Usuários que utilizam ônibus em São Paulo temem as alterações que vão acarretar a extinção de 149 linhas e modificações em 186, que passarão a fazer apenas parte do trajeto atual. As mudanças foram anunciadas pela prefeitura no início deste mês.
Passageiros reclamam que não foram devidamente informados. Acreditam que a obrigação de fazer uma ou mais baldeações causará transtornos e aumentará o tempo gasto nas viagens. E consideram a tarifa de R$ 4 incompatível com a queda na renda dos paulistanos e com a má qualidade do sistema.
A gestão do prefeito João Doria (PSDB) argumenta que as mudanças, a partir da nova licitação, têm finalidade de reduzir o tempo circulação e de espera dos coletivos. Serão 963 veículos a menos nas ruas, segundo a prefeitura, que ainda assim prevê o aumento do número de assentos disponíveis. No site da SPTrans, o usuário pode consultar como fica a sua linha.
A linha 4288/10, por exemplo, que parte do Parque Santa Madalena, na zona leste da capital, em direção ao Terminal Parque Dom Pedro II, no centro, terá seu trajeto encurtado até o Terminal Vila Prudente, também na zona leste, onde o passageiro terá de tomar outra linha até a região central.
O eletricista Josué Andrade, que usa a linha todos os dias para ir e voltar do trabalho, ficou surpreso com a alteração: "Ter que baldear vai ser um terror, não só para mim, mas para todos os usuários. Acredito que não vai ser viável para ninguém. Vamos ter que procurar alternativas. A falta de informação está pegando a gente de surpresa. Tô sabendo disso agora."
O motorista desempregado Lucrécio Sena calcula que as baldeações vão complicar a vida dos usuários. "Eles falam que vai diminuir o tempo, mas e o tempo que a gente espera no ponto? Espera esse, aí vai ter que esperar o próximo. Fica complicado."
O cobrador Pedro, que trabalha em uma das linhas que operam no Terminal Bandeira, no Centro, conta que de cada 10 passageiros, nove estão reclamando das mudanças que vêm por aí. "Tô ouvindo falarem muito mal. As pessoas não vão aceitar a baldeação."
O terapeuta de animais David Almeida, que mora na zona norte, vai ao centro três vezes por semana para fazer academia, que fica próxima ao Terminal Correio. Se a linha passar a fazer a última parada no Terminal Parque Dom Pedro II – como aparece no projeto –, ele terá que fazer baldeação na Rua do Gasômetro para completar o atual trajeto, de acordo com a sugestão da São Paulo Transporte (SPTrans), que gerencia o sistema na capital.
"Gasto mais ou menos uns 45 minutos. Agora, vai passar de uma hora fácil. Vou ter que ir até o Parque Dom Pedro para vir até aqui. É burrice deles. Palmas para o Doria", critica David. "Não adianta colocar frota nova só para passar na Avenida Paulista e na Faria Lima, e quando vai para a periferia a gente pega ônibus capengando. É sacanagem isso daí."
A dona de casa Erica Costa, moradora do Jardim Jaqueline, na zona oeste, frequenta uma igreja três vezes por semana, na região central. Ela conta que pega o ônibus perto de sua casa. Com a alteração da linha 6250-10, terá que mudar de coletivo em Pinheiros e esperar por outro para chegar até o Brás.
"Hoje gasto duas horas. Com a baldeação vai aumentar. Vou ter que ir até Pinheiros e esperar outro ônibus para chegar até aqui. Vai demorar muito. Se eu pegar aqui, vou sentada, senão, vai enchendo. É só reclamação do povo."
Edição: Rede Brasil Atual