade improdutiva do empresário Eike Batista localizada no município de Itatiaiuçu, região metropolitana de Belo Horizonte (MG).
Hoje, o local que se tornou sede do Acampamento Maria da Conceição já se destaca pela produção agroecológica.
Nos 400 hectares, os sem-terra produzem principalmente hortaliças, feijão e milho. A produção é comercializada no Armazém do Campo de Belo Horizonte e em cestas de consumo, além de também ser utilizada para alimentar as próprias famílias do acampamento.
Mirinha Muniz, integrante da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), explica que o cuidado com as águas foi a primeira precaução do movimento ao ocupar a área, por onde passam alguns rios e nascentes da região.
"A primeira preocupação nossa foi com produtos químicos e venenos na lavouras. Então, já no dia que ocupamos tiramos a linha política de ser totalmente agroecológico", pontuou a militante.
Resistência
O acampamento já abriga 700 famílias que produzem na Horta Coletiva e também em seus lotes individuais.
José Teixeira do Nascimento, conhecido como Baiano, vive no local com a esposa e o neto Alan, de 5 anos. Ele conta que, na horta comunitária, agrotóxicos não têm vez: "Nela só tem esterco. Nós colocamos esterco de curral não tem química nenhuma. É uma alimentação saudável, 100% sem agrotóxicos", comemora.
O ex-pedreiro de 54 anos integrou ao movimento no ano passado e afirma que a militância foi um ponto de virada na vida dele. "Eu não tenho palavras porque é um movimento que nos ensina um modo de vida, como é a união, como a gente pode se alimentar e como a gente pode seguir. Para mim, isso é tudo."
Desde que ocuparam o terreno, as famílias foram ameaçadas de despejo por três vezes — o primeiro apenas quatro dias após a ocupação. Hoje, o processo de reintegração de posse está suspenso e o MST negocia a área com a mineradora MMX Mineração e Metálicos.
Visita de Lula
Na manhã desta quarta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi à casa de Baiano em sua visita ao Acampamento Maria da Conceição. Emocionado, o sem-terra afirmou que a presença do ex-presidente pode trazer visibilidade para os problemas locais, como a falta de energia elétrica.
O evento foi organizado pelo MST em conjunto com a Frente Brasil Popular e o coletivo Quem Luta Educa e levou pessoas de diversas regiões do estado para o acampamento em Itatiaiuçu.
Adão Assis Reis, 56 anos, aguardou a chegada de Lula no Acampamento Maria da Conceição com uma caneta nas mãos. “Quero um autógrafo dele que é meu padrinho", disse.
Ele viajou por seis horas do Acampamento Sidney Dias, no município de Campo do Meio, sul de Minas Gerais, até a região metropolitana de Belo Horizonte (MG) para participar do ato.
"Ele é o candidato dos pobres. Ele que esteve lá e ajudou os pobres os outros não vi ajuda, só vi atrapalhando, inclusive o que lá está [na Presidência] só está jogando a gente no buraco", diz Reis.
No ato, Lula reiterou o compromisso com a reforma agrária em um futuro governo. O petista aproveita a agenda no estado de Minas Gerais para lançar sua pré-candidatura às eleições presidenciais deste ano.
O ex-presidente criticou a intervenção federal do presidente golpista Michel Temer no estado do Rio de Janeiro, o que ele caracterizou como "política".
"O Exército não é preparado para lidar com o narcotráfico. Temer está encontrando um jeito de ser candidato e quer pegar o público de eleitores de [Jair] Bolsonaro com a pauta da segurança pública", afirmou Lula.
Lula também criticou o projeto de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e afirmou que as intervenções do Exército pela Garantia da Lei de Ordem (GLO) em favelas como a da Maré não atingiram nenhum resultado positivo.
No final do ato, por volta das 12h, Adão comemorava com um sorriso a assinatura que conseguiu de Lula em sua bandeira do MST. O evento reuniu 2 mil pessoas e contou com a participação de políticos, como o governador de Minas Gerais Fernando Pimentel e de dirigentes sindicais, como o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas.
Edição: Camila Salmazio